| 24/07/2005 - 12h03 Lenda, Armstrong se aposenta com 7º título seguido na Volta da França Das agências internacionais Em Paris (França) OS TÍTULOS DE ARMSTRONG |  | 1999 - O texano vestiu a camisa amarela do líder já no prólogo. Na 1ª etapa nas montanhas, abriu a vantagem que garantiria seu 1º título. | |  | 2000 - Armstrong mostrou que as montanhas faziam a diferença. E conseguiu o bi contra o relógio, quando controlou Ullrich, que viria a ser seu principal rival na França. | |  | 2001 - A prova foi vencida graças à estratégia, e ele mostrou total domínio da prova. Tanto que venceu com mais de 6min de vantagem sobre Ullrich. | |  | 2002 - Parecia ser um ano tranqüilo para Armstrong, mas a disputa foi emocionante. Mais uma vez, o título veio no trecho de montanha, onde o ciclista assumiu e segurou a liderança. | |  | 2003 - Armstrong chegou a mostrar desgaste em algumas etapas. Nas montanhas, voltou a liderar. A vitória foi a mais apertada de todas, a apenas 1min01 sobre Ullrich. | |  | 2004 - Mais uma vez, a vitória foi sendo construída nos trechos de escalada. Armstrong assumiu o primeiro lugar apenas na 15ª etapa. Mas, dali em diante, não perdeu mais a liderança. | |  | 2005 - Na quarta etapa, assumiu a liderança e, apesar de perdê-la momentaneamente, logo no início da subida dos Alpes retomou a camisa amarela e não a perdeu mais. | | No futebol, é a Copa do Mundo. No ciclismo, a Volta da França. Nunca ninguém havia vencido a principal competição de ciclismo de estrada por seis vezes. Neste domingo, o norte-americano Lance Armstrong ousou chegar ao sétimo título da "Le Tour".
Mais do que o feito heróico, a data marca a despedida do já lendário ciclista das pistas. Aos 33 anos, ele havia afirmado, desde meados de março, que competiria na Volta da França apenas uma vez. "Mas não posso viver sem a Volta. Tenho muita curiosidade por saber o que vai acontecer em 2006", admitiu o heptacampeão, menos de 24 horas de seu último título.
Por si só, a conquista já é louvável. Mas a história de vida de Armstrong faz com que ela seja ainda mais espetacular. Velocista feroz, ele se tornou um dos campeões mundiais mais jovens da história (em 1993, antes de completar 22 anos) e número 1 do ranking mundial (em 1996).
Mas reclamava de dores, fortes dores. Exames constataram um câncer nos testículos, já se alastrando por pulmões e cérebro. A previsão médica de cura era de 50%. Em caso de sobrevivência, o ciclismo seria apenas um passado.
A luta de Armstrong passou a ser para viver. Foi aí que conquistou a sua vitória mais suada, após dolorosas sessões de quimioterapia. Pacientemente, voltou a treinar. Para se reabilitar da doença, treinou incontáveis horas, dias, meses. A velocidade virou resistência. Voltou a disputar a Volta em 1999, como azarão. E foi neste ano que iniciou o maior domínio da prova da história.
No ano passado, já havia se imortalizado com o inédito sexto título, feito que nenhum competidor havia realizado. O sétimo, homologado neste domingo, na verdade, foi vencido no dia 2 de julho, no primeiro dia de competições, com uma etapa contra o relógio entre as cidades francesas de Fromentine e Noirmoutier. A cada minuto, um ciclista saía para o percurso.
Nunca Armstrong havia chegado à Volta sem ter conquistado nenhum título no ano como agora. E minimizou o fato. "Eu não tinha a pressão de vencer como em 2004, quando eu podia bater um recorde. Agora, era um desafio contra mim mesmo."
Mas foi ali, na primeira etapa, que ele mostrou toda a sua força. Último a entrar na pista, viu logo na segunda, terceira pedalada, seu pé direito escapar do pedal. Perdeu tempo para reajustar seu corpo na bicicleta. Mesmo assim, alcançou e superou com extrema facilidade o alemão Jan Ullrich, campeão em 1997 e três vezes vice desde então.
Foi o segundo na classificação geral do dia, dois segundos atrás do compatriota David Zabriskie, e especialistas apostam que o erro nos instantes iniciais lhe custaram a vitória já na etapa de estréia. A tradicional "camisa amarela", dada ao primeiro colocado, veio logo na quarta etapa. E dali em diante, ele simplesmente dominou a prova com maestria para vencer de novo.
MAIORES CAMPEÕES | Quatro títulos | Jacques Anquetil (FRA) | 1961/62/63/64 | Cinco títulos | Eddy Merckx (BEL) | 1969/70/71/72/74 | Bernard Hinault (FRA) | 1978/79/81/82/85 | Miguel Indurain (ESP) | 1991/92/93/94/95 | Sete títulos | Lance Armstrong (EUA) | 1999/00/01/02/03/04/05 | Neste domingo, repetiu uma cena já "comum" nos últimos anos. Da mesma forma triunfal, cruzou a linha de chegada na avenida Champs-Elysées, em Paris. O mau tempo fez com que os organizadores declarassem o americano o campeão da etapa antes do término do percurso na avenida mais charmosa da cidade. Mesmo assim, os ciclistas continuaram correndo. O vencedor da 21ª e derradeira prova foi o cazaque Alexander Vinokourov.
Após passar pelo Arco do Triunfo, Armstrong foi recepcionado por seus três filhos, Luke, e as gêmeas Grace e Isabelle, ambas de três anos, e vestindo camisas amarelas do líder como o pai, com o slogan "Vive le Tour, forever" ("Viva a Volta, para sempre").
Do céu ao inferno, Armstrong se despede da Volta no paraíso. "Mas isso não é uma comparação válida. Estamos falando de um esporte. Minha viagem ao paraíso será talvez mais fácil", disse, em tom de brincadeira, o rei do ciclismo mundial.
Mesmo admitindo que "não pode viver sem a Volta", a aposentadoria é definitiva. "Não sei o que vou fazer nesta época do ano em 2006, mas não tenho a intenção de continuar sendo uma figura pública, acho que necessito de privacidade", disse. "Não lamento o fim. Tive uma carreira incrível, com muita sorte, incluindo a bênção de competir por 13 anos como profissional. Mas tenho os pés no chão."
ARMSTRONG E SEUS ÍDOLOS | Armstrong mencionou Tiger Woods, Wayne Gretzky, Michael Jordan e Andre Agassi como personagens que o inspiraram em sua carreira. "Essas caras são aqueles que te animam, que estiveram no topo por um longo período." | Se os planos para o futuro ainda são uma incógnita, Armstrong já sabe o que vai fazer na segunda-feira. "Quando acordar, ao lado dos meus filhos e da minha mulher [a cantora Sheryl Crow], vou com um grupo de amigos ao sul da França, passear na praia. Comeremos bem, beberemos um pouco de vinho e vamos apenas relaxar", afirmou.
"Meu período se encerrou", concluiu o ciclista, que deixa as pistas para se imortalizar na galeria dos principais atletas do esporte mundial. Mas antes, desabafou e rebateu os críticos, principalmente aqueles que o acusaram de doping. "Tenho pena de vocês, que não acreditam em milagres", disparou, para depois exaltar a Volta. "Foi uma corrida e tanto. Eu serei fã da Volta da França enquanto eu viver. E não há segredos, é um evento esportivo difícil e no qual se precisa trabalhar muito, mas muito mesmo, para vencer." |