Topo

Mulher de alpinista preso no Everest revela apreensão com falta de notícias

Rosier Alexandre em uma expedição; alpinista está preso no Everest à espera de resgate - Divulgação
Rosier Alexandre em uma expedição; alpinista está preso no Everest à espera de resgate Imagem: Divulgação

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

27/04/2015 06h00

Pelo segundo ano seguido, Danubia está à espera de notícias do Nepal. Neste ano, porém, a demora e a tragédia são maiores que em 2014, quando o marido Rosier Alexandre escapou da pior avalanche da história do Everest. No último sábado, o alpinista saiu com vida de um novo deslizamento, este uma consequência do terremoto de 7,9 graus de magnitude que assolou o país asiático. O problema é que agora ele está preso no monte com o pico mais alto do mundo, à espera de resgate e sem nenhuma linha de comunicação com a família.

“A gente acha que as coisas não podem piorar. Ano passado foi café pequeno, como a gente diz por aqui. Embora tenha tido avalanche, 16 pessoas morreram, mas ele estava seguro, conseguia se comunicar com mais frequência. Hoje ele está preso na montanha e o resgate vai depender do clima. Ele não consegue fazer contato por telefone, a comunicação é difícil. A gente não tem informações precisas”, disse Danubia, em entrevista ao UOL Esporte.

Apesar do clima de insegurança, ela mantém calma na voz e se esforça para explicar os meandros do montanhismo para quem é leigo. O marido é um alpinista experiente, que tenta subir ao pico do Everest para poder dizer que atingiu o cume de sete continentes. Ele já esteve no topo de América do Sul (Aconcágua), África (Kilimanjaro), Europa (Elbrus), Oceania (Carstensz), América do Norte (McKinley) e Antártica (Vinson). O Everest, na Ásia, era o último ponto da jornada, mas a viagem deu errado de novo. 

“No sábado, ele me ligou às 7h30 da manhã. Nem sabia do terremoto. Foi uma ligação muito rápida, menos de 1 minuto. Ele disse: ‘Aconteceu um terremoto. O Davi [filho de Rosier, outro membro da expedição] está na base, bem. Não sei como vai ser daqui para frente’. Foi assim que ele falou”, disse Danubia, acrescentando que a ligação caiu antes de ser concluída.

Alpinista grava o momento em que é atingido pela avalanche no Everest

O dia que se seguiu à ligação foi de correria. Pela TV e na internet, ela pôde ver o tamanho do estrago causado pela tragédia. As agências de notícias estimam o número de mortos no país em cerca de 3 mil. Pelo menos 18 alpinistas morreram com o desabamento de neve que atingiu o campo-base, a 5.350 metros do nível do mar.

É ali que estava Davi, que acompanhou o pai até o Nepal. O acampamento é exatamente o local atingido pela neve que matou os alpinistas. Entre os mortos no local está Eve Girawong, médica da equipe de Rosier. Davi escapou. Foi basicamente tudo que ele disse ao irmão em uma curta mensagem de texto, para depois sumir no silêncio que persiste até agora.

Rosier está acima do acampamento do filho, mais precisamente 6.400 metros acima do nível do mar, no campo 2. O brasileiro não foi afetado pela avalanche porque ela ocorreu abaixo de onde ele estava. O problema é que agora ele e os outros 14 montanhistas que o acompanham têm de descer o Everest e não conseguem porque a neve bloqueou o caminho.

Foi isso que disse Garrett Madison, chefe da expedição, em um email enviado às famílias dos alpinistas na tarde de domingo. No texto, deixa claro a gravidade da situação. “Estamos no Campo 2, mas as coisas não estão fáceis. Estamos com pouca comida, sem baterias e temos de descer. Não há rota ou passo pelo Khumbu. Enviamos um time para verificar e voltaram sem sucesso de passagem, não vamos tentar novamente”, disse Madison.

“Eu sei que eles têm um rádio e se comunicam com o pessoal que está no campo de baixo, que com certeza sabe que eles estão lá em cima. A agência que organizou a expedição informou que um helicóptero iria sobrevoar a área para avaliar as condições de resgate, só que eles não conseguiram por causa do mau tempo”, disse Danubia.

A empresa em questão é, hoje, a única fonte de informação de Danubia com o marido. Por meio da agência, ela ficou sabendo que a equipe de Rosier vai tentar descer do campo 2 (6.400 metros) até o campo 1 (5.900), onde poderiam ser resgatados. Só mesmo com a agenda, é impossível para ela prever o que vai ocorrer.

“Você fica muito perdida. A previsão no Nepal é de chuva forte. Se está chovendo forte em baixo, pode estar nevando em cima, e aí o helicóptero não consegue subir. São muitas variáveis. É um joguinho em que você tem de estar pensando no que pode acontecer. Eu tento assim, e agora? A gente fica super ansioso”, disse Danubia.