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Os bastidores do basquete de Franca, que joga com uma bomba-relógio na mão

Jogadores do Franca se abraçam durante jogo do NBB - Divulgação
Jogadores do Franca se abraçam durante jogo do NBB Imagem: Divulgação

Karla Torralba*

Do UOL, em Franca (SP)

06/03/2015 06h00

Sete meses se passaram desde que a crise foi instaurada no Franca Basquete. Sem um patrocinador de peso para bancar despesas de R$ 350 mil por mês, o time quase fechou as portas no segundo semestre de 2014. Hoje, as dívidas chegam a R$ 1,3 milhão e uma “revolução administrativa” tenta livrar o clube dessa “bomba-relógio”.

Nesse período, técnico, jogadores e dirigentes tiveram que trabalhar dentro e fora de quadra para não deixar o maior campeão nacional morrer e poder disputar a edição do Novo Basquete Brasil. Jogadores não recebiam o seu salário em dia e havia até mesmo a chance de deixarem o Franca a qualquer momento.

A situação precisou ser exposta com clareza: não seria possível cumprir os R$ 250 mil de folha salarial dos atletas e comissão técnica, mas somente 50% do compromisso. “O dinheiro vinha, bem dizer, 100% da Vivo (antiga patrocinadora que deixou o time em agosto de 2014). Naquela época, a situação do clube era delicada e tinha 90% de chance de acabar. Hoje essa chance está em 50%”, contou o presidente do Franca, Alexandre Lima Resende, que assumiu o comando do time em outubro do ano passado.

“Houve um momento muito delicado em que havia compromissos, mas não havia recursos”, lembrou o treinador Lula Ferreira. “É aí que quero enaltecer os jogadores. As empresas conseguiram garantir metade do combinado e a diretoria correria atrás da outra metade. Os jogadores teriam a opção de ir atrás de um outro clube. Naquele momento nenhum jogador tinha feito oito partidas e estariam liberados para sair. Pela qualidade deles, eles teriam mercado. O time todo falou ‘vamos ficar’. Eu falei que não ia sair, eu sou o técnico, eu não posso sair. E nenhum jogador acabou saindo”, completou.

Pelo regulamento do NBB, um jogador não pode mudar de clube após oito jogos atuando pela mesma equipe.

Enquanto era preciso correr atrás para arrumar dinheiro, o grupo se mostrou unido em quadra e fora dela. “Tínhamos um jogador com compromissos mais difíceis e o grupo se dispôs a cotizar para dar a esse jogador o suporte que precisava. Acabou não precisando, mas esse foi o espírito do grupo”, recordou Lula.

Aos 21 anos, o ala Leo Meindl não escondeu o medo de passar pela crise fora de quadra.

“Foi um susto muito grande. O basquete de Franca tem 60 anos ininterruptos e vimos desmoronar em questão de um ano. Por conta de má administração quase foi tudo por água a baixo. Nós jogadores decidimos ficar. Agora estamos um pouco mais tranquilos. Para os jogadores ainda não teve mudança, mas hoje vemos um futuro. Eu fiquei assustado, senti um pouco. Não sabia se jogaria depois dos 8 jogos porque o time estava correndo o risco de acabar mesmo. Mas algumas pessoas deram a palavra para que continuássemos jogando, com uma conversa sincera e resolvi ficar”, explicou.

A ‘revolução’ administrativa que tenta salvar o Franca

Com dívida de R$ 1,3 milhão, a partir de março o Franca Basquete passou a ser administrado por gestores. Esse grupo é formado por diferentes setores da sociedade francana que querem salvar o clube e criar um modelo totalmente novo de administração.

Para isso, o estatuto precisou ser mudado e pela lei, esse grupo gestor tem seis meses, a partir de agora, para “arrumar a casa”. Enquanto isso, o conselho deliberativo fica suspenso.

O grupo é formado pela prefeitura, associações comerciais e o maior patrocinador de Franca, o Magazine Luiza. O prefeito da cidade, Alexandre Ferreira, faz parte da iniciativa.

“Queremos um planejamento de 2, 3, 5 anos tranquilos. Pensar o basquete de uma forma autossustentável”, analisou o prefeito.

Hoje, a prefeitura de Franca investe em torno de R$ 60 mil por mês no time de basquete. Transporte, uniforme, alimentação e despesas com federação são bancados pela administração pública. “A prefeitura tem limitação legal para investir no esporte de alto rendimento. Pagamos custos em função de projetos da câmara municipal, com anuência do Tribunal de Contas. Os custos são fixos”, disse Alexandre Ferreira.

A tentativa de crescer o programa sócio-torcedor também é uma preocupação.

Por fim, a última, mas não menos importante, a proposta do gestor e prefeito Alexandre Ferreira justamente de trazer mais eventos para a cidade, como o Jogo das Estrelas do NBB, que começa nesta sexta (6) e vai até sábado. “Queremos mostrar que Franca ainda respira basquete e pode dar retorno ao patrocinador”, completou.

*A repórter Karla Torralba viaja a convite do Bradesco