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No vermelho, Confederação de Basquete faz apelo por patrocínio estatal

Carlos Nunes preside a Confederação Brasileira de Basquete desde 2009 - Divulgação/CBB
Carlos Nunes preside a Confederação Brasileira de Basquete desde 2009 Imagem: Divulgação/CBB

Fábio Aleixo e Vinícius Segalla*

Do UOL, em São Paulo

15/05/2015 06h00

Com uma dívida de R$ 8,7 milhões, empréstimos de milhões a serem pagos, e déficit acumulado de R$ 10,6 milhões – segundo consta no balanço patrimonial publicado no mês passado -  a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) só vê uma alternativa para conseguir colocar em ordens as suas contas e tentar sair do vermelho: a entrada de um grande patrocinador estatal.

Desde 2013, com o fim do contrato com a Eletrobras, a entidade não conta com um aporte financeiro deste tipo. A maior parte do aporte financeiro vem do Bradesco. A Nike também patrocina a CBB. Das grandes confederações olímpicas (incluindo, vôlei, natação, judô, e tênis) do país, a CBB é a única que não possui patrocínio estatal.

“A superação desse momento só se dará quando o basquete receber o mesmo tratamento que as outras demais grandes modalidades recebem, por meio de um contrato de patrocínio de alguma empresa estatal, o que permitirá a execução de atividades em quantidade e formato não abrangidas pelas verbas públicas diretas”, diz a Confederação.

E nesta busca por uma empresa estatal disposta a patrocinar o basquete brasileiro, a CBB tem apelado ao Ministério do Esporte. O presidente da entidade, Carlos Nunes, mantém reuniões frequentes com Ricardo Leyser, secretário-executivo da pasta.

“Estamos fazendo um esforço grande para ajudar o basquete. A CBB precisa de mais um parceiro e estamos tentando ajudá-los para conseguir um patrocinador, eventualmente uma empresa estatal. O desafio é superar esse momento duro administrativamente”, afirmou o representante do Ministério.

O momento é tão duro que até agora a CBB não quitou integralmente o montante acordado para receber o convite para o Mundial Masculino de 2014, na Espanha. Segundo o UOL Esporte noticiou em 18 de março, a CBB ainda tem de pagar duas parcelas do valor total de US$ 1 milhão. 

Ao mesmo tempo em que tem ajudado a CBB na procura por um patrocinador, o órgão tem sido o principal parceiro da confederação neste ciclo olímpico. A preparação das seleções adultas têm sido bancadas com verbas de convênios.

Desde junho do ano passado, está em vigência um convênio de R$ 5,1 milhões para a equipe feminina. Já para a seleção masculina deverá ser liberado em breve um convênio no montante de R$ 8,3 milhões visando à preparação para os Jogos Olímpicos de 2016.

Segundo o UOL Esporte apurou, a demora na liberação do convênio para o time masculino tem causado irritação na direção da CBB. Sem a verba em caixa, a entidade não conseguiu ainda definir sua programação de treinos para os Jogos Pan-Americanos de Toronto (CAN), em julho, e para o Pré-Olímpico da Cidade do México (MEX), no fim de agosto.

O Ministério afirma que “está finalizando os trâmites do novo convênio” e que ele ajudará nos treinos, disputas destas competições e realização de amistosos nos Estados Unidos, na Espanha, em Porto Rico e no Equador.

Basquete - AFP PHOTO/ JORGE GUERRERO - AFP PHOTO/ JORGE GUERRERO
Imagem: AFP PHOTO/ JORGE GUERRERO

Recursos próprios x dinheiro público

Os balanços contábeis dos últimos anos da CBB mostram que a entidade tem capacidade de captar recursos da iniciativa privada e ampliar a participação deste tipo de receita em seu faturamento total quando é reduzida a quantidade de dinheiro público que é canalizada para as suas contas.

Tradicionalmente, de uma maneira ou de outra, são os cofres públicos os responsáveis por mais de 50% dos recursos financeiros que entram nas contas da CBB, basicamente advindo de três fontes distintas: leis de incentivo e convênios com o Ministério do Esporte, repasses de valores provenientes do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e patrocínios de empresas estatais. O resto do caixa da confederação é composto por verbas de patrocínio de empresas privadas, cotas de televisão e investimentos financeiros.

No histórico recente da instituição, a estatal Eletrobras patrocinou a entidade até 2013, quando transferiu R$ 5,5 milhões à CBB. Este valor representou 59,6% das verbas de patrocínio no ano. Outros R$ 3,8 milhões entraram nas contas da confederação de patrocínios privados, perfazendo um total de R$ 9,3 milhões.

As outras verbas públicas de 2013 foram R$ 11,7 milhões advindos de leis de incentivo e convênios com o Ministério do Esporte e mais R$ 4 milhões repassados pelo COB. Esta soma é igual a R$ 21,2 milhões. Já a receita total da CBB no mesmo ano foi de R$ 27,5 milhões. Quer dizer: em 2013, 77,1% dos recursos da Confederação Brasileira de Basquete veio dos cofres públicos, e apenas 22,9% de receitas próprias.

Já em 2014, a Eletrobras deixou de patrocinar a CBB. Com isso, a entidade perdeu os R$ 5,5 milhões que vinham da estatal, mas sua verba de patrocínio caiu apenas de R$ 9,3 milhões para R$ 8,7 milhões, ou 6,5%. Isso porque, sem o patrocínio estatal, a entidade foi atrás de conseguir um contrato maior junto a seu então principal patrocinador privado, o banco Bradesco. A instituição assinou um contrato de patrocínio master com a CBB, subindo de R$ 3,8 milhões para R$ 8,7 milhões as verbas transferidas à confederação.

Assim, o dinheiro público repassado à CBB no ano passado se resumiu às verbas do COB (R$ 4,2 milhões) e dos convênios com o Ministério do Esporte e leis de incentivo (R$ 9,8 milhões), totalizando R$ 14 milhões, ou 57,6% de tudo que arrecadou a entidade, que foi R$ 24,3 milhões.

Ou seja: de 2013 para 2014, o dinheiro público direcionado à CBB caiu de R$ 21,2 milhões para R$ 14 milhões, uma redução de 34,2%. Enquanto isso, o dinheiro privado na entidade subiu de R$ 6,3 milhões para R$ 10,3 milhões, uma alta de 63,5%. Ou, ainda, quanto menos dinheiro público é injetado na confederação, mais dinheiro privado alcança os seus cofres.

* Colaborou Bruno Doro