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Bernard fará churrasco no Mundial e promete cornetar jogadores

Luiza Oliveira

Do UOL, em Marrakech (Marrocos)

18/12/2013 06h23

Bernard participou de todo o sofrimento na história campanha da Libertadores. Sentiu as dores das derrotas, enfrentou a dura pressão e viveu a glória com a conquista do título inédito. Agora jogador do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, o meia mudou de lado e virou um simples torcedor. Vai fazer um churrascão para acompanhar o Mundial de Clubes.

Bernard está em Belo Horizonte para as festas de final de ano e vai aproveitar para reunir os amigos nos dias de jogos do Galo na competição que acontece no Marrocos. Ele já planejou uma festa com direito a telão para assistir ao clube onde cresceu.

Em um de seus raros momentos como torcedor, nem seus amigos do time vão escapar de serem cornetados se fizerem besteira em campo. “Vou juntar a galera toda, todos os colegas que tenho e fazer um churrascão. Aí eu vou poder xingar, desabafar, são todos meus amigos no time, mas vou ter o meu lado raro de torcedor”.

Brincadeiras à parte, ele diz que ainda tem amizade com todo o grupo e sente muitas saudades no frio inverno de Donetsk. Curiosamente, o Galo ainda faz muita parte de sua vida. Bernard passa as madrugadas vendo os jogos do alvinegro e tem um amigo, um pastor atleticano, que ‘faz tudo’ e resolve de corte de cabelo a problema no trânsito.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Bernard fala ainda sobre seu crescimento ‘fora do normal’ na seleção brasileira, a possibilidade de disputar uma Copa do Mundo e seus sonhos futuros.

Como você vê sua saída do Atlético-MG? Sente falta?

Acho que em nenhum momento eu ia querer sair. Tenho um sentimento enorme pelo clube, desde os funcionários, roupeiros, todo mundo que trabalha lá, cortador de grama, cozinheiro, jogadores, comissão técnica, eu tinha prazer em sair de casa e ir treinar. Lá é todo mundo querendo ajudar. Eu ainda sinto muita falta, vai ser difícil encontrar um grupo como esse. Bate uma saudade grande. Agora vejo o clube indo para um campeonato tão importante e me dá muito orgulho. Ainda assisto a todos os jogos. Tem um site que passa todas as partidas, estou sempre acompanho. Fico acordado até às 4h, 5h da manhã independentemente do horário e se vai ter treino no dia seguinte de manhã. Tem que usar de tudo, Coca Cola, café. Vejo o jogo, aí chego do treino morto e durmo.

Qual é sua relação com os jogadores do Atlético? E com o Ronaldinho?

A gente tem um grupo no whatsaap (aplicativo de mensagens instantâneas pela internet). A gente sempre quer saber como está o outro. É um grupo excepcional, maravilhoso, nunca vi ninguém de cara fechada, vou torcer demais. E sobre o Ronaldinho, sou suspeito para falar dele. É um dos meus principais ídolos de infância. Quando eu era pequeno eu matava aula para vê-lo jogar, não que eu ache que isso seja um exemplo, pelo contrário. Mas vou continuar admirando e tendo o respeito que ele merece e há de conquistar ainda mais. Ninguém é duas vezes melhor do mundo à toa.

De que forma você pretende acompanhar o Mundial de Clubes?

Torço bastante e mando energia positivas. Não deu para ir para o Marrocos porque minhas férias são muitos curtas. Mas vou juntar a galera toda, todos os amigos que tenho e fazer um churrascão em Belo Horizonte. Aí eu vou poder xingar, desabafar, são todos meus amigos no time, mas vou poder xingar, ter o meu lado raro de torcedor. Depois, vamos comemorar o título, se Deus quiser.

Como você vê sua ascensão na seleção? Você ganhou o elogio do Felipão de alegria nas pernas...

Eu não esperava. Agradeço bastante a Deus pelas oportunidades que apareceram. Todos querem evoluir, subir na vida. Bastantes pessoas falam que estou garantido na Copa, mas eu procuro não ouvir, não vou me acomodar. Aprendi com o meu pai a não me acomodar, eu quero sempre evoluir. Mesmo sabendo que só tem mais um amistoso, vou procurar saber onde tenho que melhorar. A minha ascensão realmente foi rápida, achei que pudesse demorar mais, foi um pouco surreal. Mas meu sonho é continuar em busca das oportunidades e não sair do grupo que vai estar no Mundial do Brasil. Falando da ‘alegria nas pernas’, eu não esperava o elogio. Fiquei bastante feliz por vim do treinador da seleção, o meu treinador. Me motivou bastante para buscar ainda mais as oportunidades.

Você superou o Lucas Moura na seleção. O que você acha da sua briga com ele?

Difícil para eu dizer. O Lucas é um cara que eu gosto para caramba, é um amigo. São preferências do professor. Busquei meu espaço, graças a Deus com treinamentos a cada dia. Não passei por cima de ninguém.

Depois de conquistar a Libertadores e ser convocado para a seleção brasileira, com o que você ainda sonha?

Não pode deixar de sonhar. Tem que continuar. Eu sonho em ganhar uma Copa do Mundo, sem trapacear ninguém. Eu sempre falo  que Deus não dá um fardo se não é capaz de vencê-lo. Sonho com clubes grandes da Europa, não posso falar um nome porque se o rival interessar me complica. Mas Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique, Borussia... são todas grandes equipes em que eu adoraria jogar. E também falo que o futebol inglês é o futebol mais disputado.

O que é mais importante para você: Libertadores ou Copa do Mundo?

Os dois. A Copa é no Brasil. E a Libertadores, pelo fato de ser pelo Atlético, foi muito especial. Os torcedores que me apoiaram e me ajudaram são os que mais mereceram. Saímos de quase rebaixados em 2011 para campeões. Então foi tudo muito especial para mim.

Como você vê sua fase atual no Shakhtar?

Estou muito bem, graças a Deus. Acho que me adaptei rápido e estou mostrando meu potencial. Outro dia dei quatro assistências no mesmo jogo. Depois que fiz a segunda e a terceira ficaram brincando que eu estava exagerando, dando muito passe. Eu gosto de fazer gol. Mas me dá muito prazer deixar um companheiro na cara do gol. Consegui ter um estilo, esse é o meu.

Tem torcedores atleticanos em Donetsk?

Tem um pastor brasileiro, o pastor Filemon, que é muito amigo de todos os brasileiros. Ele dá culto em russo, a língua é muito difícil, bastante complicada, e eu o admiro muito por isso. Ele é mineiro e atleticano doente e vem me ajudando no que eu preciso. Em tudo ele ajuda, sempre resolve coisas do dia a dia. Se eu for parado por um policial no trânsito eu ligo para ele, se precisar conversar em russo com uma vendedora, ele conversa, cortar cabelo. Tudo e a qualquer hora podemos ligar para ele.  Eu sou evangélico e bastante religioso, sigo os caminhos e princípios da oração. Toda segunda é o dia do culto dos atletas e é ele quem celebra.

Como é sua vida na Ucrânia? Está perto de amigos e namorada?

A minha vida aqui é bem tranquila. Eu gosto de ficar em casa. Nesse frio não dá vontade de sair. Vejo filme, séries. Agora está nevando bastante, aí escurece cedo, fica triste. Terminei o namoro há mais de um ano, então não tem namorada para atrapalhar. Meu foco é só futebol. Meus amigos são muito importantes na minha vida. Eles vieram comigo quando eu vim conhecer o clube e voltaram, ficaram só quatro dias, mas é muito boa a intimidade de poder sempre contar com eles. No verão, eles vão voltar para passar uma temporada maior.

E a sua família?

Minha família está aqui comigo. Meu primo é três anos mais novo e também está aqui, veio me ajudar. Estou tentando arrumar para ele treinar no Shakhtar, na verdade eu já arrumei. Ele vai treinar no Shakhtar no ano que vem, vamos ver como ele vai se adaptar. É um lateral direito, mais violento, mais áspero. Espero que ele se adapte, mas sei que o início é difícil.

Como lida com assédio e a vida de famoso?

Sou bastante tranquilo, não sou de beber em balada, nem de ficar com ninguém em público. Sou bastante tranquilo quanto a isso e acredito que cada pé tem seu chinelo. Meu foco hoje é o futebol, penso em ter uma família e filhos, mas mais futuramente. Tem pessoas que se aproximam e você vê que é só interesse, meu pai fala bastante e me dá muitos conselhos sobre isso. Mas eu sou reparador. Quando você conversa com alguém desse tipo, a pessoa deixa pistas. Eu também procuro ouvir muito.

Sobre essa coisa de ser famoso, eu não ligo muito. Eu procuro ir a um restaurante, ao shopping. Mas aqui a cidade quase não tem nada, o maior acontecimento é um jogo da Liga dos Campeões, não tem tantos atrativos. Já em Belo Horizonte, nos meus últimos meses lá, estava ficando difícil. Teve um dia que eu tive que sair do shopping correndo. Mas eu fico bastante feliz porque acho que é um reconhecimento.