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Jogadora da seleção descobriu o vôlei na fila de um restaurante popular

Mara iniciou o ciclo olímpico na seleção - Oswaldo Forte/MPIX/CBV
Mara iniciou o ciclo olímpico na seleção Imagem: Oswaldo Forte/MPIX/CBV

Leandro Carneiro

Do UOL, em São Paulo

17/07/2017 04h00

Mara foi campeã com a seleção brasileira do Torneio de Montreux neste ano. Com a vaga deixada por Fabiana e os desfalques de Juciely e Thaisa, a jogadora ganhou espaço no começo de trabalho do técnico José Roberto Guimarães. Mas chegar até aqui e rodar o mundo representando o Brasil não foi tão fácil.

A central não sonhava em ser jogadora de vôlei. Ela sequer sabia o que era a modalidade. Era só mais um dia comum na fila de um restaurante popular, em que pagava R$ 1 para almoçar, quando surgiu “um anjo”, como ela mesmo diz, em sua vida.

Chamando atenção por sua altura, Mara foi questionada se era jogadora de vôlei. Ela não sabia nem o que era a modalidade. Da mãe, escutou a frase: "preto e pobre não tem futuro, deixa para lá". Mas ela resolveu arriscar e conseguiu chegar à seleção.

“Eu desconhecia o esporte, vim do interior (de Sabinópolis, em Minas Gerais). Quando você vem do interior, a vida é cresce, tem filho e cuida do seu marido. Minha cabeça era essa. Da minha família também. Vim de uma família muito humilde, não tinha condições de pegar vale transporte e o treino era muito longe. Eu andava muito a pé. Comecei a ver no esporte uma oportunidade para melhorar de vida, dar situação melhor para minha mãe, minha família. Quando veio retorno, família viu que era isso que queria fazer. Além de ser boa, conseguiria trazer uma renda”, disse ao UOL Esporte.

“Eu estava num restaurante popular, comida era R$ 1. Estava na fila com minha bandejinha, falo que é um anjo que apareceu na minha vida. Era uma mulher que jogava no Mackenzie. Falou: 'nossa, você joga vôlei? Você é muito alta'. Eu falei não, só era uma comprida na fila. Ela falou: 'vai lá fazer o teste e deu o número'. Minha mãe falou ‘olha filha, não vai nessa. Preto e pobre não tem futuro, deixa para lá’. Falei vou lá ver o que é, até hoje brinco que fui de salto, vestido, não tinha noção do que era”, completou.

Mesmo depois de chegar ao seu primeiro clube, Mara seguia com dificuldades. Foi Sheilla, com quem jogou no Rio de Janeiro há cinco anos, quem deu um tênis para que a central pudesse treinar no Mackenzie.

Mais que a dificuldade de não ter material para atuar, a central ainda tinha o longo percurso para chegar ao clube. Era uma caminhada de alguns quilômetros por uma estrada de pedra até chegar ao ponto de ônibus

Hoje, Mara consegue conquistar seu espaço. Em um ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, cheio, ela escuta gritos e mais gritos por seu nome, tudo por uma foto.

“Eu fico muito feliz porque é o carinho que o povo tem pela gente. As pessoas vêm, querem tirar foto. Dou atenção porque é muito gostoso receber carinho desse. A gente trabalha para isso, é muito gratificante”, finalizou.