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'Bolt brasileiro' veio do futsal e se inspira em pista de João do Pulo

Alexsandro Melo usa velocidade como trunfo no salto triplo e no salto em distância - Ricardo Bufolin/CBAt/Divulgação
Alexsandro Melo usa velocidade como trunfo no salto triplo e no salto em distância Imagem: Ricardo Bufolin/CBAt/Divulgação

Rubens Lisboa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/05/2019 04h00

O futebol era a sua paixão até os 12 anos, quando ele era goleiro de futsal, torcia pelo Corinthians e ignorava os avisos de sua prima sobre sua aptidão ao atletismo. Mas tudo mudou quando o garoto viu pela TV os Jogos Olímpicos de Pequim, com o ouro olímpico de Maurren Maggi no salto em distância e o fenômeno jamaicano Usain Bolt.

A euforia levou Alexsandro Melo aceitar o convite da fundista Janaína Nascimento e testar o atletismo. Seu primeiro treinador, Fernando Dotan, o apelidou de Bolt, devido à velocidade e características físicas do paranaense, que optou pela carreira de velocista no início em Londrina, mas depois trocou para os saltos.

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"Assim que o Bolt quebrou o recorde olímpico, eu comecei a treinar e meu técnico me apelidou assim. Eu sou rápido, a minha melhor característica no salto é a velocidade, e com todo mundo me chamando de Bolt, o apelido acabou ficando, mesmo comigo fazendo saltos", explica o atleta de 23 anos.

Ele conseguiu conhecer Usain Bolt em 2015, durante o Campeonato Mundial de atletismo, em Pequim, mas não teve coragem de revelar ao ídolo que é apelidado com o seu nome. "Tive a oportunidade de vê-lo, foi a única vez. Pude ver ele competir e também tirei uma foto com ele, mas não contei, não", lembra o brasileiro, com humor.

Hoje, o 'Bolt brasileiro' se inspira em João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, enquanto treina no estádio da Ponte Grande, em Guarulhos, um dos locais onde treinou durante a carreira o medalhista olímpico e ex-recordista mundial, que teve como melhor marca 17,89 m, que foi viveu na região até sua morte, em 1999.

"Um cara que saltou tudo o que o João saltou... é uma honra eu poder treinar na mesma pista em que ele treinou, correr no mesmo corredor que ele correu, saltar na mesma caixa que ele saltou, isso para mim está sendo incrível", afirma Alexsandro.

Alexsandro trocou Londrina por São Paulo em 2014, quando passou a ser treinado por Neílton Moura em São Caetano do Sul, na equipe B3, que encerrou as atividades em 2018. Com isso ele teve de mudar seu local de treinos para o estádio em Guarulhos, onde também estuda como bolsista de Educação Física na Universidade de Guarulhos, que tem seu técnico como docente.

O salto triplo masculino brasileiro tem seis medalhas olímpicas, sendo duas de ouro, e 13 medalhas pan-americanas, mas não teve um representante nos Jogos Rio-2016 e vive um momento de renovação, com Alexsandro em ascensão ao lado de Almir dos Santos, que foi vice-campeão mundial indoor em 2018.

"É uma honra estar podendo competir bem e representar o Brasil no salto triplo, porque a tradição é muito grande, desde Adhemar Ferreira e Nelson Prudêncio lá atrás, o Jadel Gregório também uma inspiração. O Almir e eu, a gente se sente honrado de poder mostrar o salto triplo para o mundo", afirma o 'Bolt brasileiro'.

O jovem paranaense iniciou bem a temporada 2019 e atingiu no GP Sul-Americano de Cochabamba, na Bolívia, o seu recorde pessoal no salto triplo, com 17,31 m, a segunda melhor marca do mundo no ano, atrás apenas do americano Omar Craddock, 17,68 m. Ele também foi bem no salto em distância no GP Brasil, em Bragança Paulista, com 8,12, a 13ª melhor marca do ano, o que rendeu o segundo lugar na competição brasileira.

Ele revela que um de seus grandes incentivadores no esporte atualmente é o ex-atleta Anísio Silva, medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de Havana-1991 no salto triplo, que teve como melhor marca 17,32 m e por pouco ainda não foi superado por Alexsandro.

"Ele brincou comigo assim que eu saltei falando que agora eu preciso de mais dois centímetros para superar ele. Mandou uma mensagem grande, me inspirando e é uma honra poder tê-lo como amigo e me ajudando nesse momento".

Com objetivo de atingir o índice para os Jogos Olímpicos de Tóquio, Alexsandro já obteve a marca para o Pan de Lima e também para o Campeonato Mundial de Doha. E para amenizar a pressão na busca dos resultados, troca às vezes o atletismo pelo basquete jogando vídeo-game ou assistindo os Playoffs da NBA. "Sou fã do Stephen Curry, me inspiro nele também em como treina, como é dedicado", explica o Bolt das provas de salto.