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Jovens radicados nos EUA podem dar ao Brasil vaga inédita na patinação

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

26/09/2013 06h00

Uma nação com temperaturas altas em supostos meses de frio e raríssima incidência de neve obviamente não pode ser uma potência dos esportes de inverno. Mesmo assim, nesta semana o Brasil pode quebrar uma barreira emblemática em seu modesto histórico olímpico, em uma das modalidades mais tradicionais do gelo. Dois atletas do país radicados nos EUA têm chances de conseguir a inédita classificação na patinação artística para os Jogos de Sochi de 2014, na Rússia.

Nunca o país esteve tão próximo desta façanha na patinação artística, a julgar pelo patamar de resultados recentes dos brasileiros. Isadora Marie Williams e Luiz Manella competem de quinta-feira a sábado no Troféu Nebelhorn, evento na Alemanha que oferece a última oportunidade de classificação para Sochi, uma espécie de repescagem internacional. São seis vagas em disputa para a categoria individual feminina e outras seis para a masculina.

Filha de mãe brasileira (a mineira Alexa), Isadora carrega boa parte da expectativa para fazer história por um país em que pisou poucas vezes na vida. 

No primeiro semestre, a adolescente terminou o último Mundial da modalidade na 25ª posição, em que as primeiras 24 competidoras se classificaram automaticamente para a Olimpíada de Inverno na Rússia. Isadora ainda leva à disputa pela vaga resultados relevantes, como o bronze no Golden Spin de Zagreb, em 2012.

"Eu não sei como as outras competidoras estão preparadas. Estou confiante porque treinei muito. Acho que tenho boas chances", diz Isadora, que nasceu em Atlanta e hoje reside na região de Washington.

Recentemente, Isadora fez uma exibição no Rio de Janeiro diante de fãs de sua faixa de idade. A atleta esteve em poucas ocasiões no Brasil, mas tem se esforçado para conhecer mais suas raízes, estudando português uma vez por semana nos EUA.

"A minha mãe é brasileira, portanto eu sou metade brasileira também. Eu gosto do jeito alegre e do barulho dos brasileiros. A minha casa é frequentada por brasileiros e eu gosto muito quando eles se reúnem na minha casa, é muito divertido. Adoro feijoada, guaraná, brigadeiro e pão de queijo. Gosto das músicas mais antigas em geral, como Marisa Monte, Gabriel O Pensador, Raça Negra, Roberto Carlos, Adriana Calcanhoto e Bebel Gilberto", conta a patinadora, que atualmente se apresenta ao som do tango Dark Eyes.

Neste ano, a jovem de 17 anos foi a única atleta da patinação artística a ser contemplada pelo Bolsa Atleta, programa de financiamento federal a esportistas de alto rendimento. A norte-americana naturalizada receberá R$ 1.850,00 mensais como auxílio de preparação. 

Além de Isadora, a Confederação Brasileira de Desportos de Gelo (CBDG) também aposta em Luiz Manella na lista de classificados para a Olimpíada. Com um 15º lugar no último Mundial Júnior  - o melhor resultado do país até hoje -, o jovem nascido em Londrina vive há oito anos em Miami, tem cidadania norte-americana, mas defende o Brasil desde 2010.

"Apesar de estar com o tornozelo machucado, eu acredito no meu trabalho e sei que tenho chance", afirma Manella, 18 anos, atleta que tem o salto quádruplo como principal trunfo técnico - um movimento que integra o repertório de poucos de seus adversários.

Mesmo antes da definição da vaga, a Confederação Brasileira celebra a possibilidade de contar com representantes competindo entre os melhores patinadores dos Estados Unidos. Além da dupla que briga pela classificação olímpica nesta semana, a patinação artística do país conta com a menina Karolina Calhoun, de 13 anos, atual campeã norte-americana de sua categoria – uma aposta já válida para o ciclo dos Jogos de Pyeongchang (Coreia do Sul), em 2018.

"Seria impossível treiná-los aqui. A nossa maior pista tem um quarto da pista de tamanho oficial. E as pistas não são fixas aqui. A maior que a gente tem está no Rio, mas deve mudar para outro local", afirma Márcio Pereira, diretor técnico de patinação artística da CBDG.

"Cheguei até as nacionais americanas, mas sou brasileiro nascido em Londrina, pé vermelho [como os londrinenses são chamados], então eu tenho que representar minha pátria. Aqui na América existem inúmeros rinques e treinadores. Eu não poderia chegar nesse nível aí no Brasil, pois ainda não temos estrutura pra isso", endossa o patinador Luiz Manella.

No Troféu Nebelhorn desta semana, Isadora compete nesta quinta e sexta. Já Luiz Manella entra em ação entre sexta e sábado. Os Jogos Olímpicos de inverno serão realizados de 7 a 23 de fevereiro de 2014, em Sochi, na Rússia.