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Time de futebol de amputados de Gaza espera disputar torneios internacionais

18/07/2018 10h04

Cidade de Gaza, 18 jul (EFE).- Membro do Comitê Paralímpico Palestino, Fouad Abu Ghalyoun teve a ideia de formar uma equipe local de futebol de amputados ao ver um confronto entre Inglaterra e Turquia, no ano passado, e agora espera que os jogadores consigam representar a região em competições de nível mundial.

"Depois de ver aquele jogo, pensei seriamente. Temos muitos amputados na Faixa de Gaza, que perderam suas pernas durante guerras e conflitos com Israel", disse Abu Ghalyoun, em entrevista à Agência Efe.

A equipe foi formalizada em 30 de março na cidade de Deir al-Balah. Uma associação para incapacitados do município doou inicialmente o uniforme e as muletas, ainda que alguns precisassem de equipamentos adaptados.

Os 13 palestinos entre 13 e 42 anos se apoiam em duas muletas para correr o campo de futebol, já que todos perderam alguma das suas extremidades em confrontos militares nos últimos tempos.

"O sonho se tornou realidade, quando os integrantes do meu time começaram o primeiro treino. Os jogadores se mostraram muito entusiasmados", explicou o técnico Khaled al-Mabhouh.

O treino é diferente porque "com uma perna não é tão fácil e é preciso um tipo especial de exercícios", explica Mabhouh.

"Mas acredito que os jogadores têm uma grande determinação para seguir jogando. No início, estavam tímidos, mas consegui que se soltassem", completou o treinador.

Todos os jogadores são da região central da Faixa de Gaza, onde fontes oficiais calculam que 2.500 pessoas têm uma ou duas pernas amputadas, a maioria por lesões ocasionadas pelo ambiente hostil com Israel durante os últimos 20 anos.

O Ministério de Saúde de Gaza acrescentou que desde o começo dos protestos na fronteira com Israel, também em 30 de março, 60 palestinos perderam uma ou as duas extremidades inferiores depois de terem ficado feridos.

Mabhouh tem agora a ambição de formar mais três equipes de futebol de amputados em diferentes áreas de Gaza.

"Entramos em contato com muitas instituições e associações para que nos apoiem e ajudem. Ainda estamos utilizando equipamentos não-profissionais para treinar e muletas que não se adaptam totalmente ao movimento dos atletas", comentou.

O adolescente Ibrahim Khatab, de 14 anos, enumera os motivos que o levaram a se unir ao time: desafio, perseverança, vontade e amor à vida.

"Meu pai me incentivou e, agora estou jogando futebol, algo que me privaram depois que tive um pé amputado em 2014, quando fui ferido por um foguete disparado por um avião de reconhecimento israelense", conta o adolescente.

Hassan Abu Ikrayem, que perdeu um membro em 2007, é o responsável por defender o lado esquerdo da equipe.

"Depois da lesão que me provocou a amputação, deixei de jogar futebol. Meu estado de ânimo caiu totalmente, porque eu jogava constantemente. Com esta equipe, é a primeira vez que volto a praticar o meu esporte favorito em anos", disse Ikrayem.

O time de futebol de amputados realiza um treino por semana de meia hora. Depois de atividade conjunta, o grupo se divide em duas equipes, que jogam dois tempos de dez minutos cada.

Para Wahid Rabah, juntar-se ao time mudou o seu estado mental e deu uma vitalidade que necessitava depois de perder a perna direita durante uma incursão do exército israelense ao campo de refugiados de Maghazi, na Faixa de Gaza, em 2006.

"Quando me convidaram para participar da equipe, me senti muito encorajado. É uma ideia nova e criativa de praticar esporte que não conhecíamos", afirmou o pai de duas crianças, que vive o constante medo de novos episódios de violência.