Topo

Alessandro dribla suspeitas e para como líder de reformulação corintiana

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

29/11/2013 06h00

Se um jogador de futebol vive seu auge na primeira década de carreira, Alessandro é uma exceção. Aos 34 anos, o capitão que levantou as taças da Libertadores e do Mundial de Clubes pelo Corinthians anunciou que vai mesmo se aposentar ao fim desta temporada. Com isso, pôs fim em uma carreira que concentrou seus melhores momentos no fim, em uma trajetória de seis anos de superação de desconfianças, alguns sustos e muita liderança no Parque São Jorge.

“O mais interessante foi a sequência de conquistas. Os Paulistas, a Copa do Brasil, o Brasileiro, a Libertadores e o Mundial. Cada título tem uma importância. Nem eu acreditava que conquistaria tantos títulos no clube, mas lutamos e conseguimos. Com certeza vou levar para a minha vida as grandes lembranças, as melhores delas nesses seis últimos anos como profissional no Corinthians”, disse o jogador na última quinta, ao anunciar sua aposentadoria.

Alessandro tem contrato com o clube até dezembro deste ano, mas decidiu pendurar as chuteiras após o fim do Campeonato Brasileiro. Hoje, ele é o único remanescente do elenco montado em 2008 para tirar o Corinthians do buraco da segunda divisão.

Na época, o lateral chegava ao clube com o aval de Mano Menezes, que o conhecia da passagem de ambos pelo Grêmio. Alessandro, porém, carregava no currículo passagens sem brilho por Palmeiras e Santos, e demorou a convencer a torcida alvinegra.

Durante toda a gestão de Mano Menezes, o lateral foi um coadjuvante valoroso, titular nas primeiras conquistas da geração atual. Foi sob o comando de Tite, porém, que ele teve sua estreia como protagonista.

Em 2011, no primeiro jogo após a eliminação desastrosa diante do Tolima, ele marcou o gol da vitória suada sobre o Palmeiras, com direito a provocação à torcida rival na comemoração. O resultado deu sobrevida ao treinador, que ganharia tudo a partir dali, com o lateral sendo cada vez mais importante.

“Quando eu saí, eu já achava que ele deveria ser o capitão. Não que o Chicão não fosse um bom nome, mas ele sabia se expressar muito bem, tinha um pensamento vencedor que ajudava muito em um grande clube. Já era um líder dentro do vestiário”, disse William, o “Capita”, que deixou o Corinthians no fim de 2010, ao se aposentar.

A braçadeira chegou a Alessandro quando Chicão entrou em atrito com o treinador, e não ganhou um novo dono até hoje, ainda que tenha revezado entre outros líderes do elenco.

Nem só de glórias, porém, foi feita a passagem de Alessandro no Corinthians. Em 2012, a Libertadores foi a maior conquista, mas também a grande provação do lateral, que chegou a ir para a reserva de Edenílson durante a campanha do título. Quando o companheiro se lesionou, o veterano quase entregou um gol feito para Diego Souza na partida contra o Vasco, marcante na caminha rumo à conquista da América.

“O Alessandro é um líder como poucos que eu vi até hoje. Um cara honesto, correto, trabalhador, que sempre procurou fazer o melhor para todo mundo. Vou poder dizer para todo mundo que tive a honra de poder ter trabalhado com ele”, disse Cássio, que defendeu o chute do meia vascaíno e salvou o colega mais experiente.

No fim do ano, Alessandro repetiria o gesto no Japão, quando o Corinthians bateu o Chelsea e ganhou o mundo pela segunda vez. Na comemoração, o lateral foi especialmente exaltado por Andrés Sanchez, presidente que o levou ao clube em 2008, que ressaltou a dedicação do jogador pelo clube até ali.

“Eu tenho dois agradecimentos profundos a fazer. Ao Flamengo, que me projetou para o futebol, e ao Corinthians, que me abriu as portas de maneira tão intensa”, disse Alessandro.

Um ano depois do auge no Japão, o lateral encerra sua carreira em um clima um pouco melancólico, em meio a uma renovação forçada no elenco campeão, que decepcionou em 2013. Com crédito, Alessandro sai pela porta da frente, homenageado pelo clube como um dos responsáveis pela mudança vivida no Parque São Jorge nos seis anos em que o lateral lá esteve.

“Da Série B em 2008 até o Mundial em 2012, não houve barreira, país ou adversário que parasse o nosso eterno capitão. Oito títulos, mais de 250 jogos. Um profissionalismo infinito. Obrigado, Guerreiro”, disse o clube, em seu Twitter, relembrando o apelido do lateral.