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Adiantamento de 10 mi de euros nunca saiu de cofre do Barça e vira bônus para Neymar

Barcelona tentou antecipar compra de fatia de Neymar - David Ramos/Getty Images
Barcelona tentou antecipar compra de fatia de Neymar Imagem: David Ramos/Getty Images

Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo

06/06/2013 06h00

O Barcelona disponibilizou dinheiro antecipado na transação de Neymar com o objetivo de comprar uma fatia dos direitos dele ainda em 2011 e, assim, garantir no papel sua ida posterior para a Catalunha. O UOL Esporte apurou que o objetivo era comprar a parcela do fundo DIS, que detinha 40% de qualquer transferência sobre o atleta. Mas aquela negociação nunca se concretizou e o dinheiro não foi usado, nem pago ao jogador, ao contrário do divulgado anteriormente pelo clube espanhol. O montante vai se transformar agora em um bônus para ele.

Essa estratégia foi confirmada por fonte ligada ao clube espanhol e por documentos relacionados à transação levantados pelo UOL Esporte. As informações obtidas pela reportagem ainda indicam que o pai do jogador, Neymar dos Santos Silva, poderia atuar como intermediário nesta transação, adquirindo em seu nome parte dos direitos sobre seu filho.

A tentativa de comprar uma fatia do jogador ocorreu sem conhecimento do Santos. O Barcelona decidiu por esse caminho após o atleta firmar um compromisso verbal de que atuaria pelo time após deixar a equipe santista. Isso ocorreu no final de 2011, após a cúpula santista rejeitar propostas do time catalão e do Real Madrid para vendê-lo. A previsão era de que, assim, sua saída para a Espanha só seria em 2014, após a Copa do Mundo.

Se não tiverem a anuência do alvinegro praiano, o acordo verbal e a tentativa de adquirir parte do atleta representam um quebra por parte do Barcelona do estatuto de transferência de atletas da Fifa. Isso porque um clube não pode induzir o rompimento de um contrato em vigor sem negociar com o time do jogador. A punição pode ser até a proibição de inscrever novos atletas.

Representantes do Barcelona, no entanto, alegam que o presidente santista, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, tinha conhecimento de toda a negociação do time espanhol com o ex-craque santista. A alegação é de que o cartola autorizou verbalmente essas conversas enquanto ouvia propostas dos espanhóis no final de 2011.

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Quando o dirigente santista rejeitou as ofertas, o time barcelonista fez o acerto verbal com Neymar para que pudesse contar com ele a partir de 2014. Para garantir o acordo, que não foi assinado, o clube da Espanha disponibilizou 10 milhões de euros antecipados.

"Em 30 junho de 2012, o clube tem compromissos de compra firme de longo prazo, totalizando 40 milhões de euros. Em conexão com este compromisso, o clube pagou durante o ano 10 milhões de euros, que foram reconhecidos pela propriedade nos adiantamentos a desportivo Intangível 30 de junho de 2012", descreve o balanço do Barcelona do ano fiscal 2011/2012.

O documento ao qual a reportagem teve acesso não cita o jogador, mas o clube espanhol confirmou agora que se tratava de uma referência ao ex-santista.

Quando fechou em definitivo a contratação do atleta, agora em 2013, o Barcelona informou de forma equivocada em seu site inglês que esses 10 milhões haviam sido pagos como "downpayment" (entrada) pelos serviços do jogador. Mas essa versão foi desmentida em seguida.  "Não houve pagamento antecipado. Reservaram o pagamento. Houve uma provisão", afirmou Wagner Ribeiro, agente de Neymar, à reportagem.

De fato, nesta quarta-feira, o Barcelona fez uma correção no texto. Na nova versão, afirmou que o texto foi um "allotment, as a prevision" (parcela, como previsão). Ou seja, confirmou que disponibilizava o dinheiro para pagar uma parcela da transação, mas que ele não fora efetivamente pago.

Se nega o pagamento, a resposta do agente Ribeiro ao mesmo tempo confirma que havia um valor já provisionado para o custear a aquisição do jogador. E foi exatamente no momento deste acerto verbal com o Barcelona, e do maior assédio sobre seu filho, que Neymar pai criou uma empresa de agenciamento de jogadores.

A "N&N Consultoria Esportiva e Empresarial LTDA" foi citada pelo Barcelona em seu comunicado oficial como uma das quatro que receberam pela transação do jogador agora em 2013. Essa empresa entrou em funcionamento em outubro de 2011. Seu capital de R$ 100 mil está dividido entre Neymar pai e Nadine, mãe do jogador. Os dois dividem os lucros desta firma, como mostram documentos da Junta Comercial.

Com sua empresa criada, o pai de Neymar fez uma oferta para o DIS para comprar os 40% dos direitos sobre seu filho, segundo apurou o UOL Esporte. Fonte ligada ao fundo informou que a oferta foi considerada baixa, em torno de 5 milhões de euros, e por isso foi rejeitada. Por coincidência, o Barcelona, cujos representantes são muito próximos do pai de Neymar, tinha dificuldades para se aproximar do fundo que rejeitava ouvir ofertas. A reportagem ligou para Neymar pai durante dois dias seguidas, sem ter retorno.

A relação entre os barcelonistas e Neymar era tão próxima que o jogador rejeitou a oferta mais alta do Real Madrid, em salários e em pagamentos para o Santos. Mesmo assim, os rivais acabaram inflacionando o preço para o Barcelona que teve de pagar um total de 57 milhões de euros.

Desse total, quem ficou com a maior fatia foi de fato o jogador e seu pai, embora tenham ganho menos do que os 40 milhões que embolsariam sozinhos em 2014. Uma parte do total amealhado agora pela família Neymar foram aqueles 10 milhões de euros reservados pelo Barça em 2011. Um dinheiro que viajou nas bocas do mundo sem ter saído do caixa do clube espanhol até agora.

*Colaborou Ricardo Perrone