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Infantino diz que chance de Copa com 48 seleções já em 2022 é pequena

07/11/2018 16h28

Luis Villarejo.

Zurique, 7 nov (EFE).- O presidente da Fifa, Gianni Infantino, disse nesta terça-feira à Agência Efe que acha pequena a chance de que o aumento do número de seleções que disputam a Copa do Mundo de 32 para 48, aprovado para 2026, seja antecipado e ocorra já no Catar em 2022.

Em longa entrevista exclusiva à Efe, o dirigente suíço falou sobre as próximas Copas e se defendeu das acusações de ter acobertado doping financeiro do Paris Saint-Germain e do Manchester City quando era secretário-geral da Uefa.

Segundo informações da plataforma "Football Leaks", o PSG e o City receberam montantes bilionários que foram encobertos pela entidade que rege o futebol europeu através de fundos de investimento do Catar e dos Emirados Árabes, respectivamente.

O presidente da Fifa também enalteceu o crescimento do futebol e da federação internacional em si durante o seu mandato e confirmou que tentará ser reeleito no ano que vem.



Agência Efe: É verdade que o senhor favoreceu os interesses dos chamados clubes Estado?

Gianni Infantino: Para começo de conversa, lhe digo que mudamos a Fifa de cima a abaixo. Hoje é sólida. Organiza competições com critério e desenvolve o futebol por todo o mundo. Multiplicamos por quatro o que a Fifa investe em cada país. E impusemos e multiplicamos auditorias em cada federação por todo o mundo para que o dinheiro que entrar vá para onde deve ir. Estamos muito orgulhosos de nosso trabalho.

Efe: Há indícios através da polícia de como as correspondências que que saíram da Fifa têm vazado? Suspeita de ex-funcionários?

Infantino: Não encontraram nem vão encontrar nada nas correspondências. Não existe ato ilegal algum. Nesta empresa, se discute internamente, há posições divergentes, pessoas que opinam diferente, uma empresa do século XXI. Isso é um crime? Antes, em outras épocas, encontravam-se milhões nos bancos, agora encontram e-mails de trabalho entre empregados e seu presidente discutindo como desenvolver e melhorar o futebol. Essa é a diferença.

Efe: O sistema ajudou o Paris Saint-Germain?

Infantino: Não é verdade. Os acordos com os clubes no marco do sistema do Fair Play Financeiro foram a máxima absoluta desde 2014. 98% dos clubes europeus que violaram o princípio de 'break-even' (despesas superiores a receitas) assinou acordos com a Uefa. Todos estão sendo tratados por igual. Além disso, eu gostaria de lembrar que esses acordos que alguns agora criticam sem fundamentos ajudaram a punir erros disciplinares muito graves nos clubes. Como é possível dizer que foram ajudados? É não saber como funcionam os regulamentos da Uefa e um desprezo absoluto ao sistema que foi estipulado entre a Uefa e os clubes europeus e validado pela Corte Arbitral do Esporte. Todos os clubes na Europa se beneficiam do sistema do Fair Play Financeiro. O mais importante são os clubes, o objetivo não é 'matá-los', mas ajudá-los a serem sustentáveis. Meu trabalho é debater, em qualquer caso, para encontrar acordos e melhorar o sistema.

Efe: Como estão as contas da Fifa?

Infantino: Quando cheguei, havia 900 milhões de euros de reservas. Hoje há 2,3 bilhões, número que a Fifa nunca teve, e investindo quatro vezes mais. O que me pergunto é o que faziam com o dinheiro antes. Olhamos para frente, expandindo o futebol feminino, valorizando a Copa do Mundo da Rússia, que foi um sucesso absoluto. Com a implementação do VAR, outro acerto que transformou o futebol. E ainda fechando pela primeira vez um processo de escolha de sede de Copa com três sedes e sem escândalos. Somos pessoas sérias. Nunca encontrarão problemas de dinheiro concosco. Sabemos de onde vem e para onde vai.

Efe: Haverá 48 seleções já na Copa do Catar?

Infantino: Por que não? Trabalhamos pelo futebol no futebol. Será submetido a aprovação em março, mas a possibilidade é pequena.

Efe: A Fifa considera um risco a criação de uma Super Liga Europeia (grupo de clubes que comandaria as competições continentais, como já acontece com os campeonatos nacionais no Velho continente)?

Infantino: Este assunto está há 20 anos sobre a mesa. O risco existe, é real. Há documentos. Mas é nossa responsabilidade encontrar vias para que o futebol fique unido. Por isso, propusemos um novo Mundial de clubes. É importante expor que a Fifa com este torneio apela, além disso, à solidariedade. Os empresários privados não fazem isso. Nós, sim. Em março, isso será decidido. Não sou profeta. Não sei se será aprovado, mas tenho o desafio de convencer os clubes a melhorar o Mundial atual que já temos. E convencê-los com compromissos. O futebol não é uma guerra nuclear.

Efe: Mudou sua opinião a respeito da realização do jogo entre Girona e Barcelona, pelo Campeonato Espanhol, em Miami? Não vimos você muito convencido...

Infantino: É preciso analisar o futuro com cuidado. O futebol deve ser protegido. Certamente que LaLiga (que organiza o Espanhol) não gostaria que o Campeonato Inglês tivesse jogos na Espanha.

Efe: Mas a federação espanhola quer levar também a final da Supercopa para os Estados Unidos. Como o senhor vê isso?

Infantino: É um assunto diferente. Nas Supercopas, isso já é feito. É um jogo secundário da temporada. Não é o Campeonato Espanhol nem a Copa do Rei. A Supercopa é um jogo de promoção. Não é a ida e volta. Não afeta terceiros. Os dois times jogam nas mesmas condições os dois clubes.

Efe: O meia espanhol Xavi Hernandez propõe uma mudança nas regras e que joguem dez jogadores em vez de 11. O que o senhor acha?

Infantino: Em breve, vou conversar com Xavi (risos). Quem vem cuidando desse aspecto é Zvonimir Boban, ex-jogador croata, agora secretário-geral adjunto da Fifa. Boban diz que "Xavi é um gênio que faz uma pergunta genial". Ele opina assim porque cada vez há menos espaços, mais agressividade, mas o certo é que cada vez há mais gols, e por isso a mudança é difícil. Mas tudo pode ser debatido. Entendo seus argumentos.

Efe: Você tentará a reeleição em junho de 2019?

Infantino: Sim. Tenho 190 apoios de diferentes federações do mundo. Mesmo assim, não penso em férias neste ano. Quero uma Fifa forte e estruturada.