Topo

Interferência da Fifa e 2 lados irritados: Como a Conmebol excluiu o Boca

Do UOL, em São Paulo

17/05/2015 06h00

Em um julgamento de exceção, com uma rara audiência e muitas horas de espera e deliberações, a Conmebol excluiu o Boca Juniors da Libertadores deste ano. A decisão não deixou nenhum lado satisfeito. De um lado ficaram os que queriam a vaga decidida em campo, do outro aqueles que pediam uma pena maior pela gravidade do ocorrido. Ao que parece, venceu justamente o meio-termo que agradava quem toma as decisões.

Para entender o processo é preciso compreender a dimensão do ocorrido. O Superclássico da última quinta era um dos jogos mais atraentes e aguardados da Libertadores nos últimos anos. As cenas dos jogadores do River Plate atingidos por um gás tóxico que provocou queimaduras de primeiro grau nos jogadores rodaram o mundo. Com isso, colocaram gente poderosa no encalço da Conmebol, que por si só já estava disposta a punir o Boca de forma exemplar.

“Há forte pressão internacional. As condições para punição dura estavam postas”, disse Eduardo Carlezzo, advogado brasileiro que fundamentou a defesa do Boca, ao Sportv. Por “pressão internacional” entenda Fifa. A entidade máxima foi citada repetidas vezes por veículos argentinos que acompanharam o caso de perto e até por José Luis Meiszner, secretário-geral da Conmebol. “A Fifa pediu rigor”, disse o cartola em entrevista ao diário Olé.

A expectativa inicial era de que a decisão fosse tomada ainda na última sexta, quando o La Nación, por exemplo, já dava como certa a eliminação do Boca. O clube conseguiu, porém, um raro direito de defesa. Aqui, cabe um aparte explicativo.

Pela regras da Conmebol, um único relator do tribunal da entidade pode decidir sobre uma punição. Se o caso for muito grave, ele convoca dois colegas para uma teleconferência e o trio delibera sobre o assunto. Raramente, porém, há uma audiência de fato, com explanação de defesa, audição de testemunhas e encontros presenciais. Neste sábado, todos os envolvidos no assunto estiveram em Luque, cidade paraguaia onde está sediada a entidade que comanda o futebol sul-americano.

O Boca disse ter feito sua parte no cuidado com a segurança e o presidente do clube deu um depoimento admitindo responsabilidade nos acontecimentos. O River enviou representantes e deu seu relato do que ocorreu na Bombonera. Ouvidos os clubes, a Conmebol se fechou durante cerca de oito horas para bater o martelo.

Ao longo do processo, veículos como a rádio Mitre reiteraram um único cenário: o Boca estava eliminado da Libertadores deste ano, mas ainda se discutia o restante da punição. A Fifa exigia medidas duras como a exclusão da edição da próxima temporada e a Conmebol pedia algo mais brando.

“A sanção mudou quatro vezes nas últimas 18 horas. A Fifa autorizou a redução da pena do Boca. O negócio pode mais outra vez”, escreveu Fernando Czyz, jornalista do La Nación e da EFE, em seu Twitter pessoal, insinuando que o lado comercial da Libertadores, que perderia muito sem o clube da Bombonera, pesou.

Só que o meio-termo desagradou a quase todos. Os torcedores do Boca Juniors reclamavam desde a quinta-feira que, por mais grave que fosse o ocorrido, a decisão sobre um jogo não poderia ser tomada dentro de um escritório. Fizeram protesto na porta do próprio estádio e colocaram a hashtag #quesejueguenlos45min nos tópicos mais comentados do Twitter na Argentina. Depois da decisão, a expressão mudou para #miamorporvosnocambiaCABJ (“Meu amor por você não muda”).

Do outro lado estavam os críticos da violência. Jogadores do River Plate, por exemplo, foram rápidos em manifestar seu desacordo da opção da Conmebol e reclamaram nas redes sociais. Os europeus que estavam ligados no caso também expressaram seu descontentamento. “Boca eliminado só da Libertadores 2015”, escreveu o diário AS, da Espanha. 

Foi, segundo um levantamento feito pelo jornal El Grafico, a sétima interdição da Bombonera em dez anos, com quatro jogos de Libertadores paralisados na história da Libertadores, um recorde no quesito.