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Blatter, Valcke e Platini são suspensos da Fifa por 90 dias

Do UOL, em São Paulo

08/10/2015 08h00

Joseph Blatter sofreu seu maior golpe em seus 17 anos no comando da Fifa. O dirigente suíço foi suspenso por 90 dias de qualquer função administrativa na entidade. A decisão foi tomada pelo juiz alemão Hans-Joachim Eckert após o comitê de ética da Fifa sugerir o afastamento do dirigente, acusado de corrupção e má gestão.

Em nota oficial, Blatter, por meio de seus advogados, se disse “desapontado” com o comitê de ética da Fifa por não seguir o código de ética e de disciplina da entidade. “O comitê de ética se baseia em um mal-entendido da Procuradoria Geral da Suíça, que abriu investigação, mas não trouxe nenhuma acusação contra o presidente”, falou. “Presidente Blatter aguarda a oportunidade de apresentar provas de que irá mostrar que ele não se envolveu em qualquer conduta imprópria, criminal ou algo do tipo”, completou.

A pena de três meses também vale para Michel Platini, presidente da Uefa, e Jerome Valcke, que foi o número 2 da Fifa (e que já estava afastado do quadro da Fifa). A suspensão dos dirigentes pode ser prorrogada por até 45 dias.

Eckert comandou a câmara julgadora do comitê de ética. Tal suspensão é a pena máxima prevista enquanto há uma investigação em andamento na Fifa.

Já o ex-vice-presidente da Fifa, Chung Mong Joon foi banido do futebol por seis anos sob acusação de compras de votos nas licitações para as Copas do Mundo de 2018 e 2022. Além de excluído, Mong Joon recebeu multa de US$ 107 mil (R$ 415 mil).

Antes mesmo da punição, Chung Mong Joon havia falado sobre a possibilidade de ser punido. O candidato chamou a tentativa de uma de golpe o que estava passando. “A razão fundamental pela qual estou sendo alvo é que fui direto à estrutura de poder existente na Fifa”, falou.

O comitê de ética da Fifa abriu processo contra Blatter no dia 5 de outubro para investigar a liberação de 2 milhões de francos suíços (cerca de R$ 8 milhões) para pagamento a Michel Platini. O dinheiro pertencia à Fifa e, segundo Blatter, foi entregue a Platini por serviços prestados de 1999 a 2002. O pagamento ocorreu em fevereiro de 2011, nove anos depois dos serviços supostamente prestados.

Blatter sustenta que Platini foi colaborador da Fifa. Já o dirigente da Uefa defende que o dinheiro foi recebido legalmente.

Blatter também é investigado por apropriação indébita. Ele teria repassado a Jack Warner contrato de TV de Copas do Mundo por US$ 600 mil. Posteriormente, Warner, que presidia a Concacaf, revendeu os direitos por US$ 20 milhões. Acusado de corrupção, Warner foi banido do futebol.

Platini considera a punição injusta.

"Se o que está sendo relatado por conta das intenções da câmara de investigações do Comitê de Ética da Fifa é de fato verdade, nada irá me deter de garantir que a verdade seja conhecida", disse em nota, antes de o anúncio oficial da suspensão.

Blatter está impedido de utilizar seu escritório na sede da Fifa, em Zurique, e de participar de qualquer atividade ligada à entidade.

Segundo a Fifa, quem assume o cargo de Blatter é Issa Hayatou, de Camarões, por ser o vice-presidente mais velho da entidade. Presidente da Confederação Africana de Futebol, ele é acusado de ter recebido suborno no caso ISL em 1995. Para fechar com a Fifa, o dirigente teria recebido 100 mil francos suíços. Já a vaga de Platini na presidente da Uefa fica com o espanhol Angel Villar.

Eleição na Fifa está em risco

A suspensão de Platini e Chung Mong Joon coloca em dúvida a eleição presidencial da Fifa, marcada para dia 26 de fevereiro. Os dois dirigentes haviam confirmado candidatura.

Platini retomará as atividades somente em janeiro; Mong Joon foi banido pela Fifa por seis anos e, consequentemente, retirado da disputa pelo trono da Fifa. Com isso, o príncipe jordaniano Ali Bin Al-Hussein volta a ganhar força, sobretudo na Uefa, reduto de Platini, que havia se tornado adversário. 

De acordo com o porta-voz da Fifa, Andreas Bantel, a punição a Platini não inviabilizaria sua candidatura. “Não é uma questão para o comitê de ética, mas para a comissão eleitoral da Fifa, que estudará sua validade”, afirmou à AFP

Em contrapartida, o porta-voz do comitê de ética da Fifa informou que dificilmente Platini participará do pleito. “Se já não apresentou sua candidatura não poderá fazê-lo, porque o prazo acaba em 26 de outubro próximo, momento no qual estará suspenso. Se já o fez, entendo que pode continuar, mas não poderá fazer campanha nem assistir a nenhuma reunião relacionada com o futebol", falou.

Quem também poderá ganhar força é o brasileiro Zico. Ele ainda precisa conseguir apoio de cinco confederações nacionais para que possa concorrer. Quando foi à CBF, o ex-jogador escutou que teria o apoio brasileiro caso conseguisse as outras quatro indicações.

Caso a suspensão seja mesmo prorrogada por 45 dias, ela valeria até o dia 20 de fevereiro, apenas seis dias antes da eleição do sucessor de Blatter.

Patrocinadores pediram a cabeça de Blatter

A suspensão praticamente encerra a administração de Blatter na Fifa. Ele retornará às atividades em janeiro. No mês seguinte, haverá nova eleição presidencial; ele não concorrerá. Blatter já avisou que não quer ficar nem um dia a mais após 26 de fevereiro, data do pleito.

A permanência de Blatter na presidência se tornou inviável após pressão pública dos principais patrocinadores da Fifa. Preocupadas com a imagem deteriorada da Fifa em meio a diversas denúncias de corrupção, a Coca-Cola, McDonalds e Visa exigiram a saída imediata de Blatter do comando da entidade.

Desde 27 de maio, quando sete dirigentes do futebol mundial foram detidos em um hotel de Zurique, entre eles José Maria Marin, a Fifa caminha entre escândalos de corrupção.