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"Nenhuma empresa no mundo aguenta o que o Palmeiras passa", diz novo diretor de marketing

Na opinião de Rodrigo Geammal, torcedor é maltratado pelo Palmeiras - Fernando Donasci/UOL
Na opinião de Rodrigo Geammal, torcedor é maltratado pelo Palmeiras Imagem: Fernando Donasci/UOL

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo

05/12/2012 06h02

Rodrigo Geammal é o novo homem forte do marketing do Palmeiras. Assim que chegou, causou desconfiança em funcionários, conselheiros e na torcida. Afinal, foi contratado a apenas dois meses do fim da gestão de Arnaldo Tirone. A teoria da oposição era que se tratava de um plano do atual presidente para engessar o departamento, independentemente do resultado da eleição. Tentando vencer esses problemas, ele já identificou as falhas do departamento, esqueceu os problemas da política do clube e desenvolveu um plano de estruturação para 2013.

QUEM É RODRIGO GEAMMAL?

  • Divulgação

    Indicado por Luciano Henrique Silva, conselheiro e diretor do Palmeiras, Rodrigo Geammal é dono da Elos Cross Marketing. Ele fez contrato de um ano com o Palmeiras e tentará profissionalizar o clube e fazer conselheiros entenderem que eles estão detonando a própria marca

Já com a confiança de seus parceiros de trabalho, ele fala sobre uma pequena parcela do raio-x que fez do Palmeiras, que lhe permite afirmar ao UOL Esporte com convicção: "Nenhuma empresa no mundo aguentaria o que o Palmeiras aguenta".

Com contrato até dezembro de 2013 e multa rescisória a ser paga caso o novo presidente resolva demiti-lo, Geammal explica que seu principal desafio é fazer o próprio Palmeiras combater aquela marca que ele chama de biônica e que sobrevive apenas por causa da força de sua torcida.

Confira a entrevista de Geammal ao UOL Esporte

UOL Esporte: Como você chegou ao Palmeiras? 
Rodrigo Geammal
: Na realidade, eu sou profissional do marketing esportivo, tenho minha agência, a Ello Cross Marketing, e, há quatro anos eu trabalho com esporte, especialmente relacionado ao futebol. Temos produtos relacionados ao mercado, temos estratégias relacionadas a isso para o mercado corporativo e é isso que me aproximou ao clube. Sou de uma nova geração que chega ao mercado com a cabeça muito corporativa, de business. Eu explico ao clube como é que a gente estrutura a relação corporativa, faz o patrocinador se interessar ao tema futebol e outras coisas. Hoje, existe uma demanda no Brasil de algumas empresas que querem profissionalizar a relação.

UOL Esporte: Mas quem te trouxe ao Palmeiras?
Rodrigo Geammal:
Acabei me aproximando do Palmeiras pelo Luciano Henrique Silva (filho do Antônio Henrique Silva, diretor financeiro). Ele disse que o Palmeiras estava precisando de um trabalho como o meu e fomos conversando. Depois, visitei o clube e eles disseram que precisaria de um projeto profissional, com uma visão diferenciada no clube. Inicialmente, a gente conversou e isso era propriamente um sonho meu, de trabalhar no mercado. E deu certo. É importante citar que eu não tenho nenhum, nenhum envolvimento político. Sou profissional de mercado, com visão corporativa e que quer estruturar o departamento.

UOL Esporte: Explique melhor a sua missão no Palmeiras.
Rodrigo Geammal:
Quero criar procedimento, metodologia, ver gestão de projetos, ajudar os meninos (assessoria de imprensa) que aqui estão. Eles são desbravadores. Eles realmente fizeram um ótimo trabalho para um clube desse tamanho, com o impacto e ainda vivendo um momento difícil. E aí chega o Rodrigo Geammal no Palmeiras... Na primeira semana, eles falavam que eu era o 'homem de preto' aqui, todo mundo achando que eu ia chegar para demitir! Mas aí fomos conversando e explicando o objetivo, o motivo de estar aqui, e eu explico a todos a importância desses caras aqui.

UOL Esporte: Mas, de forma prática, o que sua missão significa?
Rodrigo Geammal:
Nós precisamos ter inteligência da informação, que é integrar futebol, marketing, social, e vários departamentos que a gente tem uma sinergia e um norte em comum. Foi difícil chegar aqui. Eu acabei de fazer uma reunião e em 30 minutos estava tudo na mídia. Disseram que eu era arrogante, falando de tudo o que aconteceu e até que eu era sócio do Kia...Então precisamos dessa inteligência de informação para evitar o que acontece hoje no Palmeiras. O que você fala aqui, às vezes cria um tsunami para o outro lado e todo o trabalho vai por água abaixo. Por isso é importante eu estar aqui, para esclarecer o torcedor que eu quero trazer uma mentalidade corporativa. Você olha para fora e vê, por exemplo, o Manchester United, com duas mil pessoas espalhadas no mundo trabalhando no marketing. É um departamento com começo, meio e fim. E é isso que eu quero aqui.

UOL Esporte: Como fazer isso? Como acabar com esse problema?
Rodrigo Geammal:
Eu sou um cara claro, preto no branco. Verde no branco, como eu brinco agora. Se eu tiver que chamar e falar que foi legal, eu falo. Eu tenho visão de colegiado e acho que é isso que falta. Eu já falei para eles, que eles fizeram milagre. Olhar de fora e ver o que eles fizeram, com o tamanho que tem, com gente atacando bomba a todo momento. Eles precisam proteger o clube, mas é uma guerra. Então, assim, meu papel é trazer um colegiado pelo menos nessa área. A marca Palmeiras já é forte. Não sou eu que vou discordar, a marca é muito forte. Por ser tão forte, mesmo com todos os problemas, é uma marca biônica, eu diria. Com tudo o que escuta e lê.... Nenhuma empresa no mundo aguentaria o que o Palmeiras aguenta. Nenhuma! Já tinha quebrado há muito tempo. Por isso que digo que a marca é muito forte. Não sou dono da verdade, sou humilde, mas o que quero aqui é trazer colegiado, dar a minha visão.

UOL Esporte: Essa frase é forte, interessante. Nenhuma empresa aguentaria. Por quê? O que você quer dizer com isso?
Rodrigo Geammal:
Olha, tenho pouco tempo no clube, mas, como técnico de marketing, posso falar isso por ler o que eu leio todo dia do clube, todo dia sobre o departamento de futebol, da assessoria, de jogador, um outro atleta, enfim, sobre o patrimônio do Palmeiras, dos ativos que o clube tem. Por isso digo que uma empresa não aguentaria.

UOL Esporte: E por que, então, que aguenta? Por que você chama de marca biônica?
Rodrigo Geammal:
Aguenta porque é biônica, por causa da torcida. O torcedor, por exemplo, nos fala que a história ficou para trás. Se falar que é o maior ganhador de títulos brasileiros é um passado. O torcedor cobra presente e futuro. A gente quer olhar o passado, mas quer inovar no presente e no futuro.

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UOL Esporte: E você acha que isso é um trabalho de quanto tempo? Não é a curto prazo, certo? Você precisaria de um contrato longo para exercer tudo isso.
Rodrigo Geammal:
Eu falei na minha primeira oportunidade aqui no clube. Primeira coisa que eu falo é que você tem toda a razão de falar que o trabalho não acontece em dois meses. Quando a gente olha para a estruturação do departamento, a gente sabe que precisa fazer muita coisa. O meu contrato é até dezembro do ano que vem (2013), mas não me preocupo com isso, porque o próximo presidente pode me tirar aqui. Mas, independentemente do novo presidente, o Palmeiras precisa estruturar o marketing, sim. A reestruturação já está desenhada. O planejamento de 2013 e a estruturação para deixar a casa em ordem eu já fiz e já entreguei. Se eu vou ficar ou não? É uma pergunta de US$ 1 milhão. Sei que topei o trabalho sabendo que isso (presidente) ia mudar. Mas uma empresa não pode mudar toda hora que o presidente mudar.

UOL Esporte: E você largou sua empresa para assumir o Palmeiras?
Rodrigo Geammal
: Meu trabalho é gerar uma equipe que consiga gerar ideias, pensar sozinho e tudo para que a equipe consiga levar adiante. Hoje estou quase o tempo inteiro no Palmeiras, mas tenho responsabilidades como sócio, como executivo da minha empresa. Por isso quero equilibrar. No futuro, minha presença física no clube não vai ser importante como é hoje.

UOL Esporte: O Palmeiras é muito amador nos departamentos, especialmente no marketing?
Rodrigo Geammal:
Amador é uma palavra forte, mas eu acho que minha visão é que o marketing sozinho não vai fazer mágica. A gente precisa implementar uma visão corporativa, com todo mundo remando junto.

UOL Esporte: Você bate muito na tecla do corporativo. Isso, para você, significa estipular metas e cortes caso elas não aconteçam, como qualquer outra empresa?
Rodrigo Geammal:
Isso. A gente precisa ter metas, precisa saber o que vai acontecer se não alcançar a meta, se vai ter cortes, mas também ter a consciência do que vai acontecer se acontecer a meta. O clube precisa de uma visão corporativa! E isso passa por um processo de interdependência de departamentos. O meu quadrado e o meu objetivo passam pelo quadrado e pelo objetivo do outro e por aí vai. Hoje precisamos reestruturar não só o marketing.

UOL Esporte: E o que mais além de mudar pensamento você vai precisar? Uma sala nova? Contratar mais gente? Demitir?
Rodrigo Geammal
: Estamos na fase de arrumar a casa. Vou ter que mudar o layout de uma sala, fazer processo de metas, de concorrência de parcerias. Por exemplo: queremos ativar a marca no ano que vem e a principal experiência é o entretenimento com turismo, trazer benefícios para o torcedor. Então a gente abre a concorrência para ter um parceiro no turismo. E isso eu quero que seja colegiado, que tenha o marqueteiro, o administrativo, enfim, que o clube tenha opinião para não dizer que o Rodrigo trouxe um amigo no negócio. Além disso, eu quero documentar tudo, até falei com o financeiro que vou documentar tudo, para não sair maldade depois na imprensa. Já percebi que preciso ser detalhista. Vou criar metodologia. Isso vai doer em algumas pessoas, mas é necessário. Já falei para parceiros que não tenho nada contra ninguém, nem contra processos, mas precisamos legitimar o processo, criar processos, e que estamos nessa fase. Preciso trazer estrutura, trazer a área digital, interatividade...

UOL Esporte: E quem é seu espelho? Em que time você se inspira?
Rodrigo Geammal:
Me espelho muito no Real Madrid. Recentemente, eu passei por uma palestra do Real e, em 10 anos, eles tinham um faturamento de 100 milhões de euros e, hoje, eles faturam mais de 500 milhões de euros com isso. Os caras dão show!

UOL Esporte: Mas tem a Série B no meio do caminho. Como isso prejudica? Ou você pode causar o efeito inverso?

Rodrigo Geammal: São quatro torneios e a pergunta mais comum é se a arrecadação de dinheiro vai cair. Não. Se apostarmos com foco no torcedor, se respondermos as coisas que eles querem, poderemos ter um ano melhor do que o ano passado. Por isso, não acredito que a Série B vai fazer arrecadar menos. Vai arrecadar menos se não fizermos nada, e aí eu te respondo daqui a quatro meses que vai ser pior do que o ano passado. Mas se tiver gestão com apoio à área... Vai ter um ano bom.

UOL Esporte: O Palmeiras vai renovar com a Kia?
Rodrigo Geammal:
Tudo o que eu sei disso, neste momento, é que o presidente está à frente disso. Eu estou conhecendo cada um, cada contrato e estou na fase de adaptação. Na próxima semana, vou ter contato com os patrocinadores.

UOL Esporte: E como planejar o centenário?
Rodrigo Geammal:
São quatro ativações importantes no clube. A Arena, o centenário, o sócio-torcedor e o licenciamento. Essas são as áreas importantes para nós olharmos. O centenário a gente deve planejar hoje, para já. Meu objetivo é ver o mundo inteiro e ver o que fizeram, o que deu certo, o que é bacana e trazer referência para o clube. Olhar com carinho para que, no momento do centenário, a gente entregue um evento, uma experiência e que a torcida saiba que pensaram em todos os detalhes. Gostaria de chorar de alegria de escutar do torcedor que deu certo.

UOL Esporte: Você acha que o sócio-torcedor precisa ter direito a voto?
Rodrigo Geammal:
Prefiro te responder isso no futuro. Não quero entrar na linha política.