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Diretoria do São Paulo vira trunfo para resgatar lado bom do "pacote Nenê"

Nenê fez apenas um dos seus oito gols no Brasileirão no segundo turno da competição - Ale Cabral/AGIF
Nenê fez apenas um dos seus oito gols no Brasileirão no segundo turno da competição Imagem: Ale Cabral/AGIF

Bruno Braz e José Eduardo Martins

Do Rio de Janeiro e em São Paulo

08/11/2018 04h00

Nenê deixou de ser a solução dos problemas do time para ser personagem de notícia polêmica no noticiário do São Paulo nesta reta final do Campeonato Brasileiro. Antes com status de astro e de titular absoluto, ele caiu de rendimento no segundo turno do nacional e chamou a atenção por sua conduta. No último domingo (4), no empate por 2 a 2 com o Flamengo, o meia deixou o Morumbi mais cedo que os demais colegas, não participou da reza no vestiário e saiu sem falar com a imprensa.

Tal postura é vista, como disse o superintendente de relações institucionais do Tricolor, Diego Lugano, como algo esperado dentro do chamado "pacote Nenê". Para evitar que o camisa 10 volte a ter um comportamento negativo e para permitir que ele retome o bom futebol, a aposta do São Paulo está no bom relacionamento do atleta com a cúpula do clube.

O executivo de futebol, Raí, e Lugano foram dois dos principais incentivadores da contratação de Nenê no início do ano. Os dois já conheciam o jogador muito antes de ele vestir a camisa do Tricolor. Os três tiveram passagens pelo Paris Saint-Germain, sendo que Lugano e Nenê atuaram juntos.

"Eu ajudei muito o Lugano lá no Paris Saint-Germain, então por isso que ele me ajudou aqui... Brincadeira (risos). É um cara espetacular, um exemplo tremendo pela história que teve no São Paulo. A gente já falava há um tempo atrás dessa possibilidade, que acabava não dando certo das outras vezes. E a relação é muito boa. Um cara honesto, trabalhador e vencedor. E eu me identifico com ele porque sou muito assim também. Se não ganhar, eu fico maluco. Não gosto nem de perder os joguinhos do treino. Ele é assim e eu me identifico muito", disse Nenê, em entrevista ao UOL Esporte, concedida em junho.

Essa boa relação já foi importante para o camisa 10 no São Paulo em outras ocasiões. Com Dorival Júnior no comando da equipe, Nenê era reserva e também estava longe de viver um bom momento. Com a chegada de Diego Aguirre, em março, ele falou com os dirigentes e teve uma conversa com o treinador, que gostaria de entender como Nenê poderia render mais. Vale destacar que o técnico uruguaio já tinha trabalhado com o meia brasileiro no Al-Gharafa, do Qatar. 

Na sequência, ele despontou como uma das referências do time, que chegou a liderar o Brasileirão. Sob a batuta de Aguirre, ele marcou dez gols, sendo alguns em partidas importantes (como na semifinal do Paulista, contra o Corinthians, e na quebra do tabu na Arena da Baixada, contra o Atlético-PR). Ainda assim, em momentos em que o lado ruim surgia, como quando reclamou por ser substituído no jogo contra o Cruzeiro, contou com a compreensão de Raí, Lugano e do coordenador de futebol tricolor, Ricardo Rocha, que fizeram a cobrança, mas em tom amigável e sem aplicação de multa.

Histórico de reclamações

Não é de se estranhar que a diretoria do São Paulo veja como uma parte integrante do chamado "pacote Nenê" as reclamações do armador. Como disse Lugano, o jogador já fazia "mesmo biquinho" quando ficava no banco de reservas do Paris Saint-Germain.

A passagem de Nenê pelo Vasco também é bastante semelhante ao roteiro apresentado até agora no Tricolor paulista. Contratado em agosto de 2015 para tentar afasta o time carioca do rebaixamento para a Série B, ele assumiu o papel de líder. Em 2016, participou ativamente da campanha do título estadual, que veio com invencibilidade, com o time treinado por Jorginho.

Porém, com o tempo, a relação se desgastou. A chegada de Milton Mendes, em março de 2017, marcou o início do processo que resultou na saída do meia de São Januário. Figura frequente no banco de reservas, ele passou a expor a sua insatisfação. Na época, até mesmo se cogitou a sua transferência, mas nenhuma proposta oficial apareceu.

Como tinha contrato com o clube, permaneceu por lá. Com a mudança no comando e o início do trabalho de Zé Ricardo, ele voltou a ser visto como um jogador importante. Por todo esse histórico, muita gente no Vasco da Gama ainda o considera um jogador mimado. Ainda assim, já uma movimentação de torcedores do time carioca que sonham com o retorno de Nenê.