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Base do Corinthians deu abrigo de 6 meses a "gato". Jogador era do Sub-15

José Onofre Almeida, ao lado do vice André Negão, deve deixar base corintiana - Arquivo Pessoal
José Onofre Almeida, ao lado do vice André Negão, deve deixar base corintiana Imagem: Arquivo Pessoal

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

06/05/2016 12h56

Além de um escândalo que envolve dois casos de desvios de dinheiro com o empresário americano Helmut Niki Apaza, a base do Corinthians também foi recentemente abrigo para um jogador com idade adulterada, popularmente conhecido como 'gato', mesmo com as várias suspeitas sobre o histórico do jogador.

O caso ocorreu com o jogador registrado como Alberto Gabriel Costa Santos e que teve contrato com o Corinthians entre o fim de junho e dezembro do ano passado. Embora fosse inscrito na Federação Paulista como nascido em 17 de julho de 2001, com 14 anos, ele já era maior de idade (18) ao fim do vínculo, quando foi dispensado. A idade real do jovem ainda é uma incógnita, sendo fato que tem no mínimo 18. Os documentos apontavam que o jovem, que atuava como centroavante, havia nascido em Feira de Santana-BA.

Alberto Gabriel não teve ainda nenhum imbróglio por sua idade adulterada, tanto que o registro da federação continuou como oficial. Mas já teve rejeições por quem já soube do problema, como uma dispensa do Red Bull Brasil em função das suspeitas com a documentação apresentada. Desde a chegada ao clube, com as aprovações do então gerente técnico Fábio Barrozo e do diretor geral José Onofre de Almeida, era alvo dessas suspeitas dentro do próprio Corinthians. Entretanto, dirigentes defenderam que, se a inscrição foi aceita na Federação Paulista, não havia razões para não utilizar o atleta que, de cara, foi destaque na Copa Laranjal Paulista, em julho.

A pressão dentro do Corinthians se tornou maior a partir de uma convocação para a seleção brasileira Sub-15 no fim de setembro. Com a perspectiva de viajar para o exterior, já que a lista visava filtrar jogadores para o Sul-Americano Sub-15, o jovem teve problemas para conseguir seu passaporte. A direção corintiana então avisou a CBF que Alberto Gabriel não poderia servir o Brasil por problemas na documentação.

Apesar do problema detectado, Alberto seguiu em atividade pelo Corinthians e escalado pelo treinador Ricardo Severo até o fim da temporada do time infantil. Os corintianos foram eliminados pelo São Paulo do Campeonato Paulista com goleada por 3 a 0 no dia 31 de outubro, em Cotia.

Mesmo tendo perdido as 12 rodadas iniciais do torneio, disputadas antes da inscrição dele, o centroavante terminou a competição estadual como vice-artilheiro, com nove gols, só um a menos que Vitinho. Alberto Gabriel deixou o clube ao fim de seu contrato.

O que dizem os envolvidos no caso

O problema foi confirmado à reportagem em condição de anonimato por uma série de dirigentes e funcionários do Corinthians. De forma oficial, entretanto, o comando da base não se pronunciou. José Onofre declarou que estava proibido de dar entrevistas pelo presidente Roberto de Andrade e disse desconhecer Alberto Gabriel. O gerente técnico Claudinei Muza não respondeu mensagens e ligações telefônicas. A reportagem também enviou perguntas por meio da assessoria de imprensa, mas nenhuma resposta foi emitida.

A reportagem também tentou contato com responsáveis pelo jogador. Ao longo do último ano, a procuração dele foi oferecida a empresários que frequentam o Corinthians por quantias que vão desde R$ 50 a R$ 70 mil. Os telefones de Jean Marcel, empresário baiano, e Reginaldo, empresário carioca, estavam desligados.

O olheiro Nido, outro apontado por trabalhar com Alberto Gabriel, confirmou ter levado o jogador ao clube para "atender a um amigo", mas disse em relação à idade adulterada que "só soube depois, isso só me queima e me prejudica". Alberto e seus familiares não foram encontrados pela reportagem.

Base do Corinthians deve passar por grande reformulação

Além do caso de Alberto Gabriel, uma série de episódios em um ano e três meses no comando das divisões de base devem custar a cabeça do diretor geral José Onofre Almeida, muito próximo ao vice-presidente André Negão e ao conselheiro Manoel Ramos Evangelista, o Mané da Carne, ambos envolvidos em problemas recentes.

Na lista de problemas da gestão Onofre estão os casos que envolvem Niki Apaza e as complicadas renovações de contrato do volante Maycon, agora nos profissionais, e do jovem Victor Moura, mais conhecido como Vitinho, atualmente no Sub-17. A base não conseguiu ampliar o vínculo de ambos e as situações tiveram que ser resolvidas pelo presidente Roberto de Andrade. A divulgação do encontro de funcionários do clube com assessores da base ao lado de empresários, na Flórida, também gerou confusão interna em janeiro.

O lugar de Fábio Barrozo, gerente geral demitido, deve ser concedido a Claudinei Muza, que chegou à base como supervisor, é atualmente gerente técnico e deve ser novamente promovido.