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Em clima de gincana e funk, Brasil recebe Mundial de "braço de ferro" e tenta tirar estigma

Brasileiras puxam "roda de funk" antes do início das competições do 34º Mundial de Luta de Braço - Leandro Moraes/UOL
Brasileiras puxam "roda de funk" antes do início das competições do 34º Mundial de Luta de Braço Imagem: Leandro Moraes/UOL

Maurício Dehò

Do UOL, em São Vicente (SP)

13/09/2012 18h05

Você pode nunca ter ouvido falar no termo luta de braço. Mas com certeza está familiarizado com o que é o “braço de ferro”. Este esporte que ainda traz consigo a imagem de uma competição de bar chega ao seu 34º Campeonato Mundial, e tem o Brasil como sede.

A cidade paulista de São Vicente recebe o evento anual, que foi aberto nesta quinta-feira e vai até domingo. E, apesar do clima de gincana e até de uma roda de funk dos atletas para suportarem o atraso, tudo o que os competidores querem é mostrar que fazem um esporte de verdade.

O Mundial de Luta de Braço reúne no litoral paulista 830 atletas de quase cinquenta países. Entre duelos de juniores, deficientes, másters e a competição principal, o adulto, homens e mulheres, a meta é o ouro, mas também tentar trazer ao grande público um pouco da estigmatizada modalidade.

“Lutamos muito para qualificar a luta de braço como um esporte. Ainda é difícil conseguir espaço, mas com a quarta edição do Mundial sendo realizada no Brasil, poderemos criar mais lutadores. E da quantidade esperamos atingir a qualidade”, explica o presidente da Confederação Brasileira de Luta de Braço e Halterofilismo, Paulo Sabioni, o Periquito.

O Centro de Convenções de São Vicente é a sede do evento, e não tem toques rebuscados. Um grande salão recebe as competições, com um palco para os atletas “jogarem”. Seis mesas garantem disputas simultâneas, mas cada luta dura poucos segundos.

Do ambiente aos atletas, o clima é de uma grande gincana ou de uma edição de Jogos Abertos, com brincadeiras, lutadores fantasiados com as cores de seus países e até jogadores fumando nas áreas externas. Descontração que vai só até a hora de se sentarem à mesa.

A competição começou com atraso de mais de cerca de três horas, e foi precedida por uma cerimônia de abertura cheia de discursos políticos e por um desfile das delegações – sendo as mais barulhentas a da favorita Rússia, da Turquia e do Brasil.

Devido a este atraso por conta de problemas de infraestrutura e do placar, os atletas brasileiros passaram o tempo dançando. Abriram uma roda para dançar samba e até funk, e atraíram a atenção dos gringos.

O Brasil tem tradição na modalidade, e esteve no primeiro Mundial, há 33 anos. Na ocasião, ajudou junto a Índia, Canadá e Estados Unidos a fundar a Federação Internacional. Hoje, o país defende a quinta colocação no ranking mundial, e espera ir além. São 107 competidores brasileiros em São Vicente.

“Tivemos 22 medalhas em 2011, no Cazaquistão, e agora a meta são 35”, detalhou o dirigente. Segundo ele, a Confederação, a prefeitura local e uma marca de suplementos gastaram R$ 350 mil para para a realização do evento.

O Mundial teve início com a disputa de másters, juniores e deficientes. Todas as categorias têm divisão de peso e de mão – destra ou canhota – e as disputadas acontecem em um só dia, da primeira rodada à decisão.

“Não só um esporte, uma filosofia”

Para os atletas brasileiros, a oportunidade de competir em casa é única. Campeão mundial em 2005, Guiliano Pareja, de 33 anos, admite que a luta de braço sofre muito com preconceito, mas crê que o quadro tenda a mudar.

“Já sofremos muito, mas hoje já há patrocinadores querendo apoiar atletas. O Brasil tem tradição, principalmente com as mulheres e os deficientes, e as vitórias vão ajudar a tirar a imagem errada, de uma disputa de bar, de bárbaros”, comentou ele, que está em seu sétimo Mundial, e compete no domingo, na competição adulta, até 90 kg, na mão direita.

“Muitas vezes temos de pagar viagens, hotel, inscrições. Mas encaramos. Para mim não tem preço. Mais do que um esporte sério, é uma filosofia”, completou Pareja.

VEJA A APRESENTAÇÃO DO MUNDIAL DE LUTA DE BRAÇO