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Aos 22, jovem encara Barão por título e recorde e ignora comparação com virgem da NFL

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

13/02/2013 06h00

Aos 22 anos, um mês e um dia, o norte-americano Michael McDonald entrará no octógono do UFC neste sábado em seu combate mais importante da carreira. Vale o cinturão interino dos galos, hoje do brasileiro Renan Barão, e o recorde de mais jovem campeão da história do UFC, que atualmente é Jon Jones. Mesmo com tanto em jogo, o jovem transparece maturidade. Parte disso é pelo estilo religioso, sempre passando mensagens de fé, que o fez ser comparado ao astro virgem da NFL, Tim Tebow.

Ainda que sejam estes detalhes que tornem tão interessante seu desafio ao cinturão, McDonald diz que não está interessado em comparações, ou mesmo em títulos ou recordes. Num esporte em que o cinturão é a glória máxima, parece uma postura fria e desinteressada, mas o lutador explica. “Deus me fez um lutador e isso virou uma plataforma para ele. Essa é a razão de eu ser um lutador, eu sinto que ele se comunica pelas minhas lutas. E só o que quero é vencê-las”, afirmou Michael McDonald, em entrevista ao UOL Esporte.

O lado “pregador” e o estilo de vida regrado, longe de álcool, drogas e até em abstinência sexual, é que o aproximou da imagem de Tim Tebow. O talentoso jogador de futebol americano subiu rapidamente na NFL e conquistou boa parte da torcida com suas mensagens religiosas e a convicção de se manter virgem até o casamento. Para alguns, a comparação poderia ser lisonjeira, mas não para o peso galo.

“Eu não vejo relações entre nós dois, não me comparo com outras pessoas. O que faço é único. Sei que há outras pessoas com suas missões, mas não me comparo a ninguém”, explicou ele, antes de detalhar suas crenças. “Muitas pessoas se inclinam para o álcool, sexo e drogas por estarem infelizes. Isso os satisfaz por um segundo, mas depois passa. Sem ligar para isso, eu pude me focar. Tenho uma mente forte e só penso nas minhas lutas, construí uma carreira em vez de ter apenas alegrias fúteis.”

Assim como acontece como muitos lutadores - a exemplo de Vitor Belfort , por exemplo -, McDonald tem de encarar a contradição de seguir suas crenças e praticar um esporte de contato, agressivo.

“Eu escolhi ainda muito novo este caminho difícil. Queria fazer algo especial. Muitas pessoas não fazem as coisas com o coração. A bíblia diz que o homem escolhe os caminhos e Deus o guia. Não acho errado o que faço. Pessoas podem pensar que sim, pois parece violento. As pessoas temem o sangue, associam com morte. Mas não é assim, a competição é dura, mas o que machuca um lutador é perder. Eu não luto para machucar gente, luto para ganhar uma competição”, defende ele.

Embalado por oito vitórias, sendo as quatro últimas no UFC, McDonald chegou ao title shot depois de bater Alex Soto e Miguel Torres por nocaute. O fato de ser tão novo chamou a atenção, e os resultados só aceleraram o processo. Pela frente ele terá um brasileiro com a maior série invicta do UFC, já que Barão não perde há 30 lutas.

NÚMEROS DE MICHAEL MCDONALD

22 ANOS
Tem o norte-americano, que começou a lutar aos 10, no grappling, e se tornou profissional de MMA aos 16.
15 VITÓRIAS
Totaliza ele, com apenas uma derrota. São nove nocautes e quatro finalizações e uma série de oito vitórias seguidas.
2 BÔNUS
... de melhor luta da noite já foram dados ao jovem. Em 2011, ele e Edwin Figueroa fizeram a luta da noite. No mesmo ano, McDonald teve o nocaute da noite contra Alex Soto.
4 MINUTOS...
... e 14 segundos é o tempo que McDonald ficou no octógono somadas suas duas últimas lutas. Foram dois nocautes, sendo um deles em apenas 56s de combate.

Barão aponta o muay thai de McDonald como ponto forte e, se depender, do norte-americano, é isso que se verá no octógono. “Eu não tenho nada ruim para falar do Renan. Ele é um ótimo atleta, acho que será uma grande luta. Eu tenho de ser fiel a mim mesmo, não ser atingido e atacar, como sempre faço. Preciso manter a calma e fazer o meu jogo, e não o dele”, analisou. “Ele tem seus movimentos giratórios, muitos socos, muita velocidade, joelhadas voadoras... Isso é algo para se tomar cuidado.”

A cautela existe, mas não pressão, mesmo diante da chance de ser o campeão mais jovem da história do UFC. “Eu não ligo para a minha idade. No fundo, eu já trabalhei muito, estou há mais de dez anos no mundo das lutas e meu corpo está maduro. Não ligo para ser o campeão mais jovem do UFC; é legal pela parte dos negócio e se traduz em plataformas para eu contar a minha história. Mas não ligo para isso, meu trabalho não é ter um cinturão, é vencer lutas”.

O recordista atual, Jon Jones, conquistou o cinturão dos meio-pesados em abril de 2011, quando venceu Maurício Shogun com 23 anos, oito meses e um dia.

Sem rivais, McDonald precisou de liberação da mãe para ser profissional aos 16

  • Michael McDonald se tornou um lutador meio que por acaso. Um dos irmãos começou a praticar grappling (luta agarrada) e o arrastou. 'Meu irmão mais velho chegou um dia e me falou que estava treinando. Eu disse que não queria, mas ele me levou do mesmo jeito. Comecei a lutar, fui para o MMA e, como estava invicto, fiquei sem rivais', conta ele. Para se tornar profissional, a mãe precisou assinar uma liberação, devido à idade, e o jovem engatou sete vitórias seguidas. Só parou diante de Cole Escovedo que havia sido campeão do WEC. O revés trouxe aprendizados, tanto que eles se reencontraram um ano depois, e desta vez Michael nocauteou, resultado que o levou ao WEC e, logo em seguida, ao Ultimate.