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Grupo de BH encara 17h de ônibus para disputar jogo decisivo na várzea

Membros do Mineirinho chegam ao estádio após quase um dia de viagem - José Edgar de Matos/UOL Esporte
Membros do Mineirinho chegam ao estádio após quase um dia de viagem Imagem: José Edgar de Matos/UOL Esporte

José Edgar de Matos

Do UOL, em Curitiba (PR) *

20/01/2019 04h00

Numa terra dominada por Cruzeiro e Atlético-MG, o Mineirinho - time de várzea de Belo Horizonte - comeu "pelas beiradas" para realizar o principal jogo da sua história. O momento histórico para o bairro pedia um uniforme novo, o reforço de patrocinadores e a presença de todo o elenco. Vinte e três vieram no conforto oferecido pela patrocinadora responsável pela Taça Kaiser, outros encararam quase um dia de estrada para sair da capital mineira e chegar a tempo no estádio Couto Pereira no último sábado.

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O presidente Damião Elias da Silva, 42 anos, "puxou o bonde" do grupo de aventureiros. O professor de esportes se juntou a outros cinco amigos do bairro Alto Vera Cruz e saíram de Belo Horizonte às 20h da última sexta-feira. Foram quase 1.000 km viajados e um total de 17h de trajeto até a capital paranaense, com direito a uma pausa de 3h em São Paulo.

Por intermédio de "vaquinhas", ajuda de pequenos comerciantes e dinheiro do próprio bolso, a turma do Mineirinho juntou R$ 1.500,00 e conseguiu se unir aos 23 atletas inscritos e que viajaram antes de avião - voo estimado em quase 2h e bancado pela organização do torneio em Curitiba.

"O presidente puxa o bonde, vim nesta aí do ônibus. Foram três atletas que jogaram também. Quem gosta faz mágica. A gente nunca tinha feito uma viagem tão longa, foi proveitosa. Mineirinho é o time de coração; sou atleticano, mas o time tem vida própria. O Mineirinho, não", afirmou Damião. 

"No Mineirinho, eu pego bola, minha mãe lava as roupas. Às vezes fazemos umas rifas, a gente conta com diretor que paga mensalidade. Vamos fazendo essas mágicas", acrescentou Damião, que nasceu, cresceu e vive no bairro do representante de Minas Gerais no torneio.

A chance de atuar em um campo profissional como o do Coritiba, enfrenar um rival de uma região distante valendo vaga em uma final de caráter nacional e ter a atenção da mídia afastou qualquer tipo de cansaço, como conta Lucas Vilar, vendedor de 25 anos e conhecido no time como o Lukinhas.

"Foi tranquilo, mas fui bem zoado pelos outros meninos, que disseram que eu dormi demais. Mas comigo é assim: se eu durmo de ônibus e pego no sono mesmo, ninguém me acorda", disse, às pressas, antes de ir ao vestiário do Coritiba no Couto para vivenciar sua grande experiência como jogador amador.

Atlético de Blumenau - Divulgação/Taça Kaiser - Divulgação/Taça Kaiser
Atlético de Blumenau venceu nos pênaltis o time do Mineirinhos
Imagem: Divulgação/Taça Kaiser

Todo o esforço, contudo, terminou em frustração dentro das quatro linhas do gramado. Apesar do reforço de Lukinhas e diante da presença do presidente Damião, o Mineirinho acabou eliminado nos pênaltis pelos catarinenses. O Atlético Blumenau-SC joga neste domingo, a partir das 14h30 (de Brasília), contra o Trieste, clube de Curitiba e que venceu na outra semifinal o Bela Vista-RS.

Fora do ambiente esportivo, todavia, veio o reconhecimento por parte dos organizadores da Taça. Comovidos pelo esforço dos seis viajantes, a cervejaria responsável pelo evento se comprometeu a pagar o retorno do grupo de avião, conforme assegurou Gustavo Hila, gerente de marketing da Kaiser ao UOL Esporte

"Quando soubemos desta notícia, providenciamos passagens aéreas para este excedente do time, como uma pequena recompensa nossa mediante a essas horas de viagem que passaram na ida. (...) Isso representa o futebol de verdade: paixão tão grande pelo time que passa por cima de qualquer dificuldade e não mede esforços para vê-lo jogar", assegurou.

* O repórter viajou a convite da Kaiser