Topo

Bom Senso F.C. diz ter sido censurado em São Paulo x Fla, mas árbitro nega

Guilherme Costa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

14/11/2013 17h08

A arbitragem não está entre os tópicos primordiais de discussão no Bom Senso F.C., formado por jogadores de futebol para debater a gestão da modalidade, mas um juiz virou o grande antagonista do movimento. O coletivo fez um protesto na última quarta-feira, na 34ª rodada do Campeonato Brasileiro, mas Alício Pena Júnior ameaçou punir com cartões os atletas que aderissem à manifestação no duelo entre São Paulo e Flamengo. Nesta quinta, o grupo publicou nota oficial chamando o ato de “tentativa de censura”. O árbitro disse que apenas cumpriu a regra.

Na nota oficial, o Bom Senso F.C. ressaltou que todas as partidas da última quarta-feira tiveram pontapé inicial normalmente e que não foram prejudicadas pelo protesto. Os atletas entraram em campo com faixas alusivas ao movimento. Além disso, esperaram o apito inicial, deram a saída e cruzaram os braços em vez de iniciar os confrontos.

“Ninguém foi prejudicado: atletas, arbitragem, torcedores, TV, imprensa, patrocinadores e todos os demais envolvidos no espetáculo”, diz o texto oficial do coletivo de atletas.

Antes do jogo entre São Paulo e Flamengo, realizado em Itu, o árbitro Alício Pena Júnior condenou a manifestação. Ele conversou com Rogério Ceni e Leonardo Moura, capitães das duas equipes, e avisou que distribuiria cartões amarelos se os atletas cruzassem os braços.

“[Eles infringiriam] a regra 12, que fala em falta de correção passível de punição com cartão amarelo. Seria uma conduta antidesportiva, que mostraria desrespeito ao jogo”, explicou o árbitro em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Depois do aviso de Alício Pena Júnior, os jogadores de São Paulo e Flamengo resolveram fazer uma adaptação. Eles deram a saída, mas não cruzaram os braços. Em vez disso, ficaram trocando passes infrutíferos de lado a lado do campo durante quase um minuto. Após esse período, bateram palmas e começaram efetivamente o confronto.

“Aí a bola estava em jogo. Então, é uma situação normal. O Rogério Ceni e o Leonardo Moura são muito educados e não houve nada de intimidação. Eu só falei que ia aplicar a regra do jogo e que não permitiria que eles desrespeitassem a partida”, completou o árbitro.

Alício Pena Júnior disse que não recebeu nenhuma orientação para punir os jogadores de São Paulo e Flamengo. Segundo o árbitro, a bateria do celular dele acabou durante o deslocamento entre São Paulo e Itu, cidade em que a partida foi realizada.

"Quando cheguei, fui informado sobre essa situação e me disseram que o protesto já tinha acontecido nas partidas que começaram mais cedo. Se fosse um minuto de silêncio, tudo bem. Mas ficar parado durante um minuto com a bola em jogo contraria a regra do jogo", disse Alício.

Criado para discutir a gestão do futebol, o Bom Senso F.C. balizou as ações em cinco temas: calendário, férias, pré-temporada, fair play financeiro e participação de atletas em conselhos técnicos de entidades esportivas. O grupo foi lançado com um manifesto assinado por 75 jogadores, mas já conta com mais de mil adesões.

O Bom Senso F.C. conseguiu duas reuniões com a CBF, e esses encontros estão entre os principais motivos para o protesto da última quarta-feira. A avaliação dos atletas é que a entidade nacional não deu atenção às reivindicações do grupo.

O protesto coletivo da última quarta-feira foi uma forma de os jogadores mostrarem à CBF que o tom das manifestações será progressivo. Eles já haviam feito um abraço coletivo antes da rodada do Campeonato Brasileiro que foi realizada nos dias 19 e 20 de outubro. Nessa progressão, os atletas consideram que o último estágio é uma greve geral.