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Com intoxicação coletiva e desmaio em quadra, Londrina reclama com CBV por jogo não adiado

Marcão, ponteiro do Londrina, desmaia durante jogo da Superliga contra a Cimed - Reprodução/Vipcomm TV
Marcão, ponteiro do Londrina, desmaia durante jogo da Superliga contra a Cimed Imagem: Reprodução/Vipcomm TV

Paula Almeida

Do UOL, em São Paulo*

01/02/2012 06h01

O Londrina/Sercomtel, lanterna da Superliga masculina de vôlei, decidiu apresentar um manifesto por escrito à CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) depois de a entidade não ter aceitado um pedido de adiamento da partida do último sábado contra a Cimed/Sky, em Florianópolis. Grande parte dos atletas do time paranaense teve um problema de saúde nos dias anteriores ao jogo, mas a Confederação alegou que não haveria tempo suficiente para fazer a mudança de data.

JOGADOR DO LONDRINA DESMAIA EM QUADRA NA PARTIDA CONTRA A CIMED

  • Após o jogo do último sábado, o central Gustavo, da Cimed, lamentou o problema dos jogadores do Londrina, mas ressaltou que os atletas da equipe catarinense tinham que fazer seu trabalho.

    Já o central Juliano, do time paranaense, criticou o fato de o jogo não ser adiado. "O público veio e assistiu a um jogo lamentável, onde um atleta desmaia em quadra, três atletas ficam sentados no banco porque não podem. É uma pena que na Superliga, o maior campeonato do mundo, ainda haja uma situação como essa".

    Crédito do vídeo: Vipcomm TV/Divulgação

Na semana passada, quando o Londrina estava em Montes Claros para o jogo contra o time local, 15 dos 17 membros da delegação tiveram uma intoxicação alimentar. Alguns jogadores foram atendidos em um hospital da cidade, e os mais debilitados tiveram de adiar em um dia a viagem para a capital catarinense.

“Durante o jogo [contra o Montes Claros, na quarta-feira], alguns atletas já referiram que não estavam se sentindo bem. Logo após o jogo, dois atletas passaram mal ainda no ônibus. Outros tiveram diarreia no hotel. Nós medicamos, mas quem não melhorou, foi encaminhado para o hospital”, relatou Clayton Fuzetti, fisioterapeuta do Londrina, ao UOL Esporte. “Na quinta pela manhã, mais cinco pessoas sentiram a reação, inclusive eu, uma pessoa do departamento de marketing e o assistente técnico. Esses foram incapacitados de seguir com o time para Florianópolis. Na noite de quinta para sexta, dos cinco que viajaram, dois passaram mal e foram para um pronto-atendimento em Florianópolis”.

Diante dos sintomas apresentados pelos jogadores - dores abdominais, náusea, vômitos, diarreia e fraqueza nas pernas -, o Londrina tentou, por volta das 14h de sexta-feira, solicitar o adiamento da partida contra a Cimed, agendada para as 20h de sábado. Primeiro, o supervisor técnico Nelson Frazoi ligou para Marcelo Garim, da equipe catarinense, que disse que só aceitaria a mudança desde que a CBV autorizasse e que os dois próximos jogos da Cimed (contra o Campinas, no dia 1º, e contra o Montes Claros, no dia 4) também fossem reagendados.

“Eu falei pra ele ver se tinha alguma determinação da CBV. Eu disse que se houvesse uma determinação da CBV, eu pediria para transferir o jogo de quarta e o jogo da Globo (contra o Montes Claros), porque nós não temos condição de aceitar uma decisão que prejudique nossa equipe”, explicou Garim ao UOL. “A CBV nos deu um retorno e disse que nunca houve situação de transferir jogo por isso. Assim, é inquestionável o posicionamento da Cimed”.

ARGUMENTOS DE LONDRINA, CIMED E CBV

LONDRINAEquipe pediu o adiamento do jogo contra a Cimed porque os atletas tiveram uma intoxicação alimentar nos dias anteriores e, segundo o clube, estavam sem condições físicas de entrar em quadra no sábado
CIMEDDeixou a decisão para a CBV, mas ressaltou que, se o jogo contra o Londrina fosse adiado, as duas partidas seguintes também teriam que mudar de data para o time ter tempo suficiente para se preparar
CBVDecidiu pelo não adiamento alegando que não havia tempo hábil para a alteração de data e lembrou que questões de saúde dos jogadores não estão entre os motivos listados no regulamento para mudanças na tabela

O Londrina ainda tentou o adiamento diretamente com a CBV, que recusou. Em resposta oficial à reportagem via assessoria de imprensa, a entidade justificou que não haveria tempo hábil para adiar a partida, lembrou que casos como esse não estão previstos no regulamento e que um reagendamento atrapalharia toda a logística já preparada para a partida.

De fato, o Artigo 14 do regulamento geral da Superliga, que lista os motivos que causariam qualquer transferência de horários, datas e locais de jogos, não cita questões de saúde, apenas problemas com ginásio, perda de mando por penalidade disciplinar e exigências da TV que transmite o campeonato. O texto, no entanto, é impreciso ao falar que “motivos de alta relevância” também possibilitam essas mudanças.

Na temporada passada da Superliga feminina, por exemplo, em abril de 2011, o ônibus com a delegação do Vôlei Futuro sofreu um acidente no caminho para Osasco e o jogo daquele dia entre as duas equipes, válido pelas semifinais, foi adiado. A partida foi remarcada para oito dias depois, mas a maioria das jogadoras do time de Araçatuba entrou em quadra com hematomas e algumas delas reclamaram do pouco tempo tido para se recuperarem fisica e psicologicamente. Na ocasião, o Osasco venceu por 3 sets a 0.

Sem a permissão do adiamento, Cimed e Londrina entraram em quadra no último sábado e os mandantes venceram o duelo com facilidade, por 3 a 0 (25-15, 25-13 e 25-21). A equipe paranaense, porém, alega que seus atletas não tinham condições físicas de jogo, embora não tenham se recusado a jogar. De fato, um deles, o ponteiro Marcão, destaque da equipe na Superliga, passou mal durante o terceiro set e foi atendido pelos médicos. Vale lembrar que uma vitória dos catarinenses já era esperada, uma vez que o Londrina está na lanterna da Superliga com apenas um triunfo e a Cimed é vice-líder.

Embora o departamento jurídico do clube ainda esteja estudando a possibilidade de pedir o cancelamento do resultado da partida, o Londrina pretende, por enquanto, apresentar um manifesto formal à CBV. “Eu já preparei um relatório mostrando que a equipe não ficou satisfeita com a decisão da CBV de não adiar o jogo e que de maneira nenhuma a gente foi a favor dessa decisão”, comentou Clayton Fuzetti. “Vamos fazer um manifesto mostrando o ocorrido e dizendo que eles devem prezar pela integridade dos atletas”.

*Atualizada às 9h13