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Novas arenas causaram orgulho e lamentação em 2015; veja os casos marcantes

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

27/12/2015 06h00

As arenas que foram inauguradas no Brasil em 2013 e 2014, a maioria com o objetivo de serem utilizadas na Copa do Mundo do ano passado, completam seu primeiro ano de operação após o evento internacional com motivos de orgulho e de constrangimento.

Em certos casos, confirmaram a previsão de que se tornariam "elefantes brancos" após a realização do torneio da Fifa. Por outro lado, a média de público por jogo no Campeonato Brasileiro foi 128% maior nas novas arenas em comparação com a média nos estádios "antigos".

O UOL Esporte preparou uma lista dos maiores micos e dos maiores acertos relacionados às novas praças esportivas inauguradas no Brasil no ano da Copa
 

OS ACERTOS DAS NOVAS ARENAS BRASILEIRAS


O sucesso na "Lampions League"


Os espetáculos proporcionados pelas torcidas nordestinas durante a Copa da Nordeste (carinhosamente apelidada de Lampions League, em alusão ao torneio europeu Champions League), no primeiro semestre deste ano, provam que Estados como Ceará, Bahia e Pernambuco têm um futebol desenvolvido ao ponto de justificar o investimento em grandes arenas, basta que a organização dos campeonatos e as estruturas de acesso estejam também à altura.

A final da copa interestadual, entre Ceará e Bahia, no Castelão, bateu o recorde de público do futebol brasileiro após a Copa do Mundo de 2014. O confronto decisivo da "Lampions" levou 63.399 torcedores ao estádio e teve renda bruta de R$ 1.807.162,00.

Uma semana antes, na Arena Fonte Nova, em Salvador,. mais de 40 mil pessoas acompanharam a primeira partida da final do torneio. Resultado: as finais da Copa do Nordeste tiveram público superior aos de todas as finais de campeonatos regionais de 2015


Música, teatro e cultura de graça na Arena Pantanal


Em Cuiabá, a administração que assumiu o governo estadual no início deste ano usou de criatividade e observação do comportamento espontâneo da população para garantir que o estádio tivesse maior utilidade, mas não conseguiu impedir que ele gerasse prejuízo financeiro aos cofres públicos.

Para incentivar a utilização do equipamento, o governo estadual decidiu arcar integralmente com o custo de manutenção em 2015. Dessa maneira, pelo menos foi possível garantir que a população pudesse usufruir da praça esportiva. A Arena Pantanal recebeu um público de quase 100 mil pessoas só no mês de novembro.

Um quarto disso, ou 25 mil pessoas, não pagou nada para entrar, são aqueles que passaram pelo local na quarta edição do programa "Vem Pra Arena", criado pelo governo estadual. Ele ocorre em fins de semana, tem entrada gratuita e conta com atrações musicais, cênicas e praça gastronômica a preços acessíveis, das 18h às 22h. 
 

Jogos de clubes grandes enchem o Mané Garrincha

 
O maior estádio entre os que foram utilizados na Copa foi erguido em uma cidade sem qualquer tradição no futebol nacional. O resultado é que, conforme foi previsto desde o início da preparação do Brasil para a Copa, a arena jamais será viável economicamente, principalmente se lá jogarem apenas clubes do Distrito Federal

Até novembro deste ano, a arrecadação do Governo do Distrito Federal com 13 partidas e 52 eventos que foram realizados no estádio brasiliense foi de R$ 1,5 milhão. Já os gastos operacionais estimados até o mês passado foram de R$ 7,7 milhões. Ou seja, um prejuízo de R$ 6,2 milhões. Os números são do próprio governo distrital.

Os únicos jogos de futebol que receberam um público superior a 15% da capacidade total do estádio foram aqueles que contaram com clubes grandes do futebol nacional. O recorde de público foi no dia 22 de novembro, entre Flamengo e Coritiba, quando 67.011 pagantes proporcionaram uma renda de R$ 3.995.500. Já no dia 18 de janeiro, o mesmo Flamengo, em amistoso contra o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, levou pouco mais de 26 mil pessoas ao elefante do DF.


Música e folia no Carnatal na Arena das Dunas


O maior carnaval fora de época do Brasil, o Carnatal, realizado há 25 anos na capital potiguar, sempre foi realizado no entorno do antigo estádio Machadão, que foi demolido para dar lugar à Arena das Dunas.

 No começo deste mês, os foliões curtiram quatro dias de festa no entorno do novo estádio, e a estrutura montada por seus operadores foi elogiada pelos cantores que se apresentaram no evento, como Bell Marques, um dos maiores ícones do axé baiano.

Mais de 100 mil pessoas pularam na micareta de Natal em 2015. De acordo com as autoridades policiais, a edição deste ano apresentou uma queda no registro de ocorrências em relação aos anos anteriores. “O bom planejamento das instituições públicas e dos organizadores da festa foi essencial para a tranquilidade da festa", afirmou o tenente-coronel Raimundo Florêncio, da Polícia Militar do Rio Grande do Norte.


Allianz Parque é palco de título do Palmeiras pela 1ª vez
 

Um ano depois de ser inaugurado, o Allianz Parque foi, pela primeira vez, palco de uma finalíssima de campeonato, com entrega da taça ao fim da partida. O alviverde foi campeão da Copa do Brasil no novo estádio, no dia 2 de dezembro deste ano.

O fato ocorreu poucas vezes no Palestra Itália, que foi demolido para dar lugar à nova arena. Em 108 anos de história, apenas seis títulos, com confronto de mata-mata, foram definidos no local. 

Já a nova arena recebeu duas finais apenas neste ano. Em abril, o estádio foi palco da primeira partida da final do Campeonato Paulista. Na ocasião, o Palmeiras venceu o Santos por 1 a 0. Na segunda partida, o time alvinegro fez 2 a 1 no tempo normal e garantiu o título nos pênaltis, na Vila Belmiro. 

O sucesso de público e renda da Arena Corinthians

O Corinthians foi o campeão absoluto de público e renda no ano de 2015. As partidas que o clube disputou em sua nova Arena Corinthians geraram uma renda acumulada de R$ 72.669.623. O número é muito próximo ao do rival Palmeiras, que, com sua Allianz Parque, faturou R$ 72.586.803 nas bilheterias.

Em termos de público, com uma média de 33 446 pagantes por jogo no ano, o Corinthians foi também o clube com a maior presença de torcedores, superando novamente o Palmeiras, dono da segunda melhor média (29.454).

No Campeonato Brasileiro, o alvinegro foi também o clube com a melhor média de público (34.188) e renda (R$ 2.038.940), alcançando suas melhores médias na história dos pontos corridos (desde 2003). A Arena Corinthians caiu nas graças da torcida.
 

OS MAIORES MICOS DAS NOVAS ARENAS


Lagartas infestam gramado da Arena da Amazônia


Após o Governo do Estado do Amazonas passar seis meses sem pagar pelo serviço de manutenção do gramado, a empresa contratada para tanto suspendeu suas atividades, no início do mês passado.

Foram 20 dias sem qualquer cuidado com a grama. Quando o governo resolveu pagar o que devia (R$ 440 mil), o campo de jogo já estava tomado por uma infestação de lagartas. A empresa contratada anuncia que o gramado não estará em condições de uso até, pelo menos, fevereiro do ano que vem. 

A Arena Amazônia não sediou nenhum jogo das séries A e B do Campeonato Brasileiro em 2015, ao contrário das outras 11 sedes do Mundial. O equipamento fecha o ano no vermelho, tendo gerado um prejuízo aos cofres estaduais de R$ 4,08 milhões.
 

Goteiras na cobertura do Estádio Nacional Mané Garrincha

O Estádio Nacional Mané Garrincha é o mais caro entre os erquidos para a Copa. Custou entre R$ 1,6 bilhão a R$ 2 bilhões, a depender da instituição que calcula. Só a cobertura do estádio custou, pelo menos, R$ 209 milhões. Isso não impediu que, ainda em 2013, a arena tenha sido tomada por goteiras.

O Governo do Distrito Federal, então, anunciou uma reforma no equipamento, que custou, pelo menos, mais R$ 15 milhões. Isso não impediu, porém, que a moderna cobertura voltasse a apresentar goteiras, para o desconforto dos torcedores que acompanhavam o amistoso entre Cruzeiro e Shakhtar Donetsk, em janeiro deste ano.

Até novembro deste ano, a arrecadação do Governo do Distrito Federal com 13 partidas e 52 eventos que foram realizados no estádio brasiliense foi de R$ 1,5 milhão. Já os gastos operacionais estimados até o mês passado foram de R$ 7,7 milhões. Ou seja, um prejuízo de R$ 6,2 milhões. Os números são do governo distrital.  


Consumo de drogas e álcool na Arena Grêmio e no Beira-Rio


Em agosto deste ano, o jornal "Zero Hora", de Porto Alegre, publicou um material, em texto, fotos e vídeos, que foi colhido durante três meses nos dois principais estádios da capital gaúcha: Arena Grêmio e Beira-Rio.

Nele, o que se viu foi que o consumo de álcool (proibido dentro das praças esportivas do rio Grande do Sul) e de drogas como maconha e cocaína aconteciam livremente dentro das arenas gremista e colorada. 

Os torcedores entravam nos estádios com drogas ou sacos plásticos contendo bebidas alcoolicas presos em suas meias ou outras partes do vestuário, passando sem dificuldades pela revista feita na entrada. Após a publicação da reportagem, as autoridades responsáveis pela segurança nos estádios, bem como os dois clubes gaúchos donos dos estádios, prometeram aumentar o rigor na fiscalização e revista dos torcedores que frequentam as arenas.
 

Qualidade do gramado do Allianz Parque


Excesso de shows, luminosidade insuficiente, entressafra e processo lento de crescimento. Muitas já foram as explicações apresentadas para as falhas no gramado da Allianz Parque, mas fato é que as críticas por parte dos atletas que utilizam o campo continuam. 

No mês passado, quando Palmeiras e Vasco se enfrentaram no local, as falhas foram novamente sentidas. Dessa vez, a explicação foi a entressafra. Na segunda metade de maio, o gramado passou por um processo de plantio das sementes de inverno. A grama, com a chegada dos meses mais quentes, começou a morrer, o seria normal e daria lugar ao recrescimento do gramado de verão, que leva alguns meses. 

Curiosamente, a mesma justificativa, a do plantio do gramado de inverno, serviu para rebater críticas feitas pelos próprios jogadores palmeirenses às condições do gramado, chamado de "pífio" e "ridículo". Na ocasião, o problema seria que a grama de inverno havia acabado de ser plantada, e ainda não estava em seu tamanho ideal.


Arena Corinthians é entregue atrasada e inacabada


Foi só em outubro deste ano que a empreiteira Odebrecht anunciou que estava oficialmente entregando a Arena Corinthians, totalmente concluída, mais de um ano após a realização da Copa do Mundo.

Já o arquiteto que criou o projeto a ser executado pela empreiteira, Aníbal Coutinho, aponta que a Odebrecht entregou o estádio sem concluir uma série de estruturas previstas em contrato, como "centro de convenções, iluminação externa e áreas de ativação de patrocinadores".

Como resultado, afirma o mesmo arquiteto, o Corinthians está impossibilitado de explorar integralmente o potencial econômico do estádio, tornando, assim, praticamente impossível atingir a viabilidade financeira com a exploração do equipamento.    

Arena Pernambuco vira ralo de dinheiro público canalizado para a Odebrecht


O Governo do Estado de Pernambuco está pagando para a Odebrecht um valor mensal mais de 1000% maior do que o previsto originalmente para a construtora administrar a Arena Pernambuco, estádio erguido pela própria empreiteira baiana em 2013.

No contrato assinado pelo então governador Eduardo Campos (PSB), o governo garantia que, pelo menos, 20 jogos anuais de cada clube grande de futebol da cidade de Recife, Sport, Santa Cruz e Náutico, jogariam no estádio, garantindo um lucro mínimo para a empreiteira.

Acontece que as obras viárias de acesso ao estádio ainda não estão prontas, e só o Náutico resolveu mandar suas partidas lá, normalmente com públicos abaixo de 10 mil pessoas. Assim, o resultado financeiro esperado não está sendo alcançado, e o contribuinte pernambucano é quem tem que garantir o lucro da Odebrecht.