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Brasileiros revelam orgulho por ajudar zebra cipriota em feito histórico na Liga dos Campeões

Aílton é um dos brasileiros que fizeram sonho do APOEL Nicósia virar realidade - AP Photo/Petros Karadjias
Aílton é um dos brasileiros que fizeram sonho do APOEL Nicósia virar realidade Imagem: AP Photo/Petros Karadjias

Ricardo Espina

Em São Paulo

25/11/2011 07h04

Assim que foram sorteados os grupos da Liga dos Campeões, até o mais cético torcedor do APOEL Nicósia diria que o time teria poucas chances diante de rivais de peso. Era de se esperar que o clube cipriota seria apenas um figurante na disputa entre Porto, Shakhtar Donetsk e Zenit St. Petersburgo pelas duas vagas da chave para as oitavas de final do torneio. Para assombro geral, o APOEL contrariou todas as previsões e fez história ao se tornar o primeiro clube de seu país a avançar para os mata-matas da competição. A participação de jogadores brasileiros foi fundamental para transformar o “conto de fadas” em realidade.

IMPRENSA FALA EM "CONTO DE FADAS"

  • EFE/STR

    O jornal Cyprus Mail deu grande destaque à inéedita classificação do APOEL Nicósia para as oitavas da Liga dos Campeões: "noite memorável"

O empate sem gols com o Zenit St. Petersburgo, nesta quarta-feira, selou a inédita classificação do APOEL Nicósia para as oitavas de final da Champions. Nem mesmo o frio foi capaz de atrapalhar a equipe do Chipre, que permanece invicta na fase de grupos e lidera o grupo G com nove pontos. De quebra, o time conseguiu algo que muitos grandes do futebol europeu não conseguiram: a vaga antecipada para a fase seguinte.

Para os brasileiros que estiveram em campo na histórica partida contra o Zenit, a ficha ainda está caindo. “O feito foi tão grande que é difícil entender algo assim. Para ser sincero, tinha confiança em um bom desempenho, mas não imaginava esta bela campanha”, afirmou o atacante Aílton, de 27 anos, em entrevista ao UOL Esporte.

A sensação cipriota não se intimidou diante dos adversários de maior prestígio – os três já foram campeões de algum torneio continental. O Porto, que na temporada passada sagrou-se campeão português de forma invicta, caiu por 2 a 1 no Chipre e não foi além de um empate por 1 a 1 em casa. Repleto de brasileiros, o Shakhtar Donetsk também ficou no 1 a 1 com o APOEL diante de seus torcedores. O Zenit tornou-se outra vítima: derrota por 2 a 1 em Nicósia e um 0 a 0 na Rússia.

BRASILEIROS GOLEADORES

  • A importância dos brasileiros na campanha do APOEL Nicósia na Liga dos Campeões se vê pelos números. Aílton (ex-Atlético-MG) marcou três gols – um em vitórias sobre Porto e Zenit e no empate com o time português fora de casa Gustavo Manduca (ex-Grêmio) balançou as redes duas vezes – uma em cada jogo contra o Porto. Em outras palavras, dos seis gols marcados pela equipe cipriota na fase de grupos do torneio, cinco foram marcados pelos brasileiros.

“Sentimos muitas dificuldades por sermos um time pouco conhecido e encarados como zebras. Sabia que seria difícil, mas o primeiro resultado contra o Zenit [vitória por 2 a 1] mostrou que poderíamos ir além do que planejávamos”, disse o defensor Marcelo Oliveira, de 30 anos. O meio-campista Gustavo Manduca, de 31 anos, segue a mesma linha de raciocínio de seu companheiro de clube. “Caímos em um grupo difícil e não esperávamos passar. No entanto, vimos dentro de campo que não éramos inferiores e não havia toda aquela diferença. Foi um feito histórico para o país e é um orgulho fazer parte disso”, comemorou.

A façanha do APOEL ganha proporções ainda maiores com a análise da situação atual do país. O Chipre carrega uma triste herança dos conflitos entre gregos e turcos, que ainda dividem a ilha. Na capital, Nicósia, a separação se faz mais nítida com uma espécie de muro, que transformou algumas regiões da cidade em “áreas fantasmas”.

“O torcedor daqui vive o futebol de uma forma muito intensa. Há um reconhecimento enorme, com carinho e presença em todos os momentos. O povo cipriota tem alguns traumas pelo passado por conta dos conflitos políticos. É legal oferecer um pouco de prazer e alegria com o futebol”, comentou Gustavo.

Os três brasileiros apontaram ingredientes parecidos para revelar o segredo da campanha do APOEL Nicósia na Liga dos Campeões. “O grupo é formado por pessoas boas. Aqui não há briguinha, vaidade. Todos trabalham forte, mas com lealdade”, explica Marcelo. “A equipe é unida, com todos focados nos mesmos objetivos”, acrescenta Aílton. “Mantemos nossos pés no chão”, completa Gustavo.

LONGO CAMINHO ATÉ O SUCESSO

Como o Chipre não tem vaga direta na fase de grupos da Liga dos Campeões, o APOEL Nicósia disputou as fases preliminares da competição. Seu primeiro rival foi o Skënderbeu, da Albânia, eliminado após duas derrotas (2 a 0 e 4 a 0). O Slovan Bratislava, da Eslováquia, foi a vítima seguinte (0 a 0 e 2 a 0). O último degrau foi superado diante do Wisla Cracóvia. O time polonês venceu a partida de ida por 1 a 0, mas o APOEL reagiu, ganhou por 3 a 1 em casa e se classificou.

Não seria exagero dizer que o “sotaque português” tem ajudado a equipe cipriota. Além dos três, há mais três jogadores brasileiros no elenco, além de três portugueses. “A comunicação é importante dentro da equipe, e falar a mesma língua ajuda bastante no entrosamento dentro de campo”, diz Aílton. “Somos a base do time e todos são muito amigos. Tudo contribui para nosso bom desempenho”, afirma Gustavo.

Agora, é possível esperar novas surpresas do APOEL Nicósia? “Sempre víamos times grandes jogando a Liga dos Campeões. Agora, estamos entre eles”, comenta Aílton, à espera da última rodada contra o Shakhtar Donetsk, em 6 de dezembro. “Temos esperança, sim, e nossa atuação nos faz sonhar. Em dois jogos, tudo pode acontecer e podemos chegar às quartas”, explica Gustavo. Se a classificação para as oitavas parecia uma utopia antes do início da Liga dos Campeões, o sonho do APOEL Nicósia continua mais vivo do que nunca.