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Beitar Jerusalém: o clube que tem torcedores orgulhosos por serem racistas

22/05/2019 06h00

Joan Mas Autonell.

Jerusalém, 22 mai (EFE).- O Beitar Jerusalém, que venceu o Atlético de Madrid por 2 a 1 em amistoso disputado na terça-feira, conta com um grupo de ultras que classificam o clube como o "mais racista do país" e que têm orgulho do fato de jogadores árabes e muçulmanos não serem aceitos no elenco.

Fundado em 1936, os 'Leões da Capital' escaparam do rebaixamento no Campeonato Israelense apenas na reta final da temporada, após terminarem a primeira fase na 11ª colocação, entre 13 participantes. No fim da competição, a equipe terminou no sétimo posto.

O clube foi criado por sionistas revisionistas, ainda durante os tempos do domínio britânico na Palestina, entre 1922 a 1948. A época mais vitoriosa foi entre as décadas de 80 e 90, com a conquista de quatro dos seis títulos nacionais do clube - os últimos foram em 2006-2007 e 2007-2008.

"O Beitar jogou muito bem durante os anos 90, quando se transformou em um império futebolístico", disse o torcedor Daniel Blaustein, em entrevista à Agência Efe.

O seguidor da equipe lembra que os anos do auge coincidem com a ascensão do Likud, partido político conservador, e a primeira vitória eleitoral, em 1996, do atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

"O clube também se tornou um antro de intolerância e racismo", afirmou Blaustein.

O amarelo e o preto, cores do Beitar, em Israel, normalmente são identificados como cores da direita política. Entre os torcedores históricos do clube estão o próprio Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Avigdor Lieberman, líder de um partido ultradireitista.

Ambos têm o hábito de assistir juntos aos jogos da equipe, no estádio Teddy Kollek, que é usado por outros times de Jerusalém e que está muito perto da linha de separação com os territórios palestinos ocupados em Jerusalém Oriental e Cisjordânia.

O local habitualmente fica lotado para as partidas do Beitar, com grande comparecimento dos ultras, que é como são conhecidos os torcedores mais radicais e até violentos em diversos países europeus.

O grupo mais extremista é conhecido como "A Família", com integrantes envolvidos em casos de violência, ameaças e até negócios ilícitos. Desde 2005, a facção não esconde os apelos nacionalistas e o racismo.

O Beitar, em toda a história, nunca contou com jogadores de origem árabe. Há alguns anos, quando o então proprietário anunciou a contratação de dois jogadores chechenos de origem muçulmana, os ultras incendiaram instalações do clube como forma de protesto.

Em 2015, por causa de insultos racistas, o Beitar foi chamado pela Comissão para a Igualdade de Oportunidades de Emprego do Ministério da Economia para explicar por que não contrata árabes, que são 20% da população do país.

O representante do Beitar ouvido pela Agência Efe, Oshrid Dudaei garantiu, no entanto, que existe hoje uma política contra o racismo e uma mudança de mentalidade de dirigentes e também nas arquibancadas.

"Acho que nossos torcedores mudaram de mentalidade. Agora, você pode encontrar uma atitude mais tolerante no estádio. Nesta temporada não houve registro de cantos racistas ou atos de violência", afirmou.

Dudaei ainda destacou que existem jogadores árabes nas divisões de base do Beitar, atualmente. O atual dono do clube, Moshe Hogeg, garantiu recentemente que será possível contar com árabes e muçulmanos no elenco, mas com certas condições.

Além de ser bom jogador, terá que aceitar que Israel e Jerusalém existem apenas para a nação judaica e respeitar isso", explicou o proprietário do Beitar.

Para Maya Zinshtein, autora um documentário sobre o comportamento racista e violento dos torcedores da "Família", que chocou o público em Israel e outros países, o Beitar terá que encarar o desafio abrir as portas, apesar do radicalismo dos ultras.

"Acho que estão fazendo um esforço para isso. Para evitar que uma minoria tome o controle do estádio. A grande maioria dos torcedores não é racista", analisou a cineasta. EFE