 JULIO GOMES FILHO - Enviado UOL Esporte | Brasil sofre, mas vence a Bélgica e está nas quartas-de-final da Copa 10h17 - 17/06/2002
Julio Gomes Filho Enviado especial do UOL na Copa Em Kobe (Japão)
O Brasil sofreu para furar a retranca belga. Mas, contando novamente com o brilhantismo dos seus dois maiores craques, o time de Luiz Felipe Scolari conseguiu vencer por 2 a 0 nesta segunda-feira, em Kobe, e se classificar para as quartas-de-final da Copa do Mundo.
Depois de três jogos sem entusiasmo e com torcida contra na Coréia do Sul, a seleção estreou em solo japonês com um estádio inteiro torcendo pela sua vitória. A maioria dos 40.440 pagantes comemorou o golaço salvador de Rivaldo aos 22min do segundo tempo, quando a Bélgica era melhor do que o Brasil em campo. Aos 42min, viu Kléberson avançar pela direita e cruzar na medida para Ronaldo fazer o segundo e matar o jogo.
Com cinco gols até agora e mantendo a sua média de pelo menos um gol por partida, Ronaldo já é o artilheiro da Copa ao lado do alemão Klose. "Hoje foi maravilhoso, o estádio inteiro estava pintado de verde-e-amarelo. A gente tem que acreditar até o último minuto, que o gol acaba saindo", disse o atacante, ainda no gramado.
Agora, a seleção parte para a cidade de Shizuoka, sempre no Japão. No próximo dia 21 (sexta-feira), às 3h30 de Brasília, o Brasil joga por uma vaga nas semifinais contra a forte Inglaterra. Os ingleses enviaram vários representantes, inclusive o astro David Beckham, para assistir à partida de hoje em Kobe.
Quando a seleção entrou em campo, encontrou, pela primeira vez nesta Copa, um público absolutamente favorável. O Kobe Wing Stadium estava literalmente pintado de amarelo. Além de muitos brasileiros, as arquibancadas tinham milhares de japoneses fãs do futebol brasileiro.
Durante a execução do hino nacional, foi possível até mesmo escutar a letra -cantada pelos torcedores brasileiros. Durante a partida, uma bandinha encarregou-se de deixar o ritmo de samba no ar o tempo inteiro. Gritos de "Brasil, Brasil, Brasil" foram constantes.
Nesta Copa, quem sabe a torcida brasileira de hoje só tenha perdido em quantidade e intensidade para a torcida que, obviamente, os anfitriões Coréia e Japão têm em suas partidas.
Dois lances logo no início foram emblemáticos. Aos 6min, Rivaldo foi cobrar escanteio do lado direito do ataque. Os torcedores próximos se levantaram e foram ao delírio com a presença do craque naquela parte do gramado. Os flashes pipocaram nesta oportunidade e dois minutos depois, quando Roberto Carlos partia para a cobrança de uma falta da intermediária.
Mas, apesar de tudo isso, foi a Bélgica quem começou um pouco melhor, indo para cima da seleção brasileira. Logo a 1min, Mpenza avançou pela direita e, mesmo ainda fora da área, tocou por cobertura. Marcos espalmou, fazendo ótima defesa. Logo depois, foi Vanderhaeghe quem levou perigo ao gol brasileiro.
Com o tempo, a seleção passou a se acertar e ter mais posse de bola. Aos 6min, saiu o primeiro chute a gol. De Juninho, para fora. Aos 8min, no escanteio cobrado por Rivaldo e tão fotografado pelos japoneses, Gilberto Silva subiu livre, mas não conseguiu cabecear.
A Bélgica exercia uma forte marcação atrás. Van Buyten e Simons marcavam Ronaldo impiedosamente, assim como fazia Vanderhaeghe com Rivaldo; o atacante Mpenza voltava para fechar as subidas de Roberto Carlos; na frente, enfiado, ficava apenas Verheyen. Por isso, não demorou para Scolari armar o time num 4-4-2, com Edmílson saindo da zaga e indo jogar de volante. Ele passou a ser a "sombra" de Wilmots, melhor jogador belga.
Tocando de forma rápida, o time melhorou. Aos 19min, após uma bola recuperada por Juninho no meio de campo, Ronaldinho fez uma bela jogada e serviu Ronaldo dentro da área. O atacante bateu de primeira, com perigo, mas para fora. Aos 23min, a seleção arrancou aplausos. Após lançamento de Juninho, Ronaldo avançou pela direita, driblou Simons com um jogo de corpo e cruzou. Rivaldo tentou de voleio, mas a bola foi para fora.
A Bélgica só voltou a levar perigo em uma bola alçada na área, a sua especialidade ofensiva. Lúcio e Roque Júnior perderam de cabeça, e Wilmots conseguiu pegar o rebote e dar um voleio. Só que a bola saiu bastante, para a sorte de Marcos.
O que se via em campo era um Brasil tentando atacar em velocidade, com Juninho e Ronaldinho, e uma Bélgica "cozinhando" a partida. Resguardada na defesa e buscando acertar um lance de ataque para achar o seu gol.
E ele veio aos 36min, mas acabou anulado pelo árbitro jamaicano Peter Prendergast. Após cruzamento pela direita, Wilmots ganhou de Roque Júnior de cabeça e tocou no canto direito de Marcos. O juiz anulou, apontando uma discutível carga do atacante belga.
O Brasil não jogava bem, mas respondeu com quatro lances de perigo. Aos 37min, Juninho avançou pela direita e cruzou para Ronaldo, que ganhou de dois belgas, mas não passou pelo goleiro De Vlieger. Aos 40min, Ronaldinho lançou Rivaldo, que avançou pela esquerda e cruzou. Ronaldo se antecipou à vaga, mas o chute saiu por cima do gol.
Aos 46min, Ronaldinho recebeu a bola na intermediária, driblou três e chutou para ótima defesa de De Vlieger. Logo depois, Cafu cruzou da direita, Ronaldo e Rivaldo não dominaram e a bola sobrou para Roberto Carlos, dentro da área. Sem ângulo, ele soltou o pé. A bola passou por todo o gol.
O segundo tempo começou de forma parecida com o primeiro. A Bélgica cozinhando o jogo, e o Brasil dependendo mais das jogadas esporádicas dos atletas de frente.
Só que os belgas, mais tranquilos em campo, passaram a levar muito mais perigo e exigiram três ótimas defesas de Marcos. Aos 8min, em um chute de fora da área de Wilmots; aos 10min, em um lançamento na área para Mpenza; e aos 18min, em novo chute com classe de Wilmots.
O Brasil mudou aos 12min, com a entrada de Denílson no lugar de Juninho. O time perdeu em marcação no meio de campo, já que Ronadinho, mesmo mais recuado, não fazia o mesmo papel de Juninho. E Denílson, no ataque, perdeu logo suas três primeiras bolas.
Apesar das dificuldades, o gol acabou saindo. Não de uma jogada ensaiada ou resultando de uma combinação tática. Mas sim, mais uma vez, do brilhantismo técnico de um dos jogadores foras-de-série deste time. Após receber passe de Ronaldinho, Rivaldo dominou no peito, virou e chutou de perna esquerda. A bola tocou em Simons, enganou o goleiro De Vlieger e entrou. O estádio de Kobe explodiu em emoção -e alívio.
Cansado, o time da Bélgica teve dificuldades para voltar ao ataque e criar mais chances. Mesmo assim, a zaga brasileira deu duas bobeadas em bolas aéreas que quase resultaram em gols.
O Brasil, vencendo, sentia falta de um homem no meio para segurar a bola e fazer a ligação dos contra-ataques. Aos aos 36min, Scolari resolveu tirar Ronaldinho Gaúcho e colocar Kléberson, para manter a posse de bola e o resultado.
Kléberson fez mais do que isso, e foi decisivo aos 42min, quando avançou pela direita em velocidade e cruzou para Ronaldo. O atacante não perdoou e tocou por baixo do goleiro.
A partir daí, foi só festa. No campo e nas arquibancadas de Kobe.
BRASIL Marcos; Lúcio, Roque Júnior, Edmílson; Cafu, Gilberto Silva, Juninho (Denílson), Rivaldo (Ricardinho), Roberto Carlos; Ronaldinho Gaúcho (Kléberson), Ronaldo Técnico: Luiz Felipe Scolari
BÉLGICA Geert De Vlieger; Nico Van Kerckhoven, Daniel Van Buyten, Jacky Peeters (Wesley Sonck); Gert Verheyen, Timmy Simons, Yves Vanderhaeghe, Johan Walem, Bart Goor; Mbo Mpenza, Marc Wilmots Técnico: Robert Waseige
Local: Kobe Wing Stadium, em Kobe (Japão) Árbitro: Peter Prendergast (JAM) Auxiliares: Yuri Dupanov (BUL) e Mohamed Saeed (MDV) Cartões amarelos: Roberto Carlos (BRA); Vanderhaege (BEL) Gol: Rivaldo (BRA), aos 22min, Ronaldo (BRA), aos 42min do segundo tempo |