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Campeão com Neymar no Santos aposentou cedo e busca título na várzea

Rodrigo Mancha é uma das atrações da fase final da Taça Kaiser, em Curitiba - Ricardo Saibun/Santos FC
Rodrigo Mancha é uma das atrações da fase final da Taça Kaiser, em Curitiba Imagem: Ricardo Saibun/Santos FC

José Edgar de Matos

Do UOL, em São Paulo (SP)

16/01/2019 04h00

Tornou-se moda nas redes sociais o desafio dos 10 anos, em que pessoas postam fotos atuais e do passado. Em quase uma década, justamente o período da brincadeira que ditou a internet nos últimos dias, a vida de Rodrigo Mancha mudou. De volante do Santos e companheiro de Neymar, Ganso e Robinho, o hoje ex-jogador de 32 anos se tornou um dos principais nomes do futebol de várzea nacional e disputa neste fim de semana a fase final da Taça Kaiser.

A competição reúne equipes campeões de quatro regiões, e Mancha vai defender o Trieste, um dos clubes mais tradicionais da várzea paranaense e de grande investimento para a fase final da competição, a ser realizada neste fim de semana no Couto Pereira, estádio do Coritiba. Pela carreira de Série A em times como o próprio Coxa e o Sport, além do passado vitorioso no Santos, o meio-campista se tornou atração.

Esta memória em relação ao passado no litoral de São Paulo, aliás, ainda empolga Rodrigo Mancha. "A gente entrava para jogar e ali, como pessoal da defesa, não tinha esforço nenhum quase, porque o pessoal da frente era fenomenal. Todo jogo era para cima de cinco na Copa do Brasil. Ganhamos de nove, dez...", recorda-se o ex-jogador, em conversa exclusiva com o UOL Esporte.

Campeão Paulista e da Copa do Brasil ao lado de Neymar e Robinho, Mancha encontra no futebol amador de Curitiba a alternativa depois da aposentadoria precoce. As dores afastaram-no do profissionalismo; desde o ano passado, o atleta se dedica aos filhos, ao Trieste e a uma nova vida na faculdade - os cursos de educação e fisioterapia estão na mira do ex-volante, em preparação para o vestibular.

"Sinto dor há cinco anos. A dor não diminuía, mesmo sem eu fazer nada. Corria um pouco e já incomodava. Era joelho, tornozelo, tendão de Aquiles...Não suportei. O treinamento profissional é desgastante e de alta intensidade", contou o antigo companheiro de Neymar e agora destaque no futebol amador.

Rodrigo Mancha - Divulgação/Taça Kaiser - Divulgação/Taça Kaiser
Rodrigo Mancha disputa a Taça Kaiser
Imagem: Divulgação/Taça Kaiser
Na nova rotina, Rodrigo Mancha treina duas vezes por semana e possui tempo de descanso para poupar o corpo combalido pela carreira profissional. O ex-meio-campista tem no Trieste uma estrutura de 60.000m² e com patrimônio avaliado em R$ 27 milhões, além de um estádio para 4 mil pessoas com grama sintética parecido com o do Athletico-PR. Cenário digno de equipes que disputam grandes campeonatos nacionais.

Para defender o clube neste fim de semana, Rodrigo Mancha vai receber uma ajuda de custo, chamada de "envelope" no jargão, que pode chegar até a R$ 1.400, segundo pessoas ligadas ao Trieste.

"Já disputei o Suburbana de Curitiba [campeonato amador] no ano passado. O pessoal do Trieste soube que eu tinha parado e me ligaram. Aceitei o convite porque o amador de Curitiba é bem organizado, com times bons. Trieste é quase um [time] profissional. A diferença principal se encontra nos campos que encontramos por aí; temos só uns três na cidades em boas condições", relata. 

"Foi o melhor time que joguei"

Neymar Ganso Robinho Santos - Bruno Miani/UOL - Bruno Miani/UOL
Santos de Robinho, Ganso e Neymar encantou o Brasil com goleadas
Imagem: Bruno Miani/UOL

A diferença estrutural se torna ainda maior quando Mancha se recorda do período curto, mas de títulos no Santos. Com a camisa do time de Vila Belmiro, o meio-campista conviveu com Neymar, hoje o grande craque brasileiro e que na época já despertava a atenção especial do hoje atleta amador no Paraná.

"Ele começou a surgir realmente naquele ano, mas todo mundo já via de antes que ele era fora de série. Era bem magrinho, magrinho [risos], mas fazia cada gol. Tinha ele, Ganso, Robinho, André, Alan Patrick...enfim, uma turma muito boa", relembra, sem hesitar em apontar este grupo como o melhor da carreira.

"Quando o ano virou para 2010, não sei o que houve no clube, nos atletas. Saiu metade do grupo e veio outra metade. Foi o melhor time que já joguei. Foram cinco meses excepcionais em 2010 de um time muito bom no campo e fora dele. Todo mundo se dava muito bem. Sinto-me honrado de ter participado daquela geração", acrescenta.

Xilique serviu como aprendizado

A passagem pelo Santos, entretanto, carrega uma recordação ruim. Na semifinal da Copa do Brasil contra o Grêmio, no antigo Olímpico, Mancha atuou menos de dez minutos e se irritou consigo mesmo ao ser substituído pelo então técnico Dorival Júnior. Os socos no banco de reservas serviram como aprendizado, quase uma década depois.

"Foi um divisor de água na minha carreira. Se eu fosse ficar abatido pelos erros que tive no jogo, minha carreira tinha acabado ali. Só tinha jogado no Coritiba, o Santos era o primeiro clube sem ser o iniciante", diz.

O erro em questão ocorreu no início do segundo tempo da primeira semifinal contra o Grêmio, em Porto Alegre. O Santos vencia por 2 a 0, e Mancha entrou logo no início da etapa final para reforçar o setor.

Em um curto espaço de tempo, o time gaúcho empatou, justamente em lance no qual o ex-volante perdeu uma bola no setor de meio-campo e originou um contra-ataque letal gremista. No fim do jogo, o clube tricolor venceu por 4 a 3, mas o Santos avançou à final ao triunfar na volta e terminou como campeão.

"O torcedor só lembra dos erros, poucos dos acertos e dos títulos. (...) Erros acontecem, só que tive essa dimensão toda porque o Santos estava muito bem; em outro clube, talvez não tivesse esta dimensão. Sou muito grato ao Santos, na realidade. Lá conquistei os maiores títulos da carreira", assegura Rodrigo Mancha, que, dez anos depois, mira outra taça, agora em uma das maiores competições do ramo do futebol amador.