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Derrotado em 2001, relator da CPI CBF/Nike vê bancada da bola fragilizada

Aldo Rebello e Sílvio Torres durante a leitura do resultado final da CPI - Beto Barata/Folhapress
Aldo Rebello e Sílvio Torres durante a leitura do resultado final da CPI Imagem: Beto Barata/Folhapress

Vagner Magalhães

Do UOL, em São Paulo

29/05/2015 12h00

A prisão do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, 83, deverá enfraquecer a blindagem política - da bancada da bola -  e jurídica que a entidade criou no Brasil. Essa é a opinião do deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Câmara dos Deputados em 2000 para investigar a CBF e o contrato da entidade com a empresa de material esportivo Nike. 

"A grande vantagem agora é que esse lobby político e jurídico ficou enfraquecido. Isso poderá ajudar muito", prevê Torres. No relatório, produzido em junho de 2001, era pedido o indiciamento do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e outros 33 nomes, entre dirigentes, empresários e outros envolvidos. Porém, a CPI terminou sem o relatório aprovado e no decorrer do tempo as investigações foram arquivadas. 
 
Nesse relatório, Teixeira é acusado de usar o seu prestígio para criar fomentar o lobby político, com direito a doações financeiras a parlamentares em campanha. A Nike foi apontada como uma empresa cuja sua influência interferiria, inclusive, na escalação da seleção brasileira.
 
Na avaliação do deputado, o enfraquecimento da blindagem faz crescer as chances de, agora, se passar o futebol brasileiro a limpo.  No senado, Romário (PSB-RJ) conseguiu reunir assinaturas suficientes para a criação de uma CPI para investigar o futebol nacional. O mesmo deverá ocorrer na Câmara dos Deputados. "Depois tentaremos um acordo para unificar as duas investigações", afirma Torres.
 
O relatório chegou a ser publicado em formato de livro, assinado por Torres e pelo então presidente da CPI Aldo Rebello (PCdoB-SP). Porém a Justiça proibiu que o relatório se tornasse público. A obra, até hoje, está embargada.
 
"Esse trabalho teve o mérito de mostrar com provas, com evidências, a situação do futebol no Brasil e as suas conexões internacionais. Mostrar como os recursos da CBF, da comercialização da seleção, estavam sendo utilizados. A CBF sempre deu um tratamento de que não deviam satisfação para ninguém. Que aquilo era particular deles. Achavam que podiam fazer o que fizeram, facilmente manipulando federações, clubes. A partir do contrato com a Nike, os cofres começaram a se encher", afirma.
 
Torres diz que a operação montada pelos Estados Unidos e que terminou com a prisão de Marin na manhã de quarta-feira só foi possível porque "o grupo ampliou tanto os negócios, que precisou transacionar em bancos suíços e americanos".
 
"Lá não tem essa de ser dinheiro privado ou público. O tratamento que se dá para a lavagem de dinheiro em países onde é fiscalizado com bastante rigor é um tratamento de crime grave. Quando alguém resolveu investigar tudo o que já era denunciado pela imprensa, evidências que foram se confirmando. Aí os americanos resolveram dar um basta".
 
Ele diz que os dirigentes brasileiros se achavam impunes.  "A grande novidade foi essa. A Justiça Brasileira também tem leis para isso. As nossas leis não são menos rigorosas. Aqui a CBF desenvolveu uma blindagem jurídica, política e na base da sociedade. O glamour do futebol acaba sensibilizando as pessoas". 
 
Segundo ele, a investigação na década passada já mostrava por onde circulava a corrupção. "O contrato da Nike é base para a investigação nos Estados Unidos. É de lá que saiu o primeiro dinheiro. Já havia indícios claros de lavagem de dinheiro, que, creio, também esteja no âmbito dessa investigação dos Estados Unidos".