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Campeões do Pan medem fama repentina com Facebook, entrevistas e eventos pós-desembarque

Medalhistas do Pan são homenageados em evento de patrocinador em São Paulo - Paula Almeida/UOL
Medalhistas do Pan são homenageados em evento de patrocinador em São Paulo Imagem: Paula Almeida/UOL

Paula Almeida

Em São Paulo

02/11/2011 07h00

Vida de medalhista pan-americano não é fácil. Antes da conquista, treinos sucessivos, dores e pouco lazer. E depois, na hora de comemorar, compromissos com patrocinadores, entrevistas para a imprensa e eventos locais atrasam os festejos e o descanso merecidos.

Na última terça-feira, 12 atletas que subiram ao pódio no Pan de Guadalajara se reuniram numa loja em São Paulo em evento promovido pela marca Asics, patrocinador comum a todos os esportistas homenageados. Vários deles chegaram direto do aeroporto, com malas enormes, rostos cansados e as medalhas no peito.

“Acho que a gente vai ter mais tempo para comemorar quando a gente chegar em Presidente Prudente. Saímos antes de ontem, ficamos mais de 24h no aeroporto, fizemos uma viagem muito cansativa”, revelou Lucimara Silvestre, campeã do heptatlo.

Além de participarem da homenagem feita pelo patrocinador, quase todos os esportistas ainda têm pela frente eventos em seus clubes e suas cidades. Alguns deles, os que chegaram há mais tempo ao Brasil, já passaram por isso.

Reinaldo Colucci, campeão do triatlo, por exemplo, já teve uma recepção de seu clube, Sesi, em São Carlos e terá outra na cidade-natal, Descalvado-SP. No evento da Asics, o rapaz de sorriso fácil era um dos mais tímidos, mas admitiu a alegria por receber o reconhecimento das pessoas.

"Está sendo muito bacana. A gente só percebe a grandeza de uma conquista dessa quando a gente vê como que muda a visão das pessoas em relação ao esporte”, disse o triatleta. “Meu objetivo não é ser famoso, meu objetivo é ser o melhor atleta que eu posso ser. Se isso vai mudar meu reconhecimento pelas pessoas, ótimo. É isso que eu busco”.

Quem também já sentiu o gosto de recepções calorosas foi a maratonista Adriana da Silva, primeira medalhista de ouro do atletismo em Guadalajara. “No aeroporto, todos os meus amigos do Pinheiros, os atletas que treinam comigo, foram me receber. Na minha cidade [Cruzeiro-SP] todo mundo estava me esperando, me recepcionaram muito bem, fizeram uma festa pra mim, me levaram num carro, fizeram carreata, e eu vi que a cidade inteira acompanhou e ficou feliz com a minha vitória. Foi muito legal poder compartilhar com eles”, detalhou a maratonista.

Mas se o excesso de entrevistas, o reconhecimento nas ruas e os eventos de homenagens já são medidores antigos de repercussão de grandes conquistas, a nova moda é se descobrir famoso pela internet. Adriana, por exemplo, experimentou sua fama repentina ao acessar o Facebook pouco após a prova.

“Depois que eu terminei minha prova, abri meu Face e vi que todo mundo narrava a prova para quem não conseguia acompanhar. Eu fiquei muito emocionada, assustada até, porque eu não sabia que a repercussão e a torcida aqui no Brasil estavam tão grandes assim”, contou a campeã. “Aos poucos eu estou conseguindo entender tudo que aconteceu e com certeza eu fico muito contente com toda essa comemoração”.

Outro que descobriu seu rápido sucesso pelas redes sociais foi Solonei Silva, campeão também na maratona, que recebeu uma enxurrada de convites pelo Facebook após cruzar a linha de chegada.

“Eu lido com a fama como uma questão natural, é só mais um meio de as outras pessoas saberem do seu trabalho, da sua vida, saberem um pouco mais do que você vai fazer no futuro, das suas ambições. Sobre algumas pessoas sentirem, entre aspas, a fama, não saberem lidar, isso eu tenho certeza que, como dizem no popular, ‘não me pega’. Eu sou bem tranquilo a esse respeito, sei que a fama vai, a fama vem, e o que fica mesmo é a pessoa que você é”.

No evento da terça-feira, Solonei era o atleta mais requisitado pelas pessoas para dar entrevistas e autógrafos. A história de vida do maratonista, que era coletor de lixo e virou atleta de alto nível, era o tema mais comentado, encarado por ele com extrema naturalidade.

“Deixa um pouco espantado o 'boom' que causou a minha chegada na maratona, e eu sei também que o pessoal fica tocado por eu ter sido coletor de lixo e hoje estar onde eu estou. Então é uma história de superação, e isso está na alma do brasileiro. Isso pra mim é legal, causa um certo amedrontamento de não saber o que pode vir depois, mas é um medo legal, que você sabe que vem pro bem, e não pro mal”, finalizou.