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Copa 2018

México de Osorio matou Alemanha com 1º tempo brilhante e energia calculada

Juan Carlos Osorio, técnico do México, apareceu no Brasil comandando o São Paulo, em 2015 - Clive Rose/Getty Images
Juan Carlos Osorio, técnico do México, apareceu no Brasil comandando o São Paulo, em 2015
Imagem: Clive Rose/Getty Images

Bruno Grossi e Rodrigo Mattos

De São Paulo e Moscou (Rússia)

17/06/2018 14h13

Não é exagero dizer que o México chocou o planeta neste domingo. Diante da poderosa Alemanha, que carrega a responsabilidade do título na Copa do Mundo de 2014, a equipe latina mostrou um futebol envolvente no primeiro tempo e poderia ter vencido até por um placar mais elástico do que o 1 a 0 registrado de forma histórica em Moscou

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Os alemães investiram no desespero, em chutes apressados e cruzamentos insistentes para conseguir pressionar no segundo tempo. Mas para a qualidade do espetáculo a contribuição foi quase toda mexicana. A etapa inicial foi um passeio do time comandado pelo colombiano Juan Carlos Osorio. Trocas de posição, tabelas e uma marcação adiantada que fez da Alemanha uma equipe frágil, sem reação.

Não que Osorio tenha inventado a roda ou redescoberto o futebol. O técnico, que passou brevemente pelo São Paulo em 2015 e saiu para assumir o México, usou suas bolas de segurança. Volantes rápidos e de boa saída, um organizador centralizado, livre para rodar pelo campo, e pontas de extrema velocidade. Apostou no que mais domina, ainda que a notícia de que nunca repetiu uma escalação pela seleção pudesse reforçar o clichê de "professor pardal".

Seleção mexicana antes da vitória sobre a Alemanha - Mike Hewitt - FIFA/FIFA via Getty Images - Mike Hewitt - FIFA/FIFA via Getty Images
Imagem: Mike Hewitt - FIFA/FIFA via Getty Images

1º passo: tirar a Alemanha da zona de conforto

A Alemanha tem como hábito controlar o jogo. Dar à partida o ritmo desejado por Joachim Löw e deixar o adversário preso a isso. Osorio conseguiu se antecipar a isso na proposta, mas ainda dependia da resposta de seus próprios jogadores. Bastava alguém não se adaptar à marcação agressiva, alguém diminuiu a rotação dos companheiros, para que um passe de Toni Kroos ou Sami Khedira desmontasse a defesa mexicana e deixasse os atacantes alemães no mano a mano.

Isso não aconteceu em nenhum momento. O México subiu todas as linhas para cortar os espaços em que a Alemanha poderia circular. Se Thomas Müller ou Mesut Özil piscassem, já eram antecipados. Assim, havia sempre menos campo a percorrer para chegar ao gol de Manuel Neuer. E os pontas sempre encontravam os laterais para o mano a mano. Até em bolas paradas os atacantes de beirada se posicionavam prontos para contra-atacar, mesmo que isso gerasse inferioridade numérica na área. Para que tudo funcionasse, ainda era preciso ser mais letal nas finalizações.

Momento do gol de Hirving Lozano, do México, contra a Alemanha - Dan Mullan/REMOTE/Getty Images - Dan Mullan/REMOTE/Getty Images
Momento do gol de Hirving Lozano, do México, contra a Alemanha no último domingo
Imagem: Dan Mullan/REMOTE/Getty Images

2º passo: capricho na hora de finalizar

Aos são-paulinos, o prejuízo de perder muitas chances de gol ficou marcado por derrota por 3 a 1 para o Atlético-MG. Com três de Lucas Pratto em poucos minutos após série de oportunidades desperdiçadas pelos paulistas. Os erros de Chicharito Hernández e Carlos Vela colocaram o estado anímico dos mexicanos em risco. Mas o nível de concentração foi espantoso. A seleção da América do Norte seguiu confiando na estratégia de Osorio e, em uma retomada rápida no meio de campo, colocou a defesa alemã na roda até Hirving Lozano concluir o belíssimo gol.

Nas arquibancadas do Luzhniki, os torcedores mexicanos demoraram a acreditar no passeio imposto pela seleção sobre os atuais campeões do mundo. Chegaram a gritar "olé" ainda no primeiro tempo, mas soava como brincadeira. Como aquela alegria passageira. Aos poucos, os gritos se tornaram confiantes e, depois, ajudaram Osorio a transformar todo o time em uma sólida parede na defesa. Com o placar aberto, não houve vergonha para recuar e reconhecer as virtudes alemãs para manter o resultado, ao som de "si se puede".

3º passo: humildade e resposta ao desespero alemão

As alterações de Osorio podem ter assustado à primeira vista, tirando os jogadores rápidos que infernizaram Matt Hummels e Jerome Boateng e o ótimo Andrés Guardado. Saía a velocidade, entrava a preocupação com as jogadas aéreas. O técnico confiou que a Alemanha partiria para os chuveirinhos desesperados e colocou três jogadores altos. Incluindo o veterano Rafa Márquez. Mais uma vez a aposta funcionou e o goleiro Guillermo Ochoa mal teve trabalho em jogadas aéreas. 

Rafa Marquez, do México - David Ramos - FIFA/FIFA via Getty Images - David Ramos - FIFA/FIFA via Getty Images
O veterano Rafa Marquez foi arma para conter a força aérea alemã na hora do desespero
Imagem: David Ramos - FIFA/FIFA via Getty Images

Epílogo: convicção nas próprias ideias fez a diferença

O êxtase dos mexicanos, que se atiraram no gramado entre lágrimas e riso eufórico, demonstram que o planejamento de Osorio foi cumprido com perfeição. Seus discursos sempre giram em torno da coletividade, evitando personificar responsabilidades em um só atleta. Essa é uma das razões da existência de seu rodízio. Ele quer que os 23 convocados entendam que são craques para ele e que podem cumprir qualquer missão entregue.

Isso também explica a ausência de treinos coletivos e a raridade de trabalhos posicionais para um time titular. Osorio sempre opta por fazer com que todos jogadores de cada posição entendam sua ideia de jogo. É uma forma de minimizar falta de entrosamento ou redução técnica de um atleta para outro. 

Nos tempos de São Paulo, também se destacava a capacidade do treinador em extrair muito de quem normalmente ofereceria pouco. Basta lembrar que três dos melhores jogadores em sua passagem pelo Tricolor foram o zagueiro Luiz Eduardo, contratado do São Caetano na Série D do Campeonato Brasileiro, o lateral-esquerdo Carlinhos, que se transformou em ponta, e o atacante Rogério. Sem falar na explosão de Alexandre Pato, que passou a se sentir importante quando todos já o ridicularizavam. É um paralelo possível com Carlos Vela, uma daquelas eternas promessas, mas que se tornou essencial para o esquema do México.

A hora chegou, o dia raiou e os mexicanos voltarão para casa jogando como sempre e ganhando como nunca.

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