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Esporte paraolímpico grego oferece esperança a refugiados com deficiência

Adrià Esteban/EFE
Imagem: Adrià Esteban/EFE

04/12/2017 06h23

O esporte pode ser uma válvula de escape para aqueles que sofrem com o impacto das guerras, como alguns jovens com deficiência que fogem dos conflitos no Oriente Médio e mantêm um fio de esperança quando chegam à Europa.

O Comitê Paralímpico Grego oferece amparo esportivo para refugiados mediante um programa que ainda pretende expandir aos demais europeus.

Najib viu seu destino mudar quando tinha apenas oito anos de idade. Um míssil caiu em sua frente quando ele pretendia se refugiar de um bombardeio na cidade síria de Homs, onde nasceu. A explosão causou uma lesão na medula espinhal do menino, e o deixou paralítico da cintura para baixo.

"No momento do ataque, eu não estava ciente do que tinha ocorrido porque desmaiei. Mas, quando acordei, percebi que não podia sentir as minhas pernas", relatou Najib, que passou a frequentar diariamente uma clínica de reabilitação nos quatro anos seguintes.

A família decidiu se distanciar do local do ataque, abandonou a Síria e se aventurou rumo à Turquia. "Uma viagem com muitas dificuldades", segundo Najib.

Em terras turcas, a família embarcou em um bote para a Grécia com a esperança de chegar à Europa e solicitar asilo humanitário, que foi concedido no final de 2016.

Justo naquele momento, Vassilis Kalyvas, treinador do Comitê Paralímpico Grego, buscava jovens interessados no projeto de educação paralímpica para refugiados. No esporte, Najib encontrou uma motivação para refazer a vida.

Atenas - Adrià Esteban/EFE - Adrià Esteban/EFE
Imagem: Adrià Esteban/EFE
"Desde o início, tínhamos informação da existência de muitos refugiados que chegavam com deficiências. Não podíamos ficar de braços cruzados, já que, além da atividade esportiva, temos o dever de oferecer ajuda às pessoas que têm problemas", explicou Yorgos Funtulakis, presidente do Comitê Paralímpico Grego.

A iniciativa, que também conta com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e da Fundação Agitos, começou como um programa piloto na região grega de Ática e deu cobertura a 13 atletas no primeiro ano, entre eles Najib.

O jovem sírio participa como corredor de cadeira de rodas em competições nacionais de atletismo. Nesta semana, Najib participará dos Jogos Mundiais de Cadeira de Rodas em Portugal.

"Agora estou muito contente. O esporte é algo que pode me fazer esquecer o sofrimento", comentou o paratleta.

Outro caso similar é o de Wisam, que aos sete anos perdeu os movimentos de uma perna. "Eu sentia febre e o médico me deu uma injeção. Depois de duas horas, não podia andar. O que tinha acontecido? Olhei para o médico e ele me disse que no dia seguinte eu já poderia andar, mas continuei igual", relembrou.

A persistência de Wisam em se exercitar todas as noites trouxe bons resultados. Há quatro meses, esse iraquiano de 27 anos passou a praticar a esgrima em cadeira de rodas. Ele treina três vezes por semana, mas, ao contrário de Najib, não pode competir porque ainda não recebeu o documento de identidade que aguarda há um ano e meio.

"Tenho 150 euros para comer, para ir à escola e para vir ao treino. E não encontro trabalho porque não tenho documento de identidade. Onde está o meu futuro? Eu estava buscando a paz, e a encontrei, mas agora estou buscando o futuro", analisou.

No caso de Rajab, o sonho de ser ginasta parecia ter acabado quando um bombardeio americano o fez perder as duas pernas, quando tinha nove anos.

Dez anos depois, uma célula do grupo jihadista Estado Islâmico se entrincheirou em Al-Qa'im, sua cidade de origem, e ele decidiu deixar para trás a família e viajar para a Europa em busca de tratamento. Um êxodo "cheio de riscos", no qual passou pela ilha de grega de Leros antes de se instalar em um hotel superlotado por refugiados perto da praça de Omonoia, em Atenas.

Lá, entre os voluntários, conheceu um funcionário do Comitê Paralímpico Grego que se interessou por sua situação. Após conhecer as suas motivações, o empregado da entidade colocou Rajab em contato com Ibrahim Al Hussein, que competiu nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, como integrante da delegação de refugiados.

Ibrahim foi a fonte de inspiração de Rajab, quem hoje, aos 22 anos, pratica basquete em cadeira de rodas com a esperança de um dia disputar os Jogos Paralímpicos.

"O esporte é tudo para mim. Graças a ele, fiquei mais forte psicologicamente", descreveu Rajab.