Topo

Título Intergalático era piada de velejador. Virou coisa séria com Rio-2016

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

17/11/2014 06h00

Quando um velejador coloca, em seu currículo, o título de um campeonato que ninguém ouviu falar, logo vem a brincadeira: “Lá vem o campeão intergalático”. Desde a sexta-feira passada, os neo-zelandeses Peter Burling e Blair Turke estão nesse grupo. Detalhe: além do título-zueira, eles também são campeões mundiais da classe 49er e fazem parte da elite da vela no planeta.

“Esse termo era usado em Niterói pra falar de um campeonato sem importância ou com poucos barcos. Mas a classe 49er resolveu oficializar o negócio. Esse já é o segundo Intergalático, com troféu de posse transitória e tudo mais”, explica Martine Grael, que, ao lado de sua proeira Kahena Kunze, recebeu o troféu de melhor velejadora do mundo em 2014 (após conquistar pela primeira vez o título mundial da classe 49erFX).

O campeonato que era uma piada surgiu em um treino de luxo. Quem quiser brigar por uma medalha na vela nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, precisa entender as particularidades da Baía de Guanabara, um dos locais mais complicados de velejar no mundo. Os ventos mudam sempre de direção, o número de correntes e pontos em que a maré interfere na velejada é altíssimo. Por isso, os melhores do mundo estão sempre visitando o Rio, para aprender nas águas olímpicas.

Como atleta olímpico é um bicho competitivo por natureza, treinar não era o bastante. Convocaram juízes, uma súmula apareceu e até um troféu foi providenciado. Na segunda edição, esse mesmo troféu virou de posse provisória do campeão, o campeonato entrou no calendário anual da classe e conta com fotógrafo, assessoria de imprensa e tudo o que um campeonato normal tem. Com um detalhe: seus participantes são muito, mas muito bons.

No masculino, seis duplas que estão entre as dez primeiras do ranking mundial estavam nas águas da Baía de Guanabara nesta semana. Estavam lá os campeões mundiais (Burling e Turke) e os dois vices (Jonas Warrer e Anders Thomsen, da Dinamarca). No feminino, nove das dez primeiras colocadas no Mundial disputaram o campeonato – o título ficou com as dinamarquesas Jena Hansen e Katja Salskou-Iversen.

Mas, como um campeonato que começou como piada não pode terminar sem uma brincadeira, está lá, a última regata foi diferente: timoneiros velejaram na proa, com os proeiros comandando o barco. Melhores do mundo, Martine e Kahena venceram essa última regata, mas acabaram em terceiro lugar no geral da competição. “Foi legal trocar de lugar. Sabíamos que ia rolar esta regata e dei uma treinada”, admitiu Kahena.