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Cirurgia bariátrica e 11 acidentes uniram brasileiros campeões do Dakar

Lourival Roldan (à esq) e Leandro Torres foram os primeiros brasileiros campeões - Victor Eleuterio/photosdakar.com/Divulgação - Victor Eleuterio/photosdakar.com/Divulgação
Lourival Roldan (à esq) e Leandro Torres
Imagem: Victor Eleuterio/photosdakar.com/Divulgação

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

14/01/2017 18h11

O que uma cirurgia barátrica nos anos 2000 e um rali universitário na década de 80 e tem a ver com o Dakar? Estes dois fatos completamente isolados foram os responsáveis por unir Leandro Torres (45 anos) e Lourival Roldan (58), os primeiros brasileiros a conquistar o título da tradicional prova off road. Neste sábado, eles foram os campeões da categoria UTV, para veículos semelhantes a bugues.

Roldan - que é navegador e disputou o Dakar pela décima vez em sua carreira - começou a participar de ralis em 1985. Ele tomou a decisão após voltar do Canadá, onde passou um período fazendo cursos. Na época, trabalhava como técnico de computadores na IBM. A paixão pela velocidade estava em suas veias desde cedo.

"Em 1985 fui fazer um curso em Toronto e me senti constrangido com a baixa velocidade e o controle que tinham nas estradas. Em São Paulo, eu gostava de andar muito rápido, andava cortando, tanto que tive o 11 acidentes em 11 meses com o mesmo carro. Na maioria das vezes, era culpa dos outros e teve até acidente com meu carro parado. Não fazia assim tanta barbaridade", contou.

"Quando eu voltei ao Brasil, estava com esta vontade grande e ouvi o anúncio de um tal de rali universitário. Fui ver o que era e quando cheguei na empresa conversei com um amigo que havia participado e me contou. Resolvemos participar e eu fui navegando. No começo, ele não acreditou muito na minha navegação, mas depois viu que eu estava fazendo tudo direitinho. Foi assim que virei navegador de rali", disse Roldan, que entre 2003 e 2005 formou a principal dupla do país ao lado de Klever Kolberg nos carros.

Leandro Torres tem bem menos experiência em ralis: são apenas 12 anos. O início foi em 2005 após ficar entre a vida e a morte no hospital. Ele pesava 130 quilos e resolveu fazer uma cirurgia bariátrica para poder praticar esportes. Porém, teve uma complicação em decorrência de uma inflamação e passou 56 dias internado. Quando saiu, resolveu comprar uma moto e se aventurar.

"Quando fiquei entre avida e a morte percebi que o poder da mente me fez recuperar da situação que eu estava. Resolvi comprar uma moto e sair andando e acabei conhecendo o rali. Quando garoto eu fazia umas trilhas, mas era tudo de brincadeira. Em 2007, comecei no Rali dos Sertões", contou em entrevista exclusiva ao UOL Esporte logo após a conquista.

Na prova brasileira, competiu nos carros e nas motos e por últimos nos UTVs. Sua estreia nesta categoria ocorreu em 2004. "Comecei a pegar gosto cada vez maior pelo rali em e 2014 teve esta proliferação dos UTVs e gostei bastante, pois você gasta pouco e tem bastante retorno. Acabei me apaixonando e uso até para lazer", disse.

Torres fez sua estreia no Dakar apenas em 2016, ao lado do próprio Roldan, Foram terceiros entre os UTVs que até então tinham de competir contra os carros. Neste ano, a organização criou uma nova categoria para este tipo de veículo e foram oito os inscritos. Apenas quatro terminaram. A tendência é um aumento de competidores ao longo dos próximos anos.

Segundo o piloto, para competir em condições de título no Dakar entre os UTVs é necessário um investimento entre 100 e 120 mil euros (R$ 342 mil e R$ 411 mil), enquanto entre os carros o valor pode chegar até a 1 milhão (R$3,42 milhões).

Estratégia pelo título começou no ano passado

Torres disse que desde a terceira colocação em 2016, ele e Roldan colocaram na cabeça que seria possível conquistar o título em 2017 se adotassem uma estratégia um pouco mais ousada. "Fomos terceiro e percebemos que se fôssemos mais agressivos poderíamos ir mais longe. Planejamos, focamos e conseguimos o êxito. O que fica desta vitória é o ineditismo e um legado para todas as gerações. Tínhamos mais de 100 anos de vida dentro do carro. Para os mais velho e é um orgulho, e para os mais novo, que fique a mensagem que se tiverem a oportunidade e se planejarem direitinho tudo pode dar certo. Torço para que o esporte evolua", disse.

Os brasileiros acabaram a disputa mais de quatro horas na frente dos vice-campeões, os chineses Wang Fujiang e Li Wei. 

Após o sucesso no Dakar, Torres e Roldan se preparam agora para a disputa do Campeonato Brasileiro de Rali, cuja primeira etapa será realizada em março na cidade de Barretos (SP).