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Rodada de protestos tem SP e Fla burlando ameaça de juiz e confusão da Lusa

Do UOL, em São Paulo*

13/11/2013 22h19

São Paulo e Flamengo encontraram uma maneira inusitada de protestar nesta quarta-feira, em Itu. Os jogadores das duas equipes pretendiam seguir a manifestação lançada pelo grupo Bom Senso F.C. e cruzar os braços depois do apito inicial, mas o árbitro Alício Pena Júnior ameaçou puni-los com cartões amarelos. Depois de muita discussão, os atletas decidiram trocar a paralisação por um “duelo de compadres”.

Durante praticamente um minuto, jogadores das duas equipes trocaram passes longos e improdutivos, lançando a bola de um lado a outro do campo. Alício Pena Júnior correu nas duas direções, mas não interrompeu a partida.

Na saída para o intervalo, Elias, volante do Flamengo, confirmou que os atletas foram "ameaçados" pelo juiz. "Acho que a Ditadura acabou né? Que foi colocado para a gente foi uma Ditadura. A gente é muito mais forte que isso, acho que com a ajuda do torcedor, todo torcedor, independentemente do time que torce, a gente tem que ir contra esses ditadores que tentaram proibir hoje a manifestação. Ameaçaram os 22 em campo de tomar amarelo, não existe isso na regra de jogo", disse o jogador.

Léo Moura, lateral do time carioca, foi outro a falar sobre o assunto. "Não podíamos deixar a bola parar. Temos que brigar por nossos direitos", disse o capitão do time rubro-negro.

Representantes da arbitragem, aliás, estão longe da unanimidade sobre o caso. "Não vi os lances ainda, mas a paralisação podia ter sido interpretada como uma infração, sim. Os jogadores que estavam posicionados para dar a saída podiam ser advertidos com cartão amarelo, mas é um caso de interpretação do árbitro", disse Marco Antônio Martins, presidente da Anaf (Associação Nacional de Árbitros de Futebol).

"O árbitro vai dar amarelo para os 22? Não existe isso! Só se ele alegar retardamento de jogo ou de reinício. Mas se a bola estiver rolando, não existe isso", respondeu o ex-árbitro Leonardo Gaciba.

O protesto dos jogadores vem sendo debatido desde uma reunião realizada pelo grupo no dia 4 de novembro, em São Paulo. Trata-se de uma reação do Bom Senso F.C. ao que o coletivo identificou como um descaso da CBF.

É a segunda manifestação coletiva do Bom Senso F.C. no Campeonato Brasileiro. Na 30ª rodada, disputada entre os dias 19 e 20 de outubro, o grupo realizou abraços coletivos antes de todos os 20 jogos do certame nacional.

Nas partidas que foram transmitidas pela TV (São Paulo x Flamengo e Coritiba x Corinthians), ao contrário do restante da rodada, os jogadores entraram em campo com faixas endereçadas à CBF. Esses duelos também foram marcados por um protocolo diferente na manifestação.

Enquanto o protesto de São Paulo x Flamengo foi alterado pela ação do árbitro, Coritiba e Corinthians fizeram uma paralisação de poucos segundos.

Entre os jogos que tiveram início mais cedo, o único que não seguiu a liturgia do protesto foi Botafogo x Portuguesa. Sem que se saiba a real intenção dos jogadores, alguns dos 22 titulares ficaram de braços cruzados antes de a partida começar, mas a verdade é que o estádio estava respeitando um minuto de silêncio. Quando a bola rolou, porém, eles agiram normalmente.

Coincidentemente, segundo o blog do jornalista Juca Kfouri, o árbitro Emerson de Almeida Ferreira também ameaçou punir os jogadores de Botafogo e Portuguesa.

Fundado por um grupo pequeno de jogadores para discutir pontos que eles reprovavam no calendário proposto pela CBF para a temporada 2014, o Bom Senso F.C. foi lançado como um manifesto com 75 signatários. Em menos de um mês, o movimento passou de mil adesões.

Além disso, o coletivo estabeleceu plano de atuação em cinco pilares (calendário, férias, pré-temporada, fair play financeiro e participação de atletas em conselhos técnicos de entidades) e conseguiu duas reuniões com a CBF. Nesses encontros, porém, o grupo achou que não foi recebido adequadamente.

Os jogadores então agendaram para esta quarta-feira um protesto. Em todas as partidas da 34ª rodada do Campeonato Brasileiro, as equipes entraram em campo com faixas de apoio ao movimento. Depois de o árbitro apitar o início, elas deram o pontapé inicial e cruzaram os braços.

* Colaboraram Leandro Carneiro e Paulo Passos