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Viúva de Sócrates diz que faltam líderes no futebol atual e cobra postura de Neymar

"O Sócrates sempre dizia que o futebol é um instrumento de mudança", diz Kátia - Bob Wolfenson/Divulgação
"O Sócrates sempre dizia que o futebol é um instrumento de mudança", diz Kátia Imagem: Bob Wolfenson/Divulgação

Fabiano Alcântara

Do UOL, em São Paulo

15/04/2012 06h00

A viúva do ex-jogador Sócrates, Kátia Bagnarelli, disse que faltam líderes no futebol brasileiro atual. “Os atletas precisam ter uma postura, não ter medo de clube, de empresário, de perder dinheiro”, disse na sexta-feira, durante o lançamento da coleção Democracia Corintiana, da loja oficial do clube, Poderoso Timão. Kátia afirmou que Neymar deveria se preocupar em ocupar esta lacuna deixada por Sócrates e outros líderes do passado . “Seria bom tanto para eles (os novos jogadores), quanto para o torcedor.”

“O Sócrates sempre foi uma referência. O que preocupa é que ele não está mais aqui”, afirma. “Ele sempre dizia que o futebol é um instrumento de mudança, o único palco que a gente tem para brigar por coisas melhores”, disse Kátia, que tem uma tatuagem no pulso direito com um autógrafo do ex-marido. “Ele também tinha uma tatuagem com o meu, fizemos quando casamos”, afirmou emocionada ao encontrar Biro Biro, ex-companheiro do Magrão.

Kátia contou que no fim da vida, Sócrates ficou muito feliz com a reaproximação de jogadores do tempo da “Democracia”, como Wladimir, que frequentava a casa deles para rezar, Casagrande e o próprio Biro Biro. “Este reencontro foi muito importante para ele.”

“O Sócrates era um líder nato, mas sempre fazia questão de dizer que sem o grupo, sem a torcida, nada seria possível.  A gente precisa conversar com estes torcedores, só assim deixará de morrer gente em briga de torcida. O grande lance é vir de baixo para cima”, opina.

 Kátia contou que no segundo semestre uma autobiografia de Sócrates será lançada e um documentário está sendo produzido. A viúva do ídolo disse que frequenta eventos ligados ao Corinthians por um pedido feito a ela pelo próprio ex-jogador antes de morrer. Da coleção, ela gostou especialmente de uma que diz: "No dia 15, vote 8". “Acho que o torcedor que comprar esta camisa, mesmo sendo iniciativa de uma empresa privada, vai estar comprando uma causa. Ela vai pesar mais no varal”, disse.

“Hoje a gente pode votar, mas ainda temos que lutar pela democracia. É uma ação que eles (da "Democracia") começaram, mas que nós temos que continuar”, afirmou. Kátia lembrou também que sempre que perguntado qual tinha sido o gol mais importante da carreira, Sócrates dizia que seus momentos mais emocionantes no futebol não haviam sido gols e títulos, mas ouvir o hino nacional durante uma Copa do Mundo.

Idealizada pelo publicitário corintiano Washington Olivetto, a Democracia Corintiana surgiu no contexto da redemocratização do país, na primeira metade dos anos 1980, e implantou, em tese, a autogestão no futebol brasileiro, com um movimento que promoveu a abertura política do clube, descentralizando o poder. Todas as decisões importantes passavam pela decisão dos jogadores, como concentrações, contratações e viagens.

Em meio à ditadura do regime militar, no começo dos anos 1980, o movimento alinhou-se às Diretas Já, que pedia eleições livres, entre outras causas. Também ficou conhecido pelo lado boêmio, com atletas se dividindo entre o esporte e a noite.

Sócrates, um dos jogadores mais emblemáticos do período, dividia a liderança da “Democracia” com Wladimir, Casagrande e Zenon. O diretor Adílson Monteiro Alves, então um jovem sociólogo, também teve participação destacada no movimento.