Topo

"Musa contra vontade" tem restrição militar à sensualidade e rala por 2016

Karla Torralba

Do UOL, em São Paulo

13/12/2014 06h01

Ela é bonita, delicada, tem pose de modelo e é conhecida como "musa do taekwondo brasileiro".  Com todas essas qualidades é possível pensar que se trata de uma atleta famosa e financeiramente bem. Mas não se engane. A realidade de Talisca Reis é bem diferente. Sargenta da Marinha do Brasil, ela não quer saber de ser ‘a bela’, e só pensa na Olimpíada de 2016. 

“Esse título de musa me incomoda um pouco. Sou bem diferente de algumas atletas aí que são consideradas musas, não sou conhecida no taekwondo por ser musa, eu tenho desempenho, das 10 competições internacionais que fui neste ano, medalhei em sete”, relembra Talisca, logo que é perguntada sobre o rótulo de musa.

Ela é sargenta da Marinha, onde entrou via programa de recrutamento de atletas de alto rendimento. Hoje, a lutadora, número 1 do ranking brasileiro em sua categoria (até 49kg), convive com as regras militares, treinamentos no taekwondo e viagens de competições.

Talisca Reis

  • Aqui [na Marinha] sou conhecida como a terceira sargenta Talisca. Sete da manhã já estava de pé e marchando. Aqui temos ordem militar. Não somos atletas

    Talisca Reis

Tudo em busca de um objetivo: participar dos Jogos Olímpicos de 2016. “Eu só tenho o apoio da Marinha. Recebo salário como 3º sargento de R$ 3 mil por mês. Fui contemplada pelo bolsa atleta nacional porque sou campeã brasileira, e é uma quantia de R$ 950”, explica lembrando que passa pelo momento mais difícil da carreira. “Faz falta ter uma grande empresa me patrocinando para poder dar tranquilidade em treinar e viajar para competir ”, comenta.

O título de "musa" veio porque Talisca se aproveitou de seus dotes físicos para realizar ensaios sensuais e conseguir financiar algumas das várias viagens para competições internacionais (Aberto de Taekwondo), realizados ao longo do ano e do ano passado.

“A ideia de fazer as fotos veio do meu assessor. Depois disso, algumas empresas entraram em contato e deu um certo retorno financeiro. Com os ensaios deu, por exemplo, para financiar as passagens, hospedagem, a inscrição de um dos torneio e alimentação em uma competição”, contou.

Talisca Reis

  • Esse título de musa me incomoda um pouco. Sou bem diferente de algumas atletas aí que são consideradas musas, não sou conhecida no taekwondo por ser musa, eu tenho desempenho

    Talisca Reis

No entanto, Talisca vive com restrições justamente à sensualidade, por causa das normas rígidas da Marinha do Brasil. A Marinha já vetou algo ainda mais sensual para ela. “Por ser militar e das regras militares, eles me avisaram que não posso posar nua. Não pode fazer fotos muitos sensuais. Eu já tive convite para posar mais sensual, mas sou uma militar”, ressalta Talisca.

E ela é militar de verdade. Tanto é que a jovem atleta se transforma quando precisa ficar concentrada e acaba deixando a atividade de atleta um pouco de lado. “Aqui [na Marinha] sou conhecida como a terceira sargenta Talisca. Eu aprendo a atirar. A gente tem conhecimento como é ser sargento. Passei por um curso de reciclagem. Sete da manhã já estava de pé e marchando. Aqui temos ordem militar. Não somos atletas”, contou ela, que admitiu perder um pouco do rendimento quando precisa ficar em concentração para a Marinha.

Medalha de prata nos Jogos Mundiais Militares 2011, 4ª colocada no Mundial Militar de Taekwondo de 2014, tricampeã brasileira e medalha de prata no Panamericano de Taekwondo, para ir ao Rio-2016, Talisca tenta ficar em 6º no ranking mundial, hoje ela é 25ª e acredita que é possível subir ainda mais. No Brasil, ela é a primeira do ranking em sua categoria, 49kg.  “Ainda dá para ir para a Olimpíada. Não quero depender da confederação brasileira para conseguir minha vaga. Todos os atletas estão buscando uma vaga e tenho subido na classificação. Ano que vem tem mais competições e dá para sonhar sim”, finalizou.