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Eleito na FIVB, Ary Graça contraria pedido de ministro por alternância ao seguir na CBV

Ao lado de sua esposa, Ary Graça comemora vitória na eleição da presidência da FIVB - Luiz Pires/VIPCOMM
Ao lado de sua esposa, Ary Graça comemora vitória na eleição da presidência da FIVB Imagem: Luiz Pires/VIPCOMM

Gustavo Franceschini e Luiz Paulo Montes

Do UOL, em São Paulo

22/09/2012 06h00

Ary Graça será o homem mais importante do vôlei mundial nos próximos anos, mas continuará dando as cartas no esporte brasileiro. A decisão do cartola de se manter à frente da CBV mesmo recém-eleito presidente da Federação Internacional contraria o pedido feito por Aldo Rebelo, ministro do Esporte, que pede alternância de poder aos cartolas. Mais que isso, exemplifica um padrão constante no esporte olímpico brasileiro. 

O dirigente mais poderoso do vôlei brasileiro ocupa a presidência da CBV há 15 anos, desde que Carlos Arthur Nuzman deixou a entidade para comandar o COB. Agora, ele deve tirar uma breve licença para se habituar à FIVB para depois seguir nas duas cadeiras. Até então presidente também da confederação sul-americana, ele só deixou o cargo porque o estatuto da federação internacional não permite a sequência. 

A postura contraria o pedido do Ministério do Esporte. No começo deste mês, Aldo Rebelo lançou o novo pacote de benefícios do Governo Federal ao lado da presidente Dilma Rousseff e afirmou, em entrevista ao UOL e à Folha, que a alternância de poder é uma das exigências do poder público às confederações. 

ARY GRAÇA É ELEITO PRESIDENTE DA FIVB

  • Luiz Pires/VIPCOMM

“Os que já estão há muito tempo não serão tão prejudicados pela medida. Quem ficou 25 anos espera o quê? Mais 25? Não é uma casa real”, disse o político ao programa “Poder e Política”. 

O dirigente mais longevo do esporte atualmente se despede neste ano. Roberto Gesta de Melo comanda a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) há 25 anos, mas em 2013 dará lugar a Antônio Martins Fernandes. “Depois de várias tentativas, eu finalmente consegui impor essa norma de até dois mandatos”, resumiu o cartola, que diz ter passado anos sendo reeleito contra sua vontade, atendendo aos pedidos de confederações.

Agora, quem assume a “liderança” é Coaracy Nunes, dos Desportos Aquáticos, com 24 anos de poder. Ele, no entanto, não parece ver com bons olhos a iniciativa do ministro. “Eu não vi, andei viajando e não vi isso [que o ministro falou]. Eu fui eleito corretamente. Não vejo problema. Não quero comentar essa entrevista dele”, disse o dirigente. 

Só que a pressão por mudança não é só política. Há dois anos, a Petrobras iniciou com boxe, levantamento de peso, remo, taekwondo e esgrima um projeto que resultaria, entre outros resultados, nas três medalhas conquistadas por pugilistas brasileiros em Londres. 

Para selecionar seus parceiros, a estatal buscou entidade cujos presidentes estivessem, naquela altura, em seu primeiro mandato. Por conta disso, decidiu não seguir patrocinando a Confederação Brasileira de Handebol, que segue com Manoel Luiz de Oliveira no cargo há 23 anos. 

“Creio que esta decisão venha para o futuro, não para este mandato. Me parece que a sugestão é que o presidente tenha um mandato e mais um. Isso impediria que qualquer brasileiro pudesse fazer parte de organizações internacionais. Temos o exemplo do Ary Graça, que vai ser presidente da FIVB. Se tivesse um ou dois mandatos na CBV só, jamais teria isso”, disse o dirigente. 

A falta de alternância começa pelo próprio COB. Nuzman está há 17 anos na entidade e, neste ano, garantiu a extensão de seu mandato até 2016. Paralelamente, ele ainda acumula o mesmo cargo no Comitê Organizador dos Jogos do Rio de Janeiro. Apesar de evitar se indispor com o Governo Federal, ele já manifestou algumas vezes sua contrariedade com o tema. 

Mais que isso, a entidade defende mais de dois mandatos. Em entrevista ao UOL Esporte no ano passado, Marcus Vinícius Freire, superintendente do COB, defendeu que o prazo ideal é de 12 anos, já que quatro seriam insuficientes para que o dirigente fosse reconhecido internacionalmente. 

“O hipismo agora tem um problema assim. O presidente [Luiz Roberto Giugni] não pode ser reeleito, apesar do bom trabalho feito. Acho que o mínimo seriam dois mandatos. Mas a solução ideal é a feita pelo COI, com 12 anos. Quatro é pouco para o nível internacional. Precisa de pelo menos oito. E 12 é o que eu acho que é um tamanho legal”, disse o ex-jogador de vôlei. 

O QUE DIZEM ALGUNS PRESIDENTES SOBRE A ALTERNÂNCIA DE PODER

ConfederaçãoPresidenteO que diz sobre a declaração de Aldo Rebelo
AtletismoRoberto Gesta"Talvez seja o caso de estudar isso com as confedarações. Acho que devemos seguir com o máximo de 2 mandatos. O ministro quer estabelecer uma política global e um dos ítens é essa renovação."
BasqueteCarlos Nunes"Recebo essa afirmação dele com muita tranquilidade. Quando assumi, modifiquei o estatuto para só ter 2 mandatos. Senti que isso era necessário para promover essa alternância"
BoxeMauro José da Sillva "Sou completamente a favor do que ele falou. Ninguém deve ficar perpétuo. Eu fico mais uma eleição e passo para outro. É assim que deve ser. Eu entendo que duas gestões estão de bom tamanho."
CanoagemJoão Tomasini"A mudança tem que ocorrer com calma. Temos Olimpíada em 4 anos. Não é justo quem carregou o piano até aqui ser excluído dessa maneira. Não sou contra a alternância. Mas tem que ser com calma".
Desportos AquáticosCoaracy Nunes"Eu não vi, eu andei viajando e não vi isso. E não quero comentar a palavra dele. Ele fala o que ele quer. Eu fui eleito tudo corretamente. Não vejo problema. Me dou o direito de não comentar o que ele disse."
HandebolManoel Oliveira"Vi a declaração, mas não afeta a CBHb. Reconheço que estou há muito tempo no cargo (23 anos). Mas no esporte ninguém compra mandato. Quem tem longevidade, fez por merecer. Eu não defendo essa teoria (de alternância), mas respeito o que diz o ministro".