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Em crise e com salários atrasados, clube inglês pode fechar nesta 6ª feira

21/08/2019 20h00

Manuel Sánchez Gómez.

Londres, 21 ago (EFE).- O tradicional Bury FC, de 134 anos de história, tornou-se um clube fantasma da terceira divisão do Campeonato Inglês e está à beira de encerrar as atividades devido a problemas econômicos que o impediram de disputar as quatro primeiras rodadas da chamada 'League One'.

Em um país com a liga mais rica do mundo, em que frequentemente são quebrados recordes de valores de transferência, os 'Shakers', atuais vice-campeões da quarta divisão, têm apenas oito jogadores no elenco devido à crise. Dono de dois títulos da Copa da Inglaterra, os de 1900 e 1903, o clube já foi punido com a perda de 12 pontos por falta de pagamento e tem até esta sexta-feira para regular a situação. Caso contrário, deixará de existir.

Tudo começou no dia 11 de dezembro do ano passado, quando o empresário Steve Dale, visto como homem de negócios bem-sucedido, pagou quase 1 milhão de libras (R$ 4,88 milhões, pela cotação atual) a Stewart Day, proprietário do Bury desde 2013.

Dale chegou para sanear as contas e dar um estímulo que tirasse a equipe da chamada 'League Two'. Em âmbito esportivo, a troca de dono deu certo, já que os 'Shakers' subiram de divisão, mas a parte financeira só piorou.

O acesso à "terceirona" jogou luz sobre os problemas. Os jogadores reclamaram que não recebem salário desde fevereiro. Já os demais funcionários do clube estão em situação ainda pior: desde janeiro não entra um centavo em suas contas, e eles ainda denunciaram descaso por parte da diretoria.

"Não existe comunicação com eles (dirigentes), e o silêncio por parte de determinadas pessoas é ensurdecedor", declarou um representante dos funcionários, que pediu para não ser identificado.

Na tentativa de conversarem com Dale, três meses atrás, os funcionários receberam um comunicado do empresário, que dizia estar com uma leucemia incurável e com osteoartrite. O dono do Bury alegou que não podia sair da cama e que mesmo nela trabalhava sem parar para salvar o clube.

A verdade é que, 90 dias depois da nota, na qual ele chamou a imprensa de "lixo", a situação continuou piorando. Dale levou o Bury a assinar um acordo que permite liquidar as dívidas pagando apenas parte delas. Apesar do passo à frente no aspecto econômico, no esportivo foram dados vários para trás, já que, potr se declarar insolvente, o clube começou a terceira divisão com 12 pontos negativos na tabela.

Na Série B do Campeonato Brasileiro, o Figueirense vive uma situação que em alguns aspectos lembra a do Bury. Ontem, o time catarinense perdeu por W.O. para o Cuiabá devido a um protesto do elenco por salários atrasados.

No clube inglês, porém, o quadro é muito mais grave. O clube tem apenas oito jogadores no elenco principal, 14 nas divisões de base e está proibido de fazer novas contratações por causa das dívidas.

Em 18 de julho foi confirmada a perda dos 12 pontos por parte da English Football League (EFL), que administra a terceira divisão do Inglês. Não houve mais futebol no estádio Gigg Lane, a casa do Bury.

A EFL anunciou que, diante da falta de garantias de que os 'Shakers' poderiam realizar os pagamentos da temporada, o primeiro jogo do time, contra o MK Dons, foi adiado. Dale declarou que estava sendo desacreditado pela entidade e que, por isso, estava perdendo jogadores, patrocinadores e "destruindo cinco meses de trabalho duro".

Outras três partidas também já deveriam ter sido realizadas, contra Accrington Stanley, Gillingham e Rotherham United, mas também foram canceladas, assim como os duelos com o Tranmere Rovers, que aconteceria no próximo fim de semana, também pela 'League One', e com o Sheffield Wednesday, pela Copa da Liga Inglesa.

A EFL deu prazo até esta terça para que fosse encontrada uma solução para a situação, e a mais viável era vender o clube, encerrar o mandato de Dale e entregar o Bury para que outra pessoa resolva os problemas que o suposto "bem-sucedido" empresário não resolveu.

No último dia 12, os funcionários confirmaram que havia sobre a mesa uma oferta muito boa e imploraram para que o proprietário a aceitasse, mas ele a rejeitou.

Com o 'deadline' cada vez mais perto, os torcedores coletaram mais de 7 mil assinaturas pedindo a Dale que vendesse o clube. "O Bury disputava jogos em Gigg Lane muito antes de você e eu nascermos, e espero que continue a disputá-los depois de você e eu morrermos", declarou Jamie Hoyle, autor da carta que acompanhou as assinaturas.

"Se você vender o clube para outra pessoa que nos desenvolva, será lembrado como quem negociou um CVA (acordo voluntário de reestruturação) para pagar as nossas dívidas. Se o Bury desaparecer, você será conhecido como o homem que destruiu um time de futebol orgulhoso e toda a comunidade por trás dele", complementou.

Restam ao Bury dois dias para que não vire apenas história e que o Gigg Lane não se transforme mais um cemitério do futebol. Caso o prazo não seja cumprido, há ainda a possibilidade de o clube tentar ressurgir na temporada 2020-2021 na última divisão. EFE