Topo

Farmácia do caso Cielo é investigada; especialista diz crer em falha humana

Cielo testou positivo para a furosemida e alega contaminação em cápsula de cafeína - Folhapress
Cielo testou positivo para a furosemida e alega contaminação em cápsula de cafeína Imagem: Folhapress

Roberta Nomura

Em São Paulo

05/07/2011 15h31

A farmácia Anna Terra virou alvo de investigação da vigilância sanitária de Santa Bárbara D’Oeste. O órgão realizou uma vistoria no estabelecimento responsável pela manipulação da cápsula de cafeína do nadador Cesar Cielo e deve divulgar um parecer inicial até o final desta semana. Um especialista consultado pelo UOL Esporte analisou o caso e praticamente descartou a contaminação pelo ar. Para ele, falta de higienização e falha humana são mais factíveis.

ENVOLVIDA EM POLÊMICA, FARMÁCIA
ANNA TERRA É REGULARIZADA NA ANVISA

A farmácia de manipulação responsável por produzir as cápsulas de cafeína do campeão olímpico de Cesar Cielo virou alvo de polêmicas desde o anúncio do doping do nadador.

Criada em 1991, a farmácia Anna Terra tem autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para funcionar desde 2003. A renovação da atividade foi confirmada e a empresa tem situação regularizada no órgão.

A assessoria de imprensa da prefeitura de Santa Bárbara D’Oeste informou que a prática é comum e a vistoria foi realizada nesta segunda-feira pela vigilância sanitária, responsável por fiscalizar e regulamentar o funcionamento de estabelecimentos relacionados à saúde. Um parecer deve ser divulgado ainda esta semana. A farmácia Anna Terra indicou Reinaldo Lante como porta-voz no caso Cielo. No entanto, ele não atendeu às ligações da reportagem.

Em entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo, Lante cogitou a possibilidade de contaminação das cápsulas de cafeína pelo ar. A farmácia alega que as manipulações foram feitas em cabines separadas e isoladas e assegura que os tabuleiros foram higienizados. O estabelecimento vende as cápsulas de cafeína para Cesar Cielo há dois anos.

CASO CIELO ELEVA BRASIL AO TOPO DE DOPING NOS ESPORTES AQUÁTICOS

  • Marlene Bergamo/Folhapress

    O caso Cielo elevará o Brasil à liderança do ranking de doping de esportes aquáticos no atual ciclo olímpico. Com os quatro nadadores que testaram positivo para a furosemida, o país atingirá o número de 13 registros na Fina (Federação Nacional de Natação) desde agosto de 2008. A entidade mundial já computou 67 casos neste período.

No entanto, o professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (Universidade de São Paulo) Maurício Yonamine praticamente descartou a possibilidade de contaminação pelo ar. “Na verdade, é tudo especulativo, porque não se tem a conclusão dos fatos ainda. Mas dizer que foi pelo ar é meio exagerado. As partículas suspensas são muito pequenas e a quantidade é muito baixa para dar positivo em um exame antidoping. É quase impossível. Se não, poderia acontecer a toda hora em qualquer medicamento”, disse ao UOL Esporte.

O professor explicou ainda que misturador, bandeja e tabuleiro são usados em seguidos processos. Segundo ele, apenas uma lavagem com água e sabão e secagem são suficientes para eliminar resíduos das substâncias. “O processo é muito manual. Você faz a mistura do preparado, coloca em um tabuleiro e preenche a cápsula com o material. Eu acredito que se a boa prática de manipulação for obedecida, o risco de contaminação é zero. O que pode ter acontecido é uma falta de higienização correta e falha humana”, opinou Yonamine.

TALES ABRE MÃO DE VAGA HERDADA NO MUNDIAL

Convocado pela CBDA para o lugar de Henrique Barbosa nos 200m peito, Tales Cerdeira abriu mão de ir para o Mundial de Xangai. Ele alegou que, como não havia conseguido o índice, voltou sua preparação para os Jogos Mundiais Militares, no Rio, e para a Universíade, torneios que seguem como sua prioridade.

Cesar Cielo, Henrique Barbosa, Nicholas Santos e Vinícius Waked testaram positivo para a furosemida, um diurético famoso por mascarar outras substâncias. O resultado do exame realizado em maio foi divulgado na última sexta-feira, junto com a indicação de advertência para os nadadores. O caso já está sendo analisado pela Fina (Federação Internacional de Natação), que pode ampliar a punição aos atletas.

A defesa dos quatro nadadores brasileiros se baseia justamente na contaminação das cápsulas de cafeína. Um laudo do laboratório Ladetec, credenciado pela Wada (Agência Mundial Antidoping), confirmando a contaminação e um relatório de dados da farmácia com horários e substâncias manipulados no dia foram anexados ao processo enviado à Fina. 

O DOPING DE CIELO

O painel da CBDA

Nesta sexta-feira, a CBDA chocou o mundo esportivo brasileiro ao anunciar que o campeão olímpico Cesar Cielo tinha sido flagrado em exame antidoping durante o Troféu Maria Lenk, no início de maio. Além dele, Nicholas Santos, Henrique Barbosa e Vinícius Waked foram flagrados.

Vilão em cápsulas de cafeína

A substância encontrada foi o diurético furosemida, que faz parta da lista proibida porque pode mascarar a presença de outras substâncias. A defesa usada pelos nadadores foi que as cápsulas de cafeína usadas por Cielo tinham sido contaminadas. Os outros três atletas usaram a mesma substância, por confiança no material do campeão olímpico.

Farmácia admite contaminação

Para corroborar com sua versão, Cielo apresentou um laudo da farmácia de manipulação que elaborou as cápsulas, admitindo a contaminação com diuréticos. Sandra Soldan, chefe de antidoping da CBDA, confirmou que exames mostraram, além da furosemida, outro diurético – e que as amostras dos atletas não apontavam o perfil de quem usou a substância para perder líquidos.

Fina tem 20 dias para contestar

Após a análise do caso, a CBDA puniu os atletas apenas com uma advertência. Os documentos da audiência foram, então, enviados para a Fina (Federação Internacional de Natação). Agora, o órgão máximo da modalidade tem 20 dias para analisar o caso. A entidade ainda pode pedir novas informações para a CBDA e mudar a punição. Caso concorde com a punição aplicada pelos brasileiros, o caso será arquivado.

Terno, gravata, seguranças e provérbios

Cesar Cielo falou sobre o exame positivo de doping anunciado nesta sexta-feira. Sem responder perguntas, leu uma declaração repetindo argumentos da nota oficial. Ele chegou com Nicholas Santos e Henrique Barbosa, de terno e cercados por seguranças do hotel. Assim que Cielo terminou de ler o documento com sua declaração, cheia de provérbios ("quem não deve não teme", "a verdade sempre aparece" e " o que não te derruba te fortalece"), os três se dirigiram para o elevador em silêncio.

Mundial pesou para advertência?

Ao comentar o caso, dois dos médicos que participaram do painel da CBDA que advertiu os nadadores mostraram opiniões divergentes sobre a punição. Sandra Soldan, responsável pelo controle antidoping da Confederação, disse que “seria descabido fazer os meninos perderem o Mundial por causa disso. Esse fator [a proximidade do Mundial] e as provas contaram”. Já o especialista Eduardo de Rose falou que “[a proximidade do Mundial] Não interferiu em coisa nenhuma. A Sandra [Soldan] fala o que quer”.

Omissão da Fina?

Cesar Cielo nadou o Aberto de Paris sem saber do resultado positivo para o uso de furosemida. No entanto, a CBDA já havia informado a Fina antes da competição em que o campeão olímpico faturou três ouros em três provas disputadas e cravou as melhores marcas do ano nos 50m borboleta e nos 100m livre.

Relatório da farmácia

Um documento enviado pela farmácia de manipulação Anna Terra à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) gerou desencontro de informações sobre o doping de Cesar Cielo. A médica Sandra Soldan disse na sexta que o estabelecimento assumiu o erro. Segundo Eduardo de Rose, integrante da Wada (Agência Mundial Antidoping), só a divulgação desse relatório ao público poderia encerrar possíveis dúvidas sobre a pena branda ao atleta, que recebeu apenas uma advertência.

Perdas de índices

O resultado positivo no doping custou a Henrique Barbosa e a Nicholas Santos suas vagas no Mundial de Esportes Aquáticos de Xangai, entre 16 e 31 de julho. Os nadadores foram excluídos da equipe brasileira nesta segunda-feira