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Esporte Ponto Final

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Há 5 anos, Falcão jogou com um olho só e fez a melhor partida da sua vida

FALCÃO DESCREVE DETALHES DO MAIOR JOGO DE SUA CARREIRA

UOL Esporte

15/11/2017 04h00

Para Falcão, considerado o maior nome do futsal de todos os tempos, não deve ser tarefa fácil escolher qual foi o maior momento da sua carreira. Ele ganhou duas Copas do Mundo. Por duas vezes foi eleito o melhor jogador do planeta e faturou a Bola de Ouro da Fifa. Pela seleção brasileira, foram 24 títulos e 365 gols. Também ganhou títulos por todos os times que defendeu. E por aí vai.

Nesses 23 anos de carreira, tem um jogo que foi o mais marcante para o camisa 12. Sem enxergar direito, porque dias antes sofrera uma paralisia facial, Falcão entrou em quadra nos minutos finais e marcou os dois gols da virada sobre a Argentina, num jogo que parecia perdido.  

“Foi o mais especial por todo o contexto”, diz o craque. Aconteceu há cinco anos, durante o Mundial realizado na Tailândia. Calma que a história é longa... 

Naquele 14 de novembro de 2012, o Brasil era o favorito diante dos argentinos, pelas quartas de final. Mas Falcão era uma incógnita devido a problemas físicos e de saúde.

“Teoricamente era minha última Copa do Mundo, eu queria muito jogar, me preparei três anos para chegar inteiro naquele Mundial. Na primeira partida, com três minutos de jogo, tive uma lesão na panturrilha. Pra mim, ali tinha acabado o mundo, queria ir embora, estava na Tailândia”, lembra Falcão.

A contusão obrigou o atleta a fazer repouso absoluto. Enquanto os demais jogadores seguiam normalmente a rotina de treinos e jogos, Falcão teve de ficar no quarto do hotel, sem sair nem para as refeições, durante a primeira semana do torneio.

Paralisia facial

Sem saber se estaria recuperado para jogar a fase final do torneio, Falcão começou a ficar tenso. E isso teve sequelas.

Ele começou a ter dor de cabeça, e a medicação não aliviava o problema. Sentiu uma veia no pescoço pulsar muito forte.

“Teve um dia que acordei, e a piscada do olho direito não acompanhava a do esquerdo. O médico disse que a paralisia facial estava começando. À noite, já estava totalmente paralisado, tinha que ajudar a piscar com a mão, pingar colírio, dormir com tampão”.

O camisa 12 não desistiu. Ele conta que surpreendeu o preparador físico da seleção ao realizar sozinho treinamentos físicos na piscina.

VEJA OS GOLS DE FALCÃO NA VITÓRIA DE VIRADA SOBRE A ARGENTINA

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Termo de responsabilidade para jogar

Na primeira fase da Copa do Mundo, Falcão atuou alguns minutos contra o Japão e se machucou. Depois virou desfalque na goleada sobre a Líbia e na vitória para a Colômbia.

Chegava o momento das oitavas de final, e o ala, à época com 35 anos, queria voltar ao time. Porém, comissão técnica e dirigentes eram contrários ao sacrifício.

“Não queriam me colocar para jogar. Assinei um termo de responsabilidade, assumindo que jogaria com paralisia facial”.

O jogo era fácil, contra o Panamá, e o Brasil ganhou por 16 a 0. Falcão entrou nos minutos finais. “Cavei duas expulsões dos adversários e fiz o gol do recorde. Fiquei satisfeito, feliz da vida”.

O recorde a que se refere foi o gol de número 337 com a camisa da seleção. Naquele momento, o craque se tornou o maior artilheiro dentre todas as seleções de esportes Fifa do mundo.

Jogou mancando

Falcão aprovou seu retorno às quadras. Mas a comissão técnica, comandada por Marcos Sorato, não. Rolou o seguinte diálogo no hotel

- Você está mancando pra caramba, ainda não tem condições de jogar.

- Mas como? Me senti bem, com confiança. Tem mais um treino antes do jogo contra a Argentina.

- Se for como esse jogo, você está fora.

Após a goleada sobre o Panamá, a delegação brasileira ganhou um dia de folga. O treino decisivo para avaliar a situação de Falcão ocorreu na véspera do duelo com os rivais sul-americanos.  

“Estava com medo e não treinei o que eles esperavam”, revela o camisa 12.

Dedada no olho bom

Do banco de reservas, Falcão viu a Argentina fazer 2 a 0 sobre o Brasil no primeiro tempo.

“O treinador olhava pra mim e falava: ‘não vou por esse cara. Paralisia facial, panturrilha machucada, contra a Argentina...’

Faltavam 10 minutos, entrei sem pedir para bater uma falta, era um lance isolado. Quando entrei, invadiu um torcedor brasileiro. O cara veio me abraçar e enfiou o dedo no meu olho... O olho bom.

Não enxergava nada, bati a falta pra fora e saí.

Aí disse para o treinador:

- Me põe, cara. Está acabando o jogo, tô na adrenalina, não vou sentir nada e vou ajudar’.

- Então vai...

Entrei faltando uns 9 minutos."

Falcão empata o jogo

O placar apontava 2 a 0 para a Argentina, quando Falcão convenceu o técnico Sorato a colocá-lo em quadra.

“Aquela derrota seria a maior decepção da história do futsal brasileiro”, comenta.

A reação teve início quando faltavam 7 minutos para o término da partida. Neto bateu no canto esquerdo do goleiro e marcou o primeiro gol brasileiro.

Quando faltavam 6 minutos, o camisa 12 começou a fazer a diferença.

“Dominei a bola na entrada da área e chutei no meio das canetas do jogador argentino. Empatei o jogo”.

O confronto foi para a prorrogação.

O herói da virada

Com o empate, o treinador tirou o veterano ala do jogo.

- Já tá bom, Falcão.

- Tá bom nada, quero jogar mais!

O camisa 12 só voltou nos minutos finais do primeiro tempo da prorrogação. “Eu no banco, e os jogadores falavam: ‘põe o Falcão’”.

Entrou e logo chutou uma bola na trave.

Faltando 20 segundos, o craque brilhou. Numa cobrança de escanteio, recebeu livre e finalizou no canto. Na comemoração, ajoelhou-se e foi abraçado pelos companheiros.

Na comemoração, ajoelhou-se e foi abraçado pelos companheiros.

“Fiquei ali um tempão, não conseguia parar de chorar. O juiz queria reiniciar o jogo e eu não saia do lugar. Os jogadores disseram: ‘agora senta lá que vamos segurar esse resultado pra você’”.

Aquele momento que passei, com paralisia facial, com lesão na panturrilha, com uma dedada no olho e contra a Argentina. Acho que foi a maior audiência de uma partida na história do futsal no mundo. Teve narrador e comentarista chorando durante a transmissão. Nunca tinha visto aquilo. Ali ganhei ainda mais o respeito de todas as pessoas, do Brasil e de outros países. Pessoas do mundo inteiro foram ao hotel me parabenizar”.

Na semifinal, a seleção brasileira bateu a Colômbia, 3 a 1. Na final, mais um jogo emocionante, e o triunfo por 3 a 2 sobre a Espanha, na prorrogação, com um belo gol de Falcão e dois de Neto, eleito o craque do campeonato.

Missão cumprida em Bangcoc: Brasil pentacampeão mundial de futsal segundo a Fifa - e hepta, considerando os Mundiais da década de 1980, organizados pela Fifusa (Federação Internacional de Futsal).

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ESPORTE(ponto final)

A entrevista com Falcão foi realizada pelo ESPORTE(ponto final), um canal produzido a partir de depoimentos de ídolos sobre os grandes momentos do esporte.

A cada semana, novos episódios serão lançados na página especial do ESPORTE(ponto final). E você também pode acompanhar nas mídias sociais: youtube.com/esportepontofinal e facebook.com/esportepontofinal.

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