Topo

Pan 2019

Peruano fez, à mão, quase 6 mil estátuas de argila para medalhistas do Pan

Karla Torralba

Em Lima (Peru)

30/07/2019 04h00

Ao assistir aos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019 pela televisão ou pessoalmente, eles não passam desapercebidos. Além dos atletas no pódio carregando a medalha, um bonequinho simpático de braços abertos sorridente chama atenção. De longe você pode não parecer, mas cada bonequinho é único, feitos à mão por uma família de artesãos peruana especialmente para os atletas.

As pequenas estátuas de argila têm grande valor cultural e histórico aos peruanos. Remetem à cultura Chancay, povo que vivia em Lima entre 1200 e 1450. No Pan, elas são mostradas de um jeito mais 'fofinho' do que um dia foram. As imagens antigas eram parte dos funerais - elas são a base, também, do mascote Milco.

A cerca de uma hora dos principais locais de competições, no distrito Huertos de Villa Chorrillos de Lima, sem luxo ou segurança especial, Edwin Huasacca, familiares e poucos funcionários trabalham. A equipe do UOL Esporte foi prontamente atendida e até quando se perdeu na chegada ao endereço Edwin ajudou. O artesão saiu no portão do pequeno corredor que leva a sua cerâmica para acenar de longe.

Cuchimilco - Alexandre Loureiro/COB - Alexandre Loureiro/COB
Os ginastas brasileiro com o cuchimilco de Edwin
Imagem: Alexandre Loureiro/COB
Na entrada, as dezenas de figuras familiares pra quem acompanha o Pan: os cuchimilcos. As estátuas parecem sorrir para quem chega. Há mesas e prateleiras repletas de artesanatos e três artesãs trabalham sem parar. Elas não desviam o olhar de cada detalhe das peças que estão produzindo e dizem um 'bom dia' discreto.

"Eu sou artesão desde os seis anos. Meu pai foi artesão e tenho mais dois irmãos que são [artesãos]. Esse foi o trabalho mais significante que fiz por representar a cultura do Peru e pelos atletas. Fui eu que fiz o trabalho para o concurso e fiquei muito feliz por vencermos", contou Edwin.

A estátua feita pelo artesão foi escolhida pelo Comitê Organizador Local para ser o presente dos atletas. Edwin abre um sorriso ao lembrar que seu trabalho está nos pódios do Pan.

Edwin  - Karla Torralba/UOL - Karla Torralba/UOL
Artesão Edwin pinta cuchimilcos do Pan
Imagem: Karla Torralba/UOL
Na cerâmica, ele conta o passo a passo para fazer cada cuchimilco: argila na forma, esperar 5 horas para secar a forma, forno a 750 °C para dar resistência e a pintura, que fornece os detalhes e o rostinho fofo. Embaixo de um dos pés do cuchimilco, a assinatura não pode faltar: Huasacca. Cada estátua leva quatro dias para ficar pronta.

Foram 5930 miniaturas feitas em 40 dias de trabalhos intensos. Todo mundo ajudou. A família e outros artesãos do bairro trabalharam para dar tempo. Foram 18 horas diárias, com 35 pessoas trabalhando em equipe.

As miniaturas que sobraram não são para venda, mas para os jornalistas que vão visitar Edwin verem o trabalho. Tudo é propriedade dos Jogos Pan-Americanos.

O dia a dia de Edwin Huasacca e a família segue normalmente, apresar da fama que as miniaturas trouxeram. Além do trabalho como artesão e a participação em feiras e campeonatos do seguimento, o projeto de Huasacca vai além dos prêmios que ganha. "Eu tenho outra ambição. No verão, eu ensino crianças de 8 a 12 anos".

Até agora, o artesão só poderá ver o trabalho pela TV. Ele não tem ingressos para as competições e não ganhou bilhetes por ter vencido o concurso público. O Comitê dos Jogos Pan-Americanos explicou que não dá entradas para as competições. A política é que todos apoiem os jogos comprando a própria entrada. Mas avisaram que tentariam contemplar o artesão com "algo especial".