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Débora Rodrigues conta como se tornou a primeira mulher a correr na Fórmula Truck

Débora Rodrigues conta como se tornou a primeira mulher a correr na Fórmula Truck - Divulgação
Débora Rodrigues conta como se tornou a primeira mulher a correr na Fórmula Truck Imagem: Divulgação

Débora Rodrigues

Especial para o UOL

08/03/2012 13h21

Desde criança me fascina ver alguém dirigindo e sempre me interessei por caminhões. Aprendi a dirigir muito cedo. Meu pai tinha dois caminhões, mas como sempre foi muito rígido e machista, nunca permitiu que trabalhasse com ele, o que me magoou muito, fazendo com que cortasse relações desde jovem. Já separada, e com dois filhos para criar, me virei como podia.

A paixão por dirigir nunca saiu de mim. Fosse carro, moto, caminhão, ou até mesmo trator, eu sabia comandar. Mas ao contrário da maioria dos pilotos, eu nunca sonhei em ser profissional. Assistia F1 para ver meu grande ídolo Ayrton Senna, mas nunca fui fanática. Até então, o máximo que pensava, neste segmento, era praticar MotoCross, por influência de um namorado. Eu adorava vê-lo correr, saltar e, como naquela época andava muito pelas estradas de terra do interior, para mim era mais fácil pular e derrapar, com uma DT 180.

Fui motorista de ônibus de boia fria, e foi nesse papel que minha vida mudou. Em um dia qualquer, fui fotografada, e no dia seguinte meu rosto estava na capa do jornal Folha de São Paulo. Foi tudo muito rápido, e claro, inesperado. Com o título de 'Musa dos Sem Terra', tive algumas oportunidades, e aproveitei todas elas, como posar nua e aceitar o convite para estrelar o elenco de apresentadoras do programa 'Fantasia', no SBT. Fui aprendendo e agarrando tudo o que podia. Rapidamente descobri um novo mundo, no qual jamais me imaginava.

Já tinha ouvido falar de corrida de caminhão, lendo a revista ‘O Carreteiro’ e assistindo o programa ‘Siga Bem Caminhoneiro’, mas nunca me imaginei na área, pois tinha uma família para criar, e não podia me dar o luxo de sonhar com um esporte tão caro, como o automobilismo.

Mas o caminhão realmente estava no meu destino. Como disse, tive grandes oportunidades, e foi em uma delas que tive o primeiro contato direto com a Fórmula Truck. Já conhecida pela grande mídia, fui convidada para fazer uma matéria para o Domingo Legal, na época apresentado pelo Gugu, no SBT. Eu e o Otávio Mesquita, disputamos uma brincadeira, no estilo corrida maluca, dentro do Autódromo de Interlagos, em um caminhão da Truck.

  • Orlei Silva

    Hoje piloto de F-Truck, Débora Rodrigues fez parte do Movimento Sem Terra

Foi paixão à primeira vista. Fiquei louca com a adrenalina da velocidade, com o poder de comandar aquele ‘bruto’ tão potente, sem ter regras de velocidade, carreta para puxar, etc. Decidi aprofundar o conhecimento.

Procurei uma equipe para correr. Foi então que conheci o Renato, meu marido. É claro que inicialmente assustou: uma mulher participando de uma corrida de caminhão? Mas eu me via nesse universo tão masculino. A paixão falou mais alto, e venci os desafios, provando a todo instante que conquistaria meu espaço. Lutei na CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) para ingressar na Truck, já que inicialmente fui vetada pelo organizador. Não desisti! Conquistei meus direitos, e provei que estava ali para competir e acrescentar nessa categoria. Me tornei então a primeira mulher a entrar na Fórmula Truck.

Já são 13 anos competindo. Fiquei longe das pistas por apenas oito meses, durante a gravidez do meu terceiro filho, o Renatinho. Ele nasceu em Janeiro, mas na primeira semana de Março, lá estava eu, amamentando e competindo.

O automobilismo me fez aprender muitas coisas, a mais importante delas é o trabalho em equipe. Cresci sem irmãos, casei jovem, mas logo me separei e criei dois filhos. Mas nesses anos descobri o que é um trabalho em equipe, em todos os sentidos. Na minha equipe RM Competições/VW, nós trabalhamos e desenvolvemos sempre um jogo pensando na equipe.

Com um bom resultado na pista, sempre buscamos alcançar um lugar no pódio da F-Truck. Minha equipe se junta à família, para sempre subir mais um degrau do pódio da vida!

Atualmente, como a maioria das mulheres, me divido entre casa, filhos, marido e carreira. No meu caso, é ainda mais delicada essa dupla carreira, entre televisão e F-Truck.

Mas não acho certo chamar de ‘trabalho’ uma coisa que dá tanto prazer em fazer. Eu amo o que faço, principalmente porque Fórmula Truck me trouxe grandes conquistas, como o amor da minha vida e meu sucesso profissional. Hoje sou uma mulher completamente realizada, e que sabe dar valor a absolutamente tudo.

Meu recado para as mulheres, no nosso dia, é que nunca deixem de lutar pelos seus ideais. Eu lutei e conquistei. Você também é capaz, basta acreditar em você.

Admiro todas as mulheres que lutam pelo seu lugar no pódio: seja em um esporte, ou simplesmente no pódio da vida, afinal, só chega até lá, quem tenta vencer.