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Grêmio crê em decisão técnica da Conmebol e foca acusação no River

Marcelo Gallardo, treinador do River Plate, gesticula durante partida contra o Grêmio - ALEJANDRO PAGNI / AFP
Marcelo Gallardo, treinador do River Plate, gesticula durante partida contra o Grêmio Imagem: ALEJANDRO PAGNI / AFP

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

01/11/2018 11h11

O Grêmio não teme julgamento político no pleito pela reversão do placar do jogo de volta da semifinal da Libertadores. Segundo o presidente Romildo Bolzan Júnior, a lisura recente da entidade dá segurança ao clube na tentativa de ir à final por conta dos atos do técnico do River. E além do treinador, o clube atribuiu culpa ao clube na conivência com o fato.

"Com muita segurança, não vejo tecnicamente como não ser acolhida a reclamação. Também não quero dizer a torcida que estamos garantidos, não temos o controle disso tudo, não temos este controle. Estou dizendo que juridicamente estamos tão seguros da matéria e da tipificação que aconteceu, mas não conheço da cabeça, raciocínios e comportamentos dos julgadores. Só sei que tudo que está ali, no regulamento, é o que pedimos na reversão do placar por 3 a 0 é construção jurídica, tese, raciocínio", disse Bolzan.

Com a classificação do Boca Juniors na quarta-feira, o temor de um julgamento político poderia surgir. Mas o mandatário gremista crê na lisura da Conmebol.

"Não me relacionei com os presidentes anteriores da Conmebol. Foi exclusivamente com o presidente Alejandro. E tenho nele a melhor das impressões. Um perfil de quem realmente quer estabelecer uma nova modelagem de relação, melhorar imagem, produto que eles têm. E tenho uma esperança muito grande que isso aconteça. A nossa causa é tipificada em artigos", disse Romildo.

O Grêmio foca suas atenções no River Plate. Segundo os advogados do clube, o clube argentino foi agente direto na participação de Gallardo no jogo.

"O clube deu os meios e orquestrou o descumprimento. E mesmo que assim não fosse, ele seria omisso porque permitiu porque um preposto seu, o técnico, pudesse infringir a norma em benefício do clube", atestou o advogado Leonardo Lamachia.

"O que aconteceu aqui foi a infringência do código disciplinar. O técnico do River estava suspenso, e participou da partida de uma maneira direta, com a conivência, concordância, tudo isso patrocinado pelo River Plate. Quem se comunica com aparelho, fones, rádio, quem se comunica, e isso é irregular estando suspenso, aquele que afronta a decisão da Conmebol, e nós temos todo o trajeto feito pelo treinador visualizado pelas câmeras da Arena, desde o camarote até a chegada no vestiário, e o delegado do jogo foi chamado e viu que o treinador entrou no vestiário, foi impedido pelos seguranças do River Plate, e ao ser impedido não conseguiu entrar, documentou aquilo tudo, voltou e naquele momento se fez uma substituição, depois se fez outra, e foi flagrado e comprovado. O aparato montado pelo River Plate como agente fundamental para tudo isso, e o seu treinador também infringiu a regra", repetiu Romildo.

Nesta quinta-feira (01), o relatório do delegado da partida também foi enviado ao Grêmio, que relatou em linhas gerais o tom, remontando o ocorrido. Além deste, o Tricolor ainda reuniu provas com entrevistas de jogadores, do Gallardo, vídeos e áudios que mostram a ação dele para substituições e orientações do time. Tudo isso foi apresentado em reunião na Connmebol na quarta-feira, quando o presidente da entidade recebeu a comitiva gremista. Na ocasião, o clube tentou contato com os julgadores, mas não obteve sucesso. 

Além disso, o Grêmio fez uma petição para que os ingressos da final, que por enquanto é River e Boca, não sejam vendidos até o fim do processo. E ainda comunicou que o julgamento será neste sábado às 13h30 (de Brasília) e ainda terá possibilidade de recurso após a decisão. No caso de recorrer, o Tricolor terá que procurar a Câmara de Apelações da Conmebol. Porém, o recurso não tem efeito suspensivo, e por questões de tempo, a final acabaria sendo disputada tornando a reclamação sem efeito prático. 

"Os valores em jogo são muito mais profundos. O que está em jogo aqui é a integridade e a moralidade do futebol, não ser esperto, não ser malandro, não meter um boné na cabeça e transgredir. O que está em jogo aqui é a honra e a dignidade do campeonato, da competição, da própria Conmebol, que estamos em processo de reconhecimento de sua reinvenção. Estamos de acordo com o que tem sido feito. Acho que os processos podem ser ainda mais aprofundados, como auditar o VAR. Leva-se uma solicitação e se tem toda correspondência de áudio e vídeo. Se o árbitro está exposto em campo, por que quem está numa sala não está sujeito a auditagem?", acrescentou Romildo. 

Entenda o caso

Na segunda-feira à noite, Marcelo Gallardo foi suspenso por uma partida e o River Plate multado em 20 mil dólares (R$ 74,4 mil na cotação atual) por reincidência em atraso para o segundo tempo. No dia seguinte, o treinador assistiu ao jogo contra o Grêmio em uma cabine de imprensa da Arena.

A transmissão do Sportv, contudo, flagrou o uso de um rádio comunicador para contato direto entre Gallardo e a comissão técnica do River. Além disso, o treinador foi ao vestiário visitante no intervalo para passar instruções.

Ao ver a cena, dirigentes do Grêmio denunciaram a entrada do argentino aos funcionários da Conmebol e os mesmos aguardaram para produzir provas. Depois da partida, com a virada e classificação à final, Marcelo Gallardo cometeu outra infração e deu coletiva na zona mista. Antes, o auxiliar Matías Biscay ironizou. "Talvez ele estivesse falando com sua família na Argentina", ao responder sobre o uso do rádio comunicador.

"Talvez eu tenha descumprido uma regra de não poder entrar no vestiário, porque não estava permitido. Eu reconheço e assumo (o erro), mas era o que eu precisava. O que eu sentia que tinha que fazer e não me arrependo", afirmou Gallardo depois do jogo.

O Grêmio quer punição semelhante a aplicada nos casos de Chapecoense e Santos, em 2017 e 2018, respectivamente. A tese do clube gaúcho é que Marcelo Gallardo foi utilizado de forma irregular. Os dirigentes citam os artigos 176 do Regulamento Geral de Competições da Conmebol e artigos 19, 56 e 76 do Regulamento Disciplinar. No mesmo recurso, os gremistas contestam a ação da equipe do árbitro de vídeo da partida em Porto Alegre quando do primeiro gol do River Plate, marcado por Rafael Borré.