Topo

'Davids' brasileiro supera doença que quase o cegou e se destaca no vôlei

Deivid foi um dos destaques do Vôlei Taubaté na conquista do Campeonato Paulista - Divulgação/Vôlei Taubaté
Deivid foi um dos destaques do Vôlei Taubaté na conquista do Campeonato Paulista Imagem: Divulgação/Vôlei Taubaté

Fábio Aleixo

Do UOL, em São Paulo

03/11/2014 06h00

Cada vez que entra em quadra para defender o Taubaté, Deivid Junior Costa já se sente um grande vencedor, independentemente do que venha a acontecer na partida. Só o fato de poder seguir jogando vôlei é um feito e tanto para o atleta de 26 anos.

Há pouco mais de um ano, o central de 2,06m correu sérios riscos de ficar cego do olho esquerdo. Tudo por conta do ceratocone, uma doença que reduz a rigidez do colágeno da córnea, dando-lhe um formato mais cônico. A enfermidade provoca visão borrada, imagens fantasmas e sensibilidade à luz. E foi tudo isso que Deivid teve de enfrentar ao longo da temporada 2012/2013, quando defendia o Pindamonhangaba (atual Taubaté). Além disso, tinha de lidar com 21 graus de astigmatismo.

“Eu jogava praticamente sem enxergar nada com o olho esquerdo. Dependia totalmente do direito. Nem eu sei como conseguia jogar, acho que era mais uma questão de instinto. Foi totalmente na raça que disputei aquela Superliga”, revelou Deivid em entrevista ao UOL Esporte.

O problema só foi corrigido graças a um transplante de córnea, feito em abril de 2013 em uma clínica de Sorocaba. Dali até junho deste ano, ficou totamente longe das quadras. O período de afastamento deveria ter sido apenas de quatro meses, e não 18. Porém no meio do processo de recuperação, os pontos acabaram estourando.

Apesar do longo período de inatividade, o retorno tem sido melhor do que o esperado. Na semana retrasada, Deivid ajudou a equipe de Taubaté a conquistar o inédito título paulista. Foi titular nas duas partidas decisivas contra o Sesi-SP graças a uma lesão de Sidão. Agora, seu foco está na Superliga, na qual o time do interior paulista entra como um dos favoritos para ficar com a taça após investir pesado e contratar atletas de renome como Lipe, Rapha e Lorena.

“Sou um vencedor só pelo transplante já ter dado certo. Posso dizer que sou abençoado por Deus por poder seguir fazendo o que amo, que é jogar vôlei, ter isso como minha profissão. Não há motivos para eu ficar triste. Hoje posso dizer que minha qualidade de vida melhorou 95%. Em quadra, ainda estou aquém do que fiz em Pindamonhangaba, mas a tendência é só melhorar”, disse Deivid.

O jogador tem chamado a atenção também por seu visual. O central sempre joga com um óculos semelhante ao utilizado pelo ex-jogador de futebol holandês Edgar Davids.

“O pessoal brinca que sou o Davids, principalmente meu irmão que adora futebol. É algo exótico mesmo, até os torcedores me perguntam porque uso óculos para jogar.  Mas não é uma questão estética, é mesmo para proteger os pontos que ainda tenho no olho. Não gosto e nem seria bom usar lente de contato. Nestes óculos, tenho também um suporte para usar uma lente para corrigir o astigmatismo, que hoje já baixou para 1,75 grau”, contou o jogador.

Davids - Charlie Crowhurst/Getty Images - Charlie Crowhurst/Getty Images
O jogador holandês Edgar Davids ficou marcado pelo uso dos óculos por conta do glaucoma
Imagem: Charlie Crowhurst/Getty Images

Deivid disse também que o período que ficou longe do vôlei serviu para se reaproximar da sua família e repensar o curso de sua carreira, que se desenhava promissora na juventude. Em 2007, defendendo a seleção brasileira foi campeão mundial juvenil na Índia e acabou eleito o melhor jogador da competição.

“Meu foco agora é total no vôlei. Neste tempo fora repensei muitas coisas. Ao longo da minha carreira, teve momentos em que não pensava no vôlei, saía para a noite e isso me complicou muito”, afirmou.