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Scheidt terá 43 anos em 2016 e quer o ouro olímpico. Você duvidaria dele?

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

03/09/2014 06h00

Robert Scheidt participou de cinco Olimpíadas e nunca saiu de mãos vazias. Ganhou tanto que pode se dar ao luxo de escolher qual medalha foi a mais importante. Para o velejador, o ouro conquistado em Atenas-2004 teve um sabor especial. A vitória na Grécia serviu para amenizar a dor pela dura derrota dos Jogos de Sydney, quatro anos antes, quando liderava a até a última regata.

Mas ele teve mais alegrias que tristezas no esporte, tanto que o primeiro ouro veio logo na estreia em Olimpíadas, em Atlanta 1996. Também contabiliza 13 campeonatos mundiais. O currículo fez Scheidt ser escolhido duas vezes o melhor velejador do mundo pela Federação Internacional de Vela.

Números que transformaram o atleta num mito na classe Laser, onde reinou como homem a ser batido. A passagem para classe Star foi igualmente de sucesso. Como ela deixou de fazer parte dos Jogos Olímpicos, Scheidt retorna para laser numa tentativa de se aposentar da vela com uma medalha no Rio 2016.

Aos 41 anos, o atleta não teme que um mau resultado arranhe sua imagem de vencedor e afirma que no esporte não se pode ter medo de dois demônios: o da vitória e o da derrota. A seguir, as declarações que o maior medalhista brasileiro da história deu em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

UOL Esporte: Entrevisto o atleta mais vitorioso da história do esporte olímpico brasileiro. Você se sente especial?
Robert Scheidt:
Não necessariamente. Eu sei que tenho um grande talento para velejar, mas eu acho que existem velejadores mais talentosos do que eu. Mas (sou) alguém que se esforçou muito para tirar o máximo desse talento. Isso eu soube fazer bem, fazer minha velejada ser eficiente.

A primeira medalha de ouro veio na tua estreia em Olimpíada. Você pensa naqueles dias com frequência?
Robert Scheidt:
De vez em quando. Quando preciso de uma injeção de ânimo eu penso.

Com qual frequência você olha para as medalhas que conquistou?
Robert Scheidt:
Não é muito frequente. Quando preciso de uma injeção de ego até olho. Faz bem olhar um pouco para o passado, ver umas fotos, tocar as medalhas... faz bem.

Como você estava quando foi para a última regata sabendo que podia ser campeão olímpico logo em sua estreia em Jogos Olímpicos?
Robert Scheidt:
Claro que você sente mais ansiedade. Entrei ansioso sem dúvida, mas aquilo não afetou a maneira como eu velejei. Joguei o jogo. Foi estímulo que consegui levar para competição, mas sem afetar minha performance.

Consegui dormir na noite anterior?
Robert Scheidt:
Não foi uma das noites mais bem dormidas sem dúvida nenhuma. Custei para dormir, pensei na regata, acordei mais cedo que o normal. Mas ali, quando o dia começa, você inicia tua rotina, faz teus alongamentos, prepara teu barco e no final é uma regata como qualquer outra.

Qual título mais marcante da tua vida?
Robert Scheidt
:  Minha segunda medalha de ouro, em Atenas. Na primeira não tinha muita noção da magnitude de um Olimpíada. Mas em Atenas onde eu já vinha de uma história Olímpica, tinha ganho o ouro em 96, perdido o ouro na regata final em Sydney que ficou engasgado na minha garganta. Poder voltar quatro anos depois e ganhar este ouro teve um gosto extremamente especial.

Quanto tempo ficou remoendo a derrota em Sydney?
Robert Scheidt:
Acho que foram uns dois meses fiquei me questionando porque perdi e o que poderia ter feito diferente. Acho que é importante este questionamento, não fechar o livro e agora é outra página. Para depois voltar um atleta mais forte, mais maduro. Quando você ganha, ganha errando um pouco, mas não analisa.

Como você se tornou um cara tão competitivo?
Robert Scheidt
:  Sempre tentei evoluir, mas nunca imaginei que fosse imbatível. Este foi o meu grande fator, que contou muito. Tenho prazer pelo processo de melhorar e ficar no topo.  Não guardo nenhum esforço extra e sempre dou tudo de mim. Ganhar uma vez é muito difícil, mas mais difícil é reconquistar o título ano a ano. A pressão aumenta muito e se for vice-campeão é uma derrota.

Você gosta mais de lutar pela vitória ou da medalha?
Robert Scheidt:
Acho que você precisa da coisa material, importante ter atingido aquele resultado, ter a medalha, um troféu de campeonato mundial. Aquilo vai ficar para o resto da tua vida. Você ganhou e aquilo ninguém vai esquecer.

Para 2016 qual sua expectativa?
Robert Scheidt:
Meu sonho é ir para mais uma Olimpíada e terminar minha carreira. Provavelmente se não fosse no Rio de Janeiro eu teria encerrado. Voltei a competir na Laser com 41 anos, o que não é fácil com jovens de 20 e 25 anos. Ano passado fui campeão mundial de Laser com 40 anos. Um recorde, nunca ninguém tinha ganhado com idade tão avançada. Tenho gás e motivação.

O Felipão também era consagrado e perdeu boa parte do crédito nesta Copa. Você teme repetir a situação?
Robert Scheidt:
Não posso ter medo da derrota, nem da vitória. Estes dois demônios eu não posso ter medo. Vou ficar chateado se não der certo, mas é a vida. A derrota do futebol não dá para comparar.

E você acha que a promessa será cumprida e a Baia de Guanabara estará limap em 2016?
Robert Scheidt: Neste mês teve competição e não teve problema nenhum. A água (estava) incrivelmente limpa, por sorte porque não teve muita chuva e a chuva que traz os detritos para a Baia de Guanabara. E um pouco pelo trabalho de limpeza que está sendo feito com barcos coletores de lixo.

Você está confiante então?
Robert Scheidt:
Não acho que (a poluição) será um obstáculo e seria pior se a Olimpíada fosse no verão, onde tem maior incidência de chuva.

Disputar a Olimpíada na Baía de Guanabara traz vantagem?
Robert Scheidt:
Até certo ponto sim, porém as equipes estão se preparando conta tanta antecedência. Adversários fizeram base e em 2016 vão conhecer a raia igual ou até melhor do que a gente. Eles são muito aparelhados, tem medidores de correntes, estações meteorológicas, etc. Um processo avançado de tecnologia, o que a gente não tem porque não começou a trabalhar este lado. A gente conhece a Baia de Guanabara mais do que eles, mas esta distância vai encurtar bem até 2016. Espero que eles não alcancem o nosso conhecimento sobre a Baía, espero alguma vantagem.