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No meio do Jardins, bistrô de artistas vira ponto de encontro de jogadores de futebol

Neymar e Emerson posam para foto ao lado de Isaac Azar, dono do Paris 6 - Fernando Donasci
Neymar e Emerson posam para foto ao lado de Isaac Azar, dono do Paris 6 Imagem: Fernando Donasci

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

02/03/2013 06h00

O Paris 6, um bistrô no coração do Jardins, bairro da zona sul paulistana, foi criado para ser um restaurante de artistas. A cada sábado, atores e diretores (incluindo globais) passam por lá, aproveitando as 24 horas de funcionamento da cozinha. Como gosta de dizer o dono do local, Isaac Azar, “dá para montar o elenco de uma novela inteira com quem está nas mesas”.

Pode parecer inusitado, mas, em outro dia da semana, também é possível escalar um time de futebol com quem passa por lá. Na última quinta-feira, por exemplo, a reportagem do UOL Esporte conversou com o atacante Emerson Sheik e com o zagueiro Paulo André, ambos do Corinthians. E ainda trombou com Neymar, que apareceu no fim da noite com sua tradicional turma de amigos.

A explicação para os clientes boleiros é simples: no mundo do futebol, restaurante bem frequentado cria sua clientela no boca a boca. “Quando a gente sai para jantar, quer passar um tempo legal com quem está ao nosso lado. Aqui, existe o assédio, mas ele é mais contido. E jogador de futebol, que está sempre mudando de cidade, mora em São Paulo, mora no Rio, está sempre conversando sobre isso: ‘Vai naquele lugar que é legal’”, explica Sheik, um dos habitués.

Esse fenômeno foi o mesmo relato por Isaac, o dono, ao lembrar da primeira visita de Neymar. “Quando ele chegou, eu disse: ‘Garoto, há muito tempo que eu queria te ver por aqui’. E ele respondeu que tinha bastante tempo que queria vir também”, lembra o restauranteur.

A presença de Isaac nas mesas, aliás, é apontado como outro trunfo. Simpático, acostumado a tratar com celebridades, ele se enturmou com facilidade entre os boleiros. Um dos primeiros foi Paulo André, que começou a frequentar o bistrô que é “do lado de casa”. Outros corintianos vieram logo depois. E eles foram trazendo outros boleiros. Ganso e Dênis, do São Paulo, Juan, lateral que estava no Santos, Valdívia, do Palmeiras.

Alguns deles já contam com homenagens no cardápio. Uma das características do Paris 6 são as personalidades do menu. De Sandra de Sá a Marcelo Adnet, são 193 artistas dando nome a pratos – e não apenas da culinária francesa: Rodrigo Faro, por exemplo, é o nome do italianíssimo filé a parmegiana.

Entre os boleiros, o prato Paulo André é um pastelzinho de queijo brie. Já Alexandre Pato é um spaeghetti a carbonara, ironicamente, feito com frango. O técnico Vanderlei Luxemburgo, hoje no Grêmio, também aparece no cardápio: truta com molho de amêndoas.

Emerson Sheik será o número 194. Com direito a uma história emocionante. No dia 17 de fevereiro, o atacante ligou para Isaac e fez um pedido: “Assista ao jogo pela TV, não vá ao estádio”. Na partida, que terminou em 2 a 2, Emerson quebrou o jejum de gols, que vinha desde o ano passado. Na comemoração, ele, Paulo André e outros corintianos comemoram com o “embala neném”.

A explicação: Isaac tinha anunciado recentemente aos amigos o nascimento de seu terceiro filho, o primeiro homem. “E uma homenagem como essa só podia ser retribuída com outra homenagem. Então, quando o Sheik chegou, após o jogo, com fome, falei: ‘Vamos fazer um prato. Do que você gosta?’” Nascia, então, o Emerson Sheik, uma paella com camarões, lula e mexilhões. “Sou fresco para comer, mas frutos do mar sempre me conquistam”, revela o atacante – que, antes de seu prato próprio, sempre pedia o Bruno Gagliasso: camarões rosa sobre arroz provençal.

A relação da dupla vai ficar ainda mais próxima até agosto: Sheik será padrinho emérito do filho de Isaac e será um dos responsáveis por segurar uma das pernas do bebê no Brit Milá, a cerimônia judaica de circuncisão.

O próximo a entrar no cardápio deve ser Neymar, que na quinta-feira estava sendo cobrado: “Precisamos sentar para montar o seu prato”, dizia Isaac.

UMA NOITE “TRANQUILA” NO BISTRÔ DOS BOLEIROS

Quando a reportagem foi convidada a visitar o Paris 6, o objetivo era acompanhar Isaac Azar, o dono do local, e Emerson Sheik preparando o prato em homenagem ao atacante. Seria inusitado ver o jogador acostumado a entortar zagueiros comandando uma frigideira.

Mais do que isso, porém, foi interessante acompanhar como o local trata alguns de seus atletas mais ilustres. No dia da visita, Palmeiras e São Paulo jogavam pela Libertadores. Assim que o jogo do primeiro terminou, chegou o primeiro boleiro. Paulo André veio para provar os pasteis de queijo brie que levam o seu nome e ainda experimentou uma sobremesa.

Assim que sentou, um grupo de seis rapazes logo veio atrás, querendo fotos e autógrafos. Ele foi levado para um local reservado. A operação para Sheik foi ainda mais cuidadosa. Ele só foi ao local por um pedido de Isaac. Entrou de cabeça baixa, foi direto à área reservada, sem chamar atenção.

O último a chegar foi Neymar. A chegada do santista foi anunciada por Isaac dez minutos antes do carro encostar. O craque santista abaixou o boné e, entre seus cinco amigos, foi direto para uma mesa escondida. Foi interrompido por poucas pessoas durante o jantar. “Por essa eu não esperava. Até o Neymar apareceu”, comemorou Isaac.