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Há 65 anos, morte de Stalin mexeu com disputa de título no futebol

Kirill Kudryavtsev/ AFP
Imagem: Kirill Kudryavtsev/ AFP

Misha Vignanski.

11/04/2018 06h01

Tbilisi, 11 abr (EFE).- A morte de Josef Stalin, há 65 anos, não teve apenas consequências políticas na União Soviética, mas também mexeu no mundo do futebol, inclusive fazendo com que os torcedores do Dínamo Tbilisi lamentem até hoje a perda do título nacional de 1953.

Nikita Kruschev, que assumiu como secretário-geral do Partido Comunista, sucedendo o icônico líder, é apontado como o principal responsável por influir nos rumos da competição, permitindo assim que o Spartak Moscou conquistasse a terceira taça de sua história.

"A decisão de evitar que o Dínamo se sagrasse campeão foi tomada pessoalmente por Kruschev", afirmou à Agência Efe, o historiador georgiano Demiko Loladze.

De acordo com ele, o então líder soviético não queria que o futebol o levasse a uma derrota na campanha que criou contra "o culto à personalidade de Stalin", que era sua grande plataforma para conseguir consolidação à frente do Kremlin.

O Campeonato Soviético foi afetado desde o princípio por causa da morte do sucessor de Lenin, em 5 de março. A competição teve início atrasado - a bola rolou apenas em 19 de abril.

O Dínamo Tbilisi era o único representante da Geórgia, sendo conhecido como equipe das forças de segurança, ou seja, de um compatriota e aliado de Stalin, Lavrentiy Beria, que fora chefe do serviço secreto soviético até 1953. Sete equipes eram da Rússia, duas da Ucrânia e uma da Lituânia.

"Tínhamos um grande time. Jogávamos um futebol muito bonito, técnico e ofensivo", relembrou Mikhail Dzhodzhua, na época, atacante da equipe da capital georgiana.

O momento chave para a perda do título do Dínamo Tbilisi aconteceu na 17ª de 22 rodadas. A equipe visitou o Torpedo Moscou e venceu por 2 a 1. Por causa de um pênalti não marcado, a torcida dos anfitriões invadiu o campo.

A equipe de arbitragem teve que se refugiar nos vestiários, devido à ira de boa parte das 25 mil pessoas que estavam no estádio. Alheios ao tumulto, todos na equipe da Geórgia já festejavam o resultado, que os mantinha vivos na luta pelo título.

"Os jogadores que disputaram aquela partida foram para um restaurante comemorar. Praticamente, vibravam com a possibilidade de serem campeões", afirmou Vladimir Barkaya, que jogou entre 1957 e 1967 no Dínamo.

O Torpedo Moscou, no entanto, apresentou um protesto formal contra o suposto erro de arbitragem, conforme revelou, já no dia seguinte, o jornal esportivo de maior tiragem da União Soviética, o "Sovetski Sport".

Posteriormente, a federação local decidiu anular o resultado e ordenou que a partida fosse disputada novamente, por causa da falta na área não marcada e pelos distúrbios provocados pelos torcedores nas arquibancadas.

Na Geórgia, existe convicção de que o governo liderado por Kruschev se aproveitou da confusão para impedir o sucesso esportivo de uma equipe do local de nascimento de Stalin, evitando assim um possível crescimento do nacionalismo local.

No dia 7 de setembro, a partida aconteceu mais uma vez, porém o Dínamo Tbilisi acabou vencido por 4 a 1. No mesmo dia, o Spartak Moscou foi derrotado pelo Zenit Leningrad (atual Zenit São Petersburgo) por 1 a 0, ficando dois pontos à frente do concorrente.

Se tivesse vencido o Torpedo, ou se a partida não tivesse sido anulada, o Dínamo Tbilisi teria terminado a competição empatado com o Spartak Moscou - na época, a vitória valia dois pontos. Isso, de acordo com o regulamento do Campeonato Soviético, teria determinado a realização de um jogo-extra.

"Se vingaram contra os georgianos por Stalin e Beria", contou Demiko Loladze, revelando um relato de um jogador da época, de que o árbitro do segundo duelo com o Torpedo, Nikolay Latishev, que era de Moscou, teria dito que o Dínamo nunca venceria aquela partida.

Stalin, morto, caiu em desgraça junto ao próprio regime, Beria, por sua vez, acabou fuzilado em dezembro de 1953, pouco depois do desfecho polêmico da competição. A equipe de Tbilisi, por sua vez, só conseguiu comemorar um título soviético em 1964, um mês depois de Kruschev deixar o poder.