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Fora da F-1 redescobri por que sou piloto, diz Nasr, que vê futuro na F-E

Felipe Nasr Fórmula 1 - Andrew Boyers/Reuters - Andrew Boyers/Reuters
Felipe Nasr pilotou na F-1 em 2015 e 2016
Imagem: Andrew Boyers/Reuters

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Melbourne (AUS)

12/03/2019 06h48

Nem parecia a mesma pessoa da última entrevista no paddock da Fórmula 1 como piloto da Sauber em Abu Dhabi, em novembro de 2016. Os olhos brilham para falar das corridas - e especialmente das vitórias nas provas de endurance do IMSA, respeitada categoria norte-americana, de cujo calendário fazem parte provas icônicas como as 24h de Daytona e as 12h de Sebring - e do novo desafio de estrear na Fórmula E. Felipe Nasr entrou para a lista de pilotos com um grande currículo nas categorias de base e talento comprovado que não vingaram na Fórmula 1. Afastou-se das competições por um ano, em 2017, e voltou com tudo para ser campeão no IMSA logo em seu ano de estreia.

Neste ano, Nasr segue na categoria norte-americana ao mesmo tempo em que atende ao chamado de última hora da equipe Dragon na Fórmula E. "Foi bem de uma hora para a outra. Meu plano para o ano era continuar no IMSA, depois de ganhar os dois campeonatos ano passado. Mas logo antes da virada do ano a Dragon me procurou para saber qual a minha disponibilidade. Era para ser só um teste, mas apareceu a chance de competir nas corridas que não batem com o IMSA. E eu topei porque acho que a Fórmula E tem futuro, tem uma perspectiva muito grande de futuro", afirmou Nasr em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

O começo não tem sido dos mais fáceis para Nasr, que chegou em sua primeira etapa, no México, sem nunca ter dado uma volta sequer no carro e, em uma competição condensada - treinos livres, classificação e corrida são realizados no mesmo dia - conseguiu se classificar na frente do companheiro José María Lopez, na F-E desde 2016. Porém, tanto na etapa mexicana, quanto no último final de semana, em Hong Kong, toques logo no início das corridas fizeram com que o piloto abandonasse.

Mesmo assim, o piloto, que vê a oportunidade de continuar na Fórmula E em tempo integral no futuro - seu contrato com o IMSA acaba no final deste ano - está usando cada volta para ganhar experiência. "Espero que consiga estrear direito em Sanya (na próxima etapa, na China, dia 23 de março), porque está complicado: levei porrada nas duas corridas até agora. Mas cada volta é um aprendizado. Agora vou dar um reset na cabeça, nas 12h de Sebring, e voltar para Sanya com tudo."

Não é por acaso que Nasr fala em "resetar a cabeça" na corrida do IMSA. Afinal, ele conta que foi na categoria norte-americana que ele redescobriu o encanto com o automobilismo que tinha ficado um pouco de lado especialmente em seu segundo ano na Fórmula 1, quando teve de lidar com uma equipe Sauber que não tinha recursos suficientes para dar iguais condições aos dois carros - e cuja preferência era dada ao sueco Marcus Ericsson, cujos apoiadores compraram a equipe por meio de um fundo de investimentos suíço.

"Saindo de dentro de um paddock da F-1 você consegue voltar a sua essência. E me perguntei: o que me motivou a ser um piloto? A vontade de ganhar, de competir, de estar em um carro bom, em uma categoria em que me divirta. Pude me reconectar com isso e vim muito puro no IMSA, podendo disfrutar disso em cada lugar que a gente foi."

Essa reflexão veio depois de um ano fora das competições, em 2017. "Na Fórmula 1 você é completamente dependente do seu equipamento, da estrutura, da equipe que tem por trás. Pude ter essa imagem clara de que é muito difícil você suprir suas necessidades como piloto na F-1. São duas ou três equipes no máximo em que você vai ter a chance de ter um resultado expressivo. Foi legal eu ter visto isso de fora em 2017, consegui me reintegrar e cheguei arrebentando no IMSA. Não conhecia nenhuma pista e pude, de cara, ter o favoritismo pelo título. Me diverti pra caramba. Não me lembro de ter me divertido tanto em um carro de corrida", revelou Nasr.

"Eu voltei a sentir tudo o que me levou a ser piloto. Porque dependia de um bom trabalho meu e da equipe, voltei a sentir que fazia a diferença. E, falando com os outros, todos tinham a mesma opinião: ali você tem chance de competir e todos vão para a corrida sabendo que têm chances de ganhar. Na F-1 você só consegue isso se tiver o timing certo de equipe, estrutura, tudo na hora certa."

Apesar do começo pouco ideal na Fórmula E, Nasr demonstra interesse em continuar na categoria para a temporada 6 (2019/2020), que começa em dezembro, após o término de seu contrato no IMSA. "É uma categoria atrativa em todos os sentidos", explicou. "Ela tem mostrado que o futuro é agora e acho que estão reinventando muita coisa."