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Caso Cielo eleva Brasil ao topo da lista de doping nos esportes aquáticos

Cesar Cielo e outros três nadadores testaram positivo para a furosemida - Marlene Bergamo/Folhapress
Cesar Cielo e outros três nadadores testaram positivo para a furosemida Imagem: Marlene Bergamo/Folhapress

Do UOL Esporte

Em São Paulo

05/07/2011 07h03

O caso Cielo elevará o Brasil à liderança do ranking de doping de esportes aquáticos no atual ciclo olímpico. Com os quatro nadadores que testaram positivo para a furosemida, o país atingirá o número de 13 registros na Fina (Federação Nacional de Natação) desde agosto de 2008. A entidade mundial já computou 67 casos neste período.

 

OS LÍDERES DE DOPING DA FINA NO ATUAL CICLO OLÍMPICO (DESDE AGOSTO DE 2008)

PAÍSCASOS DE DOPING
Brasil13 (com Fabíola Molina e quatro nadadores do caso Cielo)
França9
Rússia6
EUA4
Hungria e Rep. Tcheca3

Cesar Cielo, Henrique Barbosa, Nicholas Santos e Vinicius Waked testaram positivo para a furosemida, diurético famoso por mascarar outras substâncias. O exame foi realizado em maio e o resultado foi divulgado na última sexta-feira, junto com o anúncio da advertência aos quatro atletas. O caso ainda será analisado pela Fina, que deve dar um parecer até o final desta semana.

A defesa do campeão olímpico e dos outros nadadores se baseia em contaminação cruzada da cápsula de cafeína, responsável pelo doping. Um laudo do laboratório Ladetec confirmando a contaminação e um relatório da farmácia de manipulação Anna Terra foram anexados ao processo. O painel de Controle de Doping instaurado pela CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) recomendou apenas uma advertência por não constatar culpa nem negligência no caso. No entanto, a Fina pode ampliar a punição.

ADVERTÊNCIAS NO ATUAL CICLO OLÍMPICO

ATLETA (PAÍS)SUBSTÂNCIADATA DO TESTE
Lauren Goulart (BRA)metilhexanaminanov/2010
Clémence Cler (FRA)Prednisona e Prednisolonafev/2009
Florent Augier (FRA)Prednisona e Prednisolonadez/2008

Agora, os recentes casos no Brasil irão ampliar os números na Fina. No período entre Olimpíadas – de agosto de 2008 até agora – a entidade registrou 67 casos de doping. A punição de dois meses de Fabíola Molina e o caso Cielo ainda não estão incluídos nesta lista da entidade mundial. Sem contar esses processos nacionais, a então líder é a França, com nove registros. O Brasil vinha logo abaixo com oito, seguido pela Rússia (veja tabela ao lado).

Mas com Fabíola Molina, Cesar Cielo, Henrique Barbosa, Nicholas Santos e Vinícius Waked, o Brasil dispara na lista de dopings da Fina. Neste mesmo período, somente três dos 67 casos foram de advertências e apenas dois de uso de furosemida – a brasileira Daynara de Paula (suspensa por seis meses) e o russo Ksenia Ivliev (afastado por dois anos). 

O DOPING DE CIELO

O painel da CBDA

Nesta sexta-feira, a CBDA chocou o mundo esportivo brasileiro ao anunciar que o campeão olímpico Cesar Cielo tinha sido flagrado em exame antidoping durante o Troféu Maria Lenk, no início de maio. Além dele, Nicholas Santos, Henrique Barbosa e Vinícius Waked foram flagrados.

Vilão em cápsulas de cafeína

A substância encontrada foi o diurético furosemida, que faz parta da lista proibida porque pode mascarar a presença de outras substâncias. A defesa usada pelos nadadores foi que as cápsulas de cafeína usadas por Cielo tinham sido contaminadas. Os outros três atletas usaram a mesma substância, por confiança no material do campeão olímpico.

Farmácia admite contaminação

Para corroborar com sua versão, Cielo apresentou um laudo da farmácia de manipulação que elaborou as cápsulas, admitindo a contaminação com diuréticos. Sandra Soldan, chefe de antidoping da CBDA, confirmou que exames mostraram, além da furosemida, outro diurético – e que as amostras dos atletas não apontavam o perfil de quem usou a substância para perder líquidos.

Fina tem 20 dias para contestar

Após a análise do caso, a CBDA puniu os atletas apenas com uma advertência. Os documentos da audiência foram, então, enviados para a Fina (Federação Internacional de Natação). Agora, o órgão máximo da modalidade tem 20 dias para analisar o caso. A entidade ainda pode pedir novas informações para a CBDA e mudar a punição. Caso concorde com a punição aplicada pelos brasileiros, o caso será arquivado.

Terno, gravata, seguranças e provérbios

Cesar Cielo falou sobre o exame positivo de doping anunciado nesta sexta-feira. Sem responder perguntas, leu uma declaração repetindo argumentos da nota oficial. Ele chegou com Nicholas Santos e Henrique Barbosa, de terno e cercados por seguranças do hotel. Assim que Cielo terminou de ler o documento com sua declaração, cheia de provérbios ("quem não deve não teme", "a verdade sempre aparece" e " o que não te derruba te fortalece"), os três se dirigiram para o elevador em silêncio.

Mundial pesou para advertência?

Ao comentar o caso, dois dos médicos que participaram do painel da CBDA que advertiu os nadadores mostraram opiniões divergentes sobre a punição. Sandra Soldan, responsável pelo controle antidoping da Confederação, disse que “seria descabido fazer os meninos perderem o Mundial por causa disso. Esse fator [a proximidade do Mundial] e as provas contaram”. Já o especialista Eduardo de Rose falou que “[a proximidade do Mundial] Não interferiu em coisa nenhuma. A Sandra [Soldan] fala o que quer”.

Omissão da Fina?

Cesar Cielo nadou o Aberto de Paris sem saber do resultado positivo para o uso de furosemida. No entanto, a CBDA já havia informado a Fina antes da competição em que o campeão olímpico faturou três ouros em três provas disputadas e cravou as melhores marcas do ano nos 50m borboleta e nos 100m livre.

Relatório da farmácia

Um documento enviado pela farmácia de manipulação Anna Terra à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) gerou desencontro de informações sobre o doping de Cesar Cielo. A médica Sandra Soldan disse na sexta que o estabelecimento assumiu o erro. Segundo Eduardo de Rose, integrante da Wada (Agência Mundial Antidoping), só a divulgação desse relatório ao público poderia encerrar possíveis dúvidas sobre a pena branda ao atleta, que recebeu apenas uma advertência.

Perdas de índices

O resultado positivo no doping custou a Henrique Barbosa e a Nicholas Santos suas vagas no Mundial de Esportes Aquáticos de Xangai, entre 16 e 31 de julho. Os nadadores foram excluídos da equipe brasileira nesta segunda-feira