! UOL Esporte - Retrospectiva 2006

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Montagem sobre foto de Oskar Khilborg/VOR

Maior projeto da história do esporte brasileiro, Brasil 1 dá a volta ao mundo e termina regata na 3ª colocação

No dia 17 de junho, quando o veleiro Brasil 1 terminou em terceiro lugar na classificação geral da regata de volta ao mundo Volvo Ocean Race, foi fechado um dos mais audaciosos capítulos da história esportiva brasileira. O Brasil 1, com custo estimado total de R$ 38 milhões, foi o maior projeto de apenas uma modalidade esportiva já realizado por aqui.

O valor é acanhado se comparado aos R$ 2,8 bilhões que o Brasil está desembolsando para organizar os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Ainda assim, é alto. A comparação inevitável é com a equipe Copersucar, o primeiro time brasileiro no milionário mundo da Fórmula 1.

No final dos anos 70, o bicampeão mundial de F-1 Emerson Fittipaldi e seu irmão Wilsinho formaram a equipe e construíram o primeiro carro da categoria feito no hemisfério sul. O sonho durou quatro anos e terminou com dívidas de milhões de dólares. Nos primeiros dois anos, o mesmo período de duração do Brasil 1, porém, a equipe Copersucar custou R$ 30 milhões, oito a menos do que o time de vela.

Crédito Robert Scheidt e Bruno Prada
Líderes do ranking mundial de Star no primeiro ano exclusivo na classe
Divulgação Fernanda Oliveira e Isabel Swan
4º lugar no Mundial de 470 é o melhor da vela feminina classes olímpicas
EFE Poliana Okimoto
As 2 pratas no Mundial de maratonas foram os 1º pódios da natação feminina
"O Brasil 1 é um marco no esporte brasileiro. Tornar realidade um projeto tão ousado e ainda chegar ao final com um resultado expressivo é prova de que atingimos os nossos objetivos", analisou o bicampeão olímpico Torben Grael, que comandou a equipe.

Ao contrário do que normalmente acontece, todo dinheiro não saiu dos cofres públicos. Pelo menos não a maior parte. Dos R$ 38 milhões gastos, R$ 30 milhões vieram da iniciativa privada. Os oito milhões restantes foram divididos entre empresas estatais e apoio de três ministérios diferentes.

O investimento fez do Brasil 1 o primeiro barco de sua classe construído na América do Sul e o mais moderno e rápido veleiro da história da vela brasileira. Sob o comando de Torben, o time brasileiro foi o terceiro na classificação geral e ainda conquistou uma vitória, na oitava etapa, entre Inglaterra e Holanda.

"É uma tradição na regata de volta ao mundo dizer que as equipes que venceram uma etapa provaram que têm condições de ser campeãs. Vencemos uma perna e mostramos que temos esse potencial, que não estávamos apenas participando", afirmou Alan Adler, diretor do projeto, que ao lado de Enio Ribeiro foi o responsável pela captação de recursos do time.

Torben Grael e Marcelo Ferreira
Campeões olímpicos fecharam o ano como 107º do mundo
Reuters
Joanna Maranhão
Esperança de medalhas vai ao divã para tentar entender má fase
Divulgação
Ian Thorpe
Fenômeno anuncia aposentadoria precoce aos 24 anos
Reuters
O sucesso foi tão grande que Grael, o maior atleta olímpico da história do país e o maior vencedor da vela em Olimpíadas no mundo, disse, ao final da competição: "ainda tenho muita coisa para fazer. Mas, se tivesse que parar aqui, estaria plenamente realizado."

Mas nem tudo foram sorrisos. O Brasil 1 foi uma das equipes que mais problemas enfrentou na competição. Em janeiro, o time largou da Cidade do Cabo, na África do Sul, para a segunda etapa. Dois dias depois, sofreu um dano estrutural que podia afundar o veleiro. Após o conserto, foi a vez do mastro quebrar, a mais de 2 mil quilômetros de terra. A Ocean Race 2005/2006, aliás, foi uma das mais acidentadas dos últimos tempos. A maior tragédia, porém, veio em maio. No dia 17, durante a sétima etapa, o holandês Hans Horrevoets, tripulante do ABN Amro 2, foi jogado ao mar e morreu no Atlântico Norte.

O brasileiro Lucas Brun, o único velejador do país que não fazia parte da tripulação do Brasil 1, estava ao lado de Horrevoets no momento do acidente. "Estávamos velejando em uma situação tranqüila e quando as coisas começaram a ficar um pouco mais agitadas, seguimos os procedimentos de segurança. Um por vez, vestimos os trajes de segurança e nos prendemos ao barco. O Hans seria o último, mas antes de sua vez, ele foi varrido por uma onda. Em um momento ele estava ao meu lado e, no momento seguinte, tinha desaparecido".

Não bastasse o acidente, horas depois de resgatar o corpo de Horrevoets o barco espanhol Movistar teve problemas sérios e naufragou. A tripulação foi salva justamente pelo ABN Amro 2. "Tínhamos um amigo morto na proa do barco, chegaríamos em terra em 10 horas. Aí recebemos a mensagem que teríamos que voltar e passar mais dois dias e meio no mar para ajudar um barco que está sob risco de afundar", lembrou Lucas.

CONFRONTO OLÍMPICO
Ao final da Volvo Ocean Race, os olhos da vela no Brasil se voltaram para um confronto histórico. Os dois maiores atletas olímpicos da história do país, Torben Grael, dois ouros e cinco medalhas olímpicas, e Robert Scheidt, dois ouros e uma prata nos Jogos, começaram, em 2006, a batalha pela vaga olímpica na classe Star.

O "primeiro round" da luta foi para Torben. Em Brasília, ele e Marcelo Ferreira bateram Scheidt e Bruno Prada para conquistar o Campeonato do Sétimo Distrito, que vale como o Brasileiro da classe. Dias depois, Scheidt admitiu o desânimo. Ele passou a questionar em qual classe faria a campanha olímpica para 2008: Star, barco a que se dedicou durante todo o ano, ou Laser, em que é octacampeão mundial.

"Não vou negar que o ideal seria competir em Pequim já na Star, mas tenho que admitir que o Torben é um grande velejador e será muito difícil vencê-lo. Não vou ficar dando murro em ponta de faca. Competir em mais uma Olimpíada é importante e se sentir que não estou em condições de brigar por uma vaga com o Torben e o Marcelo de igual para igual, volto para a Laser", disse Scheidt.

Semanas depois, veio o troco do velejador paulista. No Mundial de Star, disputado em São Francisco, Scheidt terminou com o vice-campeonato e assumiu a liderança do ranking mundial da Isaf. Torben? Apenas em 17º lugar. Em dezembro, Scheidt confirmou que vai lutar pela vaga com Torben na Star. Com isso, o maior duelo da vela continua em 2007.

Brasil estréia na Volvo Ocean Race com 3º lugar
Kaio Márcio é campeão mundial
O paraibano Kaio Márcio Almeida é, hoje, o único brasileiro campeão e recordista mundial da natação brasileira. Em abril, foi o único do time a brilhar no Mundial de piscina curta de Xangai, na China. Ele conquistou a medalha de ouro nos 100 m borboleta, com 51s07. "Estava nervoso. A tensão bate porque esse é um campeonato importante, especial".

O título confirmou a grande fase que atravessa o nadador brasileiro. Recordista mundial dos 50 m borboleta em piscina curta (22s60), Kaio Márcio foi bronze no Mundial na prova, mas foi o grande nome do país na última temporada da Copa do Mundo: nas nove provas que disputou, conquistou nove medalhas de ouro, feito é inédito para brasileiros.

Após Xangai, passou a se dedicar às piscinas de 50m, o tamanho olímpico. Os resultados não foram tão bons. No Brasil, perdeu a hegemonia na final do 100m borboleta do Troféu José Finkel para Rafael Mangabeira. No Pan-Pacífico, foi à final dos 50m borboleta, mas não conseguiu medalha.

Medalha inédita
Enquanto Kaio Márcio brilhou nas piscinas, uma brasileira conquistou a primeira medalha feminina do país em Mundias da Fina. Mas não nas piscinas. A paulista Poliana Okimoto conquistou duas medalhas no Mundial de Maratonas Aquáticas, nova modalidade incluída no programa pan-americano e olímpico. Ela foi prata nas provas de 5km e 10km do Mundial de Nápoles, na Itália.


COMO O UOL NOTICIOU
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Kaio Márcio conquista o título mundial dos 100m borboleta
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Poliana Okimoto faz dois pódios no Mundial de maratona aquática
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Aos 24 anos, campeão olímpico Ian Thorpe deixas as piscinas
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Fernanda Oliveira e Isabel Swan terminam em 4º lugar no Mundial
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No Mundial de Star, Scheidt e Prada são vice-campeões
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Brasil 1 termina a volta ao mundo da Volvo na terceira posição geral